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Para se construir uma cidade, é necessário muito concreto. Casas, ruas e edifícios dão forma a qualquer polis, no entanto, nenhuma localidade seria completa sem a presença de pessoas. São elas que, de fato, constroem o lugar, através de suas histórias, sonhos, lutas e memórias. Muitas vezes, talvez em sua maioria, gente comum, como por exemplo, Dona Valdira, vendedora ambulante, e o artesão Paulo Cesar, mais conhecido como Rasta de Olinda. 

Como o apelido do último já entrega, esses são alguns entre os mais de 390 mil moradores (segundo dados do IBGE) da histórica Olinda. Cidade irmã da capital pernambucana (Recife), conhecida pelos títulos de Patrimônio Histórico e  Cultural da Humanidade (Unesco - 1982) e primeira Capital Brasileira da Cultura (CBC - 2005); sem falar, é claro, no Carnaval, quando aos milhares de moradores somam-se milhões de foliões de todo o mundo. 

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Atento a todo esse movimento de convivência, um morador da cidade resolveu ampliar os limites das janelas de sua residência com a ajuda das ondas da internet. Jornalista de formação, Leokarcio Cavalcanti, o Leo, assumiu a missão de anfitrião e através do perfil @anfitriaodeolinda tem compartilhado com o mundo um pouco de como é morar no lugar onde tantos vão para se divertir e 'turistar'.

A página parece mesmo uma extensão da janela da casa de Leo. Os posts trazem um pouco da paisagem do Sítio Histórico olindense, com seu casario colorido e ruas de paralelepído; e também o movimento dos ambulantes que trafegam pelo bairro, os sons das procissões que por ali passam, das orquestras que ensaiam próximo, e até mesmo o da chuva quando molha a cidade. 

Em entrevista ao LeiaJá, o Anfitrião de Olinda conta que a ideia de criar o perfil veio da vontade “de mostrar a cidade a partir do olhar do morador”. O trabalho começou no período pré-carnavalesco de 2020 e, de lá para cá, com uma pandemia no meio,  já conquistou quase 10 mil seguidores, só no Instagram, com belas imagens, histórias e até prestação de serviços - essa muitas vezes feita a pedido dos seguidores e de forma não publicizada. 

Todo o conteúdo é produzido pelo próprio Leo, sem qualquer tipo de patrocínio, e contando apenas com a ajuda de quem “estiver por perto”. “Às vezes é painho que sobe na Sé comigo e me auxilia. Sempre que eu vou gravar na casa de alguém eu peço pra um vizinho segurar a câmera, sempre conto com a ajuda de quem tá na hora”, conta.

Assim, o conteúdo vai saindo de forma orgânica, bem ao sabor do ritmo no qual a vida acontece na cidade e com a amistosa colaboração da vizinhança. Os vizinhos, aliás, são o carro-chefe do perfil. Leo gosta mesmo é de contar suas histórias e, através delas, acaba ilustrando temas sensíveis e urgentes, muitas vezes entrelaçados à suas lutas e vivências. 

Foi o que aconteceu com a entrevista de Dona Valdira, a vendedora mencionada no início desta matéria. "(Ela) é um personagem real, que faz parte da nossa sociedade, que tá dentro da margem de esquecimento mas, por trás tem todo um exemplo vivo de uma estrutura social que preserva ainda o racismo, a desigualdade, tudo isso se faz muito presente e a gente não percebe. Eu não quero levantar bandeiras, nada que influencie na opinião, quero que nos relatos, por si só, as pessoas compreendam a mensagem e tirem suas próprias conclusões".

Assim como Dona Valdira, outros tantos personagens olindenses já passaram pela janela do Anfitrião, sempre dividindo espaço com algum evento cotidiano, de forma um tanto despretensiosa e até pouco ou nada planejada. O objetivo é emprestar ao seguidor o olhar de quem vive na cidade, desmistificando e humanizando suas edificações  históricas. "Sem pessoas, não existe vida. A partir do momento que eu tenho só fotos de uma cidade, eu não tenho muito o que falar", diz Leo.

A paixão por Olinda faz o jornalista encontrar poesia desde o badalar de sinos da igreja próxima à sua casa até à ‘danação' carnavalesca que irrompe com a multidão. "As pessoas quando vêm de fora elas precisam de um motivo para chegar aqui, se encontrar em algum ponto (...) Como a gente já mora aqui, talvez o maior evento do dia seja às vezes ir na padaria comprar um pão, ir ali comprar um sorvete, fazer as coisas do dia a dia mesmo", brinca.

Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, Leo não é natural da cidade. Nascido em Timbaúba, no interior de Pernambuco, ele já morou em diferentes municípios do Estado e até na capital, o Recife. O flerte com a Marim dos Caetés começou ainda na infância, quando ele era apenas visitante no lugar. 

A reunião dos dois deu-se, de fato, há 12 anos e, se depender dele, não haverá mais mudanças de CEP em sua vida. "Olinda passou uma época pouco valorizada, muitas pessoas que nasceram aqui a abandonaram, se eu tivesse nascido aqui naquela época talvez eu não tivesse essa visão, talvez eu também teria ido embora". Ouvindo o Anfitrião falar assim, a impressão é a de que o destino o fez nascer fora de Olinda só para que ele pudesse 'voltar' e se encontrar nela. Uma verdadeira prova de que ser olindense independe do local de nascimento, é coisa mesmo de "alma". 

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O gosto de mostrar sua cidade move Leo e ele quer abrir ainda mais as janelas da sua 'casa'. Para o futuro próximo do Anfitrião de Olinda, o jornalista planeja conteúdos sobre temas como gastronomia e religiões. Além disso, a perspectiva da realização do Carnaval em 2023 o faz pensar em mostrar o que há por trás de uma das festas mais badaladas do país, sobretudo seus fazedores. O objetivo é sempre oferecer a "experiência de morador" ao visitante, valorizando a cidade e seus habitantes, para que aqueles que estão longe possam, também, compreender a riqueza que só quem é local consegue perceber. 

Fotos: Júlio Gomes/LeiaJáImagens



 

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