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Defendida pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), como uma das formas para ajudar no combate à violência no País, a redução da maioria penal para 16 ou 17 anos poderá ter impacto reduzido se colocada em prática hoje, avaliam especialistas. Na capital paulista, por exemplo, o índice de atos considerados hediondos e cometidos por adolescentes nessa faixa etária representa só 2% do total.

Relatório do Departamento da Infância e da Juventude da Capital (Deij), ligado ao Ministério Público de São Paulo, mostra que adolescentes com mais de 16 anos foram responsáveis por 10.478 crimes penalmente inimputáveis registrados na cidade no período de três anos - agosto de 2014 a agosto de 2017 -, ou 70% do total de 14.829. Apesar de representarem a maioria nessa estatística, é mínima a natureza hedionda de suas contravenções. Roubo lidera o ranking.

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Foram 227 atos infracionais classificados como hediondos no período pesquisado e que geraram as mais variadas medidas socioeducativas, como internação em regime fechado, liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade. Desse universo, latrocínio (roubo seguido de morte) responde por 1,2%, homicídio qualificado, por 0,4%, estupro, por 0,3%, e extorsão qualificada, por 0,1%. A Promotoria não tem dados apenas de adolescentes com 17 anos e não existe um estudo nacional a respeito.

"Estamos falando de jovens que, em sua maioria, são pobres. O poder público precisa entrar na vida deles antes, oferecendo ferramentas para seu desenvolvimento, e não depois, quando acontece um crime. Essa ação tardia inclusive gera mais custos para os cofres públicos. Nem a lógica econômica faz sentido quando falamos em reduzir maioridade penal", diz a professora de Direito Penal e Criminologia da Universidade de Brasília (UnB) Beatriz Vargas, para quem os casos deveriam ser analisados isoladamente sob a lógica de que aqueles mais graves sejam tratados como exceção, não regra.

Dados elaborados pela Secretaria Estadual da Administração Penitenciária mostram que a internação de um adolescente na Fundação Casa custa até oito vezes mais que a de um adulto em São Paulo.

Tráfico

O porcentual de jovens envolvidos nas estatísticas de crimes poderia aumentar até dez vezes, se casos de tráfico de drogas, que representam 23,7% das infrações cometidos por quem tem 16 ou 17 anos, também fossem contabilizados nesse índice. Há uma discussão jurídica sobre como tratar esse tipo de contravenção, apesar de a Constituição classificar o tráfico como equivalente a hediondo e equiparado.

Para o promotor de Justiça da Infância e Juventude Tiago de Toledo Rodrigues, que reconhece haver discordância no conceito, excluir o tráfico dessa lista poderia ser considerado inconstitucional. O estudo realizado por ele e por outros promotores do Deij chegou a 2.486 casos de venda de drogas entre 2014 e 2017 (mais informações nesta página).

O entendimento de 2016 do Supremo Tribunal Federal é de que a classificação não pode ser automática em função das diferentes características que envolvem o ilícito, como quantidade de entorpecente apreendida e participação ou não em organização criminosa. De acordo com a situação, o tráfico pode ser classificado como "privilegiado" quando o autor é primário, por exemplo.

Câmara

O futuro governo pretende enviar proposta ou pressionar para que as que tramitam no Congresso sejam aprovadas. A Câmara já aprovou, em duas votações, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que reduz a maioridade para 16 anos, mas o Senado não deu andamento à matéria, parada desde o ano passado.

A deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) é defensora da redução da maioridade penal. Para ela, quem comete um crime deve ser tratado "com rigor", independentemente da idade. "Para mim, é inconcebível que um jovem que tenha 17 anos e 364 dias tenha tratamento diferente daquele que tem 18 anos completos. Hoje, se um bandido menor de idade estupra, tortura e mata, ele terá um castigo mais ameno e ainda por cima sai com a ficha limpa, pronto para delinquir de novo", afirma Joice.

A deputada também defende penas mais duras para condenados acima dos 18 anos, com reavaliação das "saidinhas" e visitas íntimas em casos de crimes hediondos. "O crime não pode compensar."

PEC parada

Atualmente existe Proposta de Emenda à Constituição (PEC 33/2012) que estabelece a redução da maioridade penal para jovens de 18 para 16 anos. O projeto passou por audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado em outubro passado e está parado. O texto reduz a maioridade nos casos em que menores infratores cometem os crimes hediondos listados na Lei 8.072/1990, como latrocínio e homicídio doloso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Citado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), como um dos países modelo de legislação pró-armas, os Estados Unidos registram duas vezes mais mortes de crianças nos Estados com leis que facilitam o porte de armamentos. A conclusão é de um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Stanford e que será apresentado na próxima segunda-feira na conferência anual da Associação Americana de Pediatria, em Orlando.

Para avaliar o impacto da legislação armamentista na morte de crianças e adolescentes americanos, os pesquisadores levantaram o número anual de óbitos por disparo de arma de fogo nessa faixa etária e o cruzaram com o chamado índice Brady, que mede o grau de restrição das legislações estaduais referentes a armamentos - nos EUA, diferentemente do Brasil, cada uma das 50 unidades da federação têm autonomia para aprovar suas próprias leis sobre esse e outros temas.

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Os pesquisadores verificaram que, anualmente, cerca de 2,7 mil crianças ou adolescentes morrem no país vítimas de disparos de arma de fogo. Fazendo ajustes estatísticos para corrigir discrepâncias de renda, emprego e escolaridade, os cientistas concluíram que, nos Estados onde a legislação de armas é mais branda, morrem o dobro de crianças em comparação ao número de óbitos nos Estados onde as leis são mais restritivas.

Para efeito de comparação, cerca de 9 mil crianças e adolescentes morrem no Brasil por ano vítimas de armas de fogo, número que, segundo pesquisadores da área, poderia ser ainda maior se as políticas de desarmamento fossem suspensas no País. No Atlas da Violência 2018, os analistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) atribuem ao Estatuto do Desarmamento (em vigência desde 2003) a interrupção "da corrida armamentista que estava impulsionando mortes violentas no País".

Outros resultados

Os pesquisadores americanos verificaram ainda, em outro estudo, que o número de crianças hospitalizadas por ferimentos provocados por armas de fogo também é maior nos Estados com normas mais permissivas em relação às armas.

"Lesões por armas de fogo são a segunda maior causa de morte de crianças nos Estados Unidos, mas encontramos uma clara discrepância sobre onde essas mortes ocorrem, o que corresponde à força das legislações estaduais de armas. Em Estados com leis mais brandas, crianças morrem em taxas alarmantemente maiores", declarou, em nota, Stephanie Chao, professora de cirurgia pediátrica de Stanford e uma das autoras do estudo.

"Mais crianças morrem de ferimentos relacionados a armas de fogo do que de câncer e doenças cardíacas. Cada uma dessas mortes poderia ser evitada. Nosso estudo demonstra que a legislação estadual impede que as crianças morram por armas", completou a pesquisadora.

No estudo, os pesquisadores ressaltam que, do total de mortes de crianças e adolescentes registradas no país por essa causa, 62,1% foram classificadas como homicídios e 31,4%, como suicídios.

Polêmica

A legislação pró-armas de alguns Estados americanos já foi alvo de críticas de autoridades políticas, como o ex-presidente Barack Obama, e entidades de direitos humanos. A polêmica ganha força a cada episódio de massacre registrado naquele país. No mais recente ataque, registrado no último dia 27, um atirador matou 11 pessoas em uma sinagoga em Pittsburgh. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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