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Uma história de amor passada por várias gerações no carnaval do Recife. Assim é possível definir a paixão dos foliões nos desfiles dos frevos de bloco de pau e corda. É que eles “vêm à cidade sua fama mostrar e trazem* com seu pessoal, seu estandarte tão original”, como descreve uma das mais conhecidas letras do compositor pernambucano Capiba, Madeira que Cupim Não Rói.Carregam, desde 1920, um legado que mudou a história dos blocos que já existiam até a época. Adaptaram o frevo a uma nova modalidade, num ritmo mais lento, intitulado de pau e corda que “não vem pra fazer barulho, vem só dizer e com satisfação [...] que o bloco é, de fato, campeão”. Para falar mais afundo acerca deste assunto, convidamos a historiadora e pesquisadora da Secretaria de Cultura do Recife (Secult), Carmem Lelis. Confira! Um Bloco Carnavalesco Misto Oriundo da capoeira, o frevo chega a Pernambuco no fim do século XIX, nas modalidades de frevo de rua e de bloco. É, inicialmente, representado por homens capoeiristas que brincam com passos enquanto usam performances de lutas nos desfiles.  Segundo Carmem, este cenário muda com a chegada de uma nova proposta de marcha de carnaval que revoluciona e agrega ambos os gêneros: o Bloco Carnavalesco Misto (BCM). Ele surge nos bairros centrais do Recife, a partir de famílias de classe média e comerciantes, dentro do processo de urbanização - após a escravidão, diante da crescente vontade de brincar o carnaval. O frevo abre espaço para as mulheres  A presença marcante das mulheres no frevo ganha destaque nesse tipo de agremiação. Carmem explica que nos frevos acelerados apenas as mulheres de valor duvidoso para a sociedade e destemidas é que participavam do cortejo. “Com o frevo de bloco, as mulheres de classe média passam a participar com seus familiares (maridos, pais, irmãos) e ganham destaque na agremiação com a formação dos corais”, explica. Durante o desfile, são ainda protegidas pelos homens que ficam ao redor dos cordões acompanhando o trajeto. Carmem ressalta ainda que outro destaque do gênero feminino nos blocos de pau e corda se dá com o carregamento do flabelo, um abre-alas que se assemelha ao estandarte, de estrutura mais leve e erguido apenas pelas damas. O lirismo dos instrumentos num frevo de pau e corda  Diferentes da explosão do frevo de rua, Lelis explica que o frevo de bloco tem sua singularidade. Sua formação parte desde os corais de mulheres semelhantes a grupos de pastoris aos homens que as seguem atrás tocando instrumentos de pau e corda, como banjo, violão, cavaquinho, bandolim, pandeiro e instrumentos de percussão. As fantasias também são detalhes importantes do grupo e mudam anualmente, com temáticas que fazem menção tanto ao passado, no períodos de ibéricos, quanto aos tempos atuais.  Ela salienta que, inicialmente, a proposta desse gênero não vem com nenhuma musicalidade ligada ao frevo. O coral feminino canta com estrutura musical diferente do clube e sem a malta de capoeiras explosivas. Tratavam do lirismo, com melodias muito mais suaves. “Com a ascendência do movimento do frevo nas ruas, houve a necessidade de criar uma versão de frevo diferenciada, que não é o da rua e não tem a base do passo, nem é explosivo. Mas sim o frevo de bloco que é um tipo de marcha carnavalesca, menos acelerada, com o caráter melódico próprio e muito mais ameno”, enfatiza a pesquisadora. A canção lírica  O nome lírico pode ser classificado em quaisquer gêneros de Blocos Carnavalescos Mistos. No entanto, Carmem explica que as pessoas associam a palavra aos blocos de pau e corda, devido à marcha menos acelerada de caráter melódico próprio, com letra lírica que trata das belezas do Recife, da saudade, dos amores, do carnaval saudosista.  A melodia que surge com o frevo de bloco são o fado, marchinhas e canções. Com a ascendência do movimento do passo nas ruas, houve a necessidade de criar uma versão de frevo diferenciada, que não é o da rua e não tem a base do passo, nem é explosivo. “Se você pegar uma letra de um desses blocos vai notar que a grande maioria fala dessa relação de saudade dos compositores que já morreram, do lirismo em si, poesia, beleza da cidade, da nostalgia de quando acaba o carnaval, dos pierrôs, etc. Ou seja, tem uma relação suavizada e romântica”, endossa. Tradição é “madeira de lei que cupim não rói”  Depois da fundação do Bloco da Saudade, em 1974, outras agremiações foram criadas e denominadas Blocos Independentes ou Blocos Líricos. Essa tradição segue até hoje e, ainda segundo Carmem, é uma paixão passada hierarquicamente entre famílias, que também conquistam jovens e adultos dos tempos atuais. Atualmente, cerca de 40 grupos são formados e atuam no carnaval pernambucano. Entre eles estão: Bloco das Flores, Batutas de São José, Banhistas do Pina, Bloco das Ilusões, Flor da Lira de Olinda, Menestrais do Paulista, Amantes das Flores de Camaragibe, Flor do Eucalipto de Moreno, Cordas e Retalhos e vários outros. Os compositores das letras do frevo de bloco também são referências em cada geração. Destacam-se os irmãos Raul e Edgar Moraes, Getúlio Cavalcante, João Santiago, Romero Amorim, Nelson Ferreira, Capiba, Luiz Faustino, Fátima de Castro, Cláudio Almeida e muito outros.  Por Rebeca Ângelis

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O Projeto Alegres Bandos reuniu na tarde deste sábado (12), cerca de 15 blocos Liricos carnavalescos no Patio do Parque Dona Lindu, na Zona Sul do Recife. A iniciativa do cantor Glaudionor Germano está no seu segundo carnaval e esse ano vem homenagiando os blocos O Bonde, Bloco Cordas e Retalhos e Bloco das Ilusões.

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Apesar da chuva no começo da tarde, os foliões continuavam a chegar e se abrigavam de baixo das coberturas do Teatro Luiz Mendonça. A folia Elizabete Almeida afirma que a chuva não atrapalhou a apresentação. “A água só fez animar o pessoal”, conta.

As agremiações homenageadas desfilaram uma por uma puxando os frevos que eram acompanhados por Beto do Bandolim e Banda.

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