A segunda audiência do processo que apura o atropelamento que causou a morte da menina Grazielly, de 3 anos, por uma moto aquática em Bertioga, litoral de São Paulo, acidente ocorrido em 18 de fevereiro, terminou com contradições. Durante a sessão, realizada na tarde de quinta-feira, o caseiro Erivaldo Francisco de Moura foi ouvido e acabou acusado de falso testemunho após três horas de depoimento.
De acordo com o juiz responsável pelo processo, Rodrigo de Moura Jacob, o objetivo da audiência, que era ouvir as testemunhas, foi cumprido. A mulher do caseiro também deveria ter falado, mas teve seu depoimento reivindicado pelo advogado Francisco Assis Henrique Neto Rocha, que defende o empresário José Cardoso, proprietário da moto aquática. Segundo ele, o depoimento tornou-se dispensável ao longo da audiência.
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De acordo com o juiz, durante a sessão o advogado da família de Grazielly, José Beraldo, entendeu que o caseiro mentiu. O caseiro teria afirmado, em primeiros depoimentos, que não pilotava a moto aquática por ser cardíaco. Durante a sessão de quinta-feira ele teria afirmado pilotar o equipamento semanalmente. Beraldo ainda apontou que o caseiro negou ter colocado o equipamento no mar, ação que os dois menores - acusados de estarem no comando do veículo - não poderiam ter concluído sozinhos, de acordo com o processo.
O juiz Jacob explicou que o advogado da família de Grazielly pode solicitar à delegacia que investiga o caso a abertura de um inquérito sobre o crime de falso testemunho. Porém, só depois de apontar quais foram as afirmações falsas.
O advogado que defende o proprietário da moto aquática confirmou que a defesa da família pediu cópias do documento e que chegou a apontar falhas no depoimento do caseiro. Mas nega que houve falso testemunho. "Foram cinco páginas de depoimento, o Erivaldo falou durante três horas e detalhou todo o ocorrido na data, o juiz entendeu que o depoimento foi suficiente para o processo. Tudo ficou esclarecido", afirmou Rocha.
A terceira audiência está marcada para 11 de outubro, quando um dos peritos que avaliaram a moto aquática após o acidente deve ser ouvido como testemunha. A primeira audiência do caso aconteceu em 22 de agosto e teve o depoimento da mãe de Grazielly, Cirleide Rodrigues Lamês.
Lembrando o caso
A menina foi atingida por uma moto aquática desgovernada quando brincava na praia de Guaratuba, em um sábado de Carnaval - era a primeira vez que ela visitava uma praia. Um adolescente de 13 anos conduzia o equipamento quando perdeu o controle do veículo. Ele e outro menor que o acompanhava na garupa poderão responder a uma medida socioeducativa.
Após perícia do Instituto de Criminalística, a polícia indiciou por homicídio culposo (sem intenção de matar) o dono do equipamento, o padrinho do adolescente (que deu a partida), o caseiro da residência (que teria ajudado o jovem a levar o veículo até a praia), o dono da marina onde a moto aquática estava abrigada e um mecânico. A manutenção incorreta no equipamento teria causado uma aceleração súbita antes de o veículo atingir Grazielly, já sem ninguém na condução.