Tópicos | Maria Leticia Monteiro Cavalcanti

Uma das gratas surpresas desta edição da Fliporto é descobrir nuances próprias da obra de Gilberto Freyre, o homenageado do evento. Entre elas, a forte presença dos gostos e sabores em seu texto, fórmula que o sociólogo e o cidadão Gilberto não deixava escapar em seu cotidiano criativo e literário.

Como um bom sociólogo, Freyre entendia a importância da instância cultural para a retratação de uma sociedade. “Ele foi um dos pioneiros em perceber que a alimentação diz muito sobre a constituição de um povo. Inclusive, considerava o cozinheiro tão artista quanto um pintor ou um músico”, revelou Maria Leticia Monteiro Cavalcanti, uma das maiores especialistas na culinária brasileira e pernambucana, que esteve presente na mesa “Os textos sobre sabores e o sabor dos textos de Gilberto Freyre”, junto a CLaudio Aguiar, Kthrin Rosenfield com mediação de Valéria Torres da Costa e Silva.

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Em um processo literário que se pode dizer sinestésico, Freyre associava o tão necessário elemento do pão como a casa do brasileiro, ou até mesmo o pirão como o elemento de glória desse povo, em textos como “Razões do paladar”, “Pirão, a glória do brasileiro” e “Tradição da cozinha de Pernambuco”, artigos que escrevia durante morada nos Estados Unidos para o jornal Diario de Pernmabuco.

AÇÚCAR – Os doces também eram bastante retratados em seus escritos e em seu paladar, e sua especialidade, o conhaque de pitanga, era servido sem cerimônia para seus convidados na casa em que hoje funciona sua Fundação, em Apipucus, Zona Norte do Recife. “Ele costumava fazer suas refeições em torno da mesa de madeira jacarandá, na sala de jantar, sempre acompanhado por alguém. Dizia que este era o ambiente onde se podia enxergar a perfeita representação do senhor de engenho – o primeiro a ser servido, com o melhor pedaço da comida, na cabeceira da mesa”, revelou Maria Leticia.

“Sem açúcar não se compreende o homeme do Nordeste”, dizia Freyre. “Ele foi pioneiro em reconhecer igual importância nas diferentes raças que constituem o povo brasileiro: indígenas, negros e portugueses. Quando Pernambuco passa a se princial exportador de açúcar no século 17, só se comprova a visão de Gilberto sobre este elemento trazido pelos portugueses, tão imprescindível ao paladar nordestino”, acrescentou a especialista.

Seu livro “Açúcar”, escrito em 1939, diz em seu trecho que em uma " velha receita de doce ou de bolo há uma vida, uma constância, uma capacidade de vir vencendo o tempo sem vir transigindo com as modas". A cada dia de Fliporto, expandimos s horizontes em relação ao fazer literário e a obra do homenageado.

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