Tópicos | Padre Antônio Henrique

Torturado e assassinado durante a ditadura militar, o padre Antônio Henrique recebe homenagens na próxima terça-feira (28). Desta vez, a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara e a Prefeitura do Recife inauguram, às 15h, um busto do religioso na Praça do Parnamirim, na Zona Norte do Recife. A praça teria sido o último lugar em que o padre foi visto com vida em maio de 1969.

De acordo com a Comissão da Verdade, o ato faz parte da estratégia do grupo de “preservar a memória de fatos históricos ocorridos durante o período ditatorial”. O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB); o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido; o secretário de Direitos Humanos da PCR, Paulo Moraes; e a irmã do Padre Henrique, Izaíras Pereira são esperados para a inauguração. 

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História  

Padre Antônio Henrique Pereira Neto foi ordenado sacerdote, no dia 25 de dezembro de 1965, aos 25 anos de idade, pelo então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Logo após a ordenação foi convidado para assessorar Dom Helder e trabalhar na Pastoral da Juventude, sendo orientador espiritual de jovens universitários e secundaristas. Ele esteve ao lado do então arcebispo durante os embates travados pela igreja contra o regime militar. 

Em 25 de maio de 1969, Padre Henrique foi encontrado morto em um terreno baldio no Recife. De acordo com o laudo da época, a morte foi ocasionada por um crime comum, supostamente cometido por toxicômanos, sem motivação política. Já segundo apurações da Comissão da Verdade “o assassinato do Padre Antônio Henrique foi, eminentemente, um crime político”.

Os membros da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara ouviram, na manhã desta quinta-feira (22), na Secretaria de Direitos Humanos (bairro da Madalena-Recife), o aposentado Rogério Matos, 69 anos, em discurso referente ao caso do Padre Antônio Henrique. Durante duas horas e meia, Matos respondeu aos questionamentos dos integrantes da Comissão e negou a participação na morte do religioso. “Era uma pessoa de paz. Foi um ato perverso. Considero este crime político um ato de covardia”, contou.

Sem querer citar nomes, o aposentado, que chegou a ser preso suspeito de envolvimento no homicídio, afirmou que não sabia quem eram os verdadeiros autores do assassinato, mas, inicialmente, suspeitava de dois policiais. “Ouvi muitos comentários de que Padre Henrique foi morto por membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e até agentes da CIA (Central Intelligence Agency – agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos). Não conheci o CCC. Apenas ouvi falar do movimento. Era uma organização criminosa, secreta, havia o anonimato dos membros”, declarou.

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Esta seria uma sessão reservada, a pedido do próprio depoente. Mas minutos antes de começar a depor, Rogério Matos concordou que a imprensa acompanhasse os trabalhos, porém não permitiu a liberação de imagens.

Matos também foi questionado sobre a relação com Eronildes Cavalcanti Ribeiro (preso e condenado pelo assassinato do procurador Pedro Jorge), uma vez que esta proximidade aparece nos autos do processo referente ao assassinato do padre Henrique. “O conheci na prisão. E foi ele quem apontou o empresário do setor agropecuário, Roberto Souza Leão, como sendo a pessoa que matou o religioso. Este homem tinha muito prestígio. Andava escoltado por seis policiais. Tinha muitas terras”. O depoente também negou que atuou como informante da segunda sessão.

“Ele nega tudo. Para nós, o importante é recompor os fatos. Resgatar a história como ela aconteceu. Claro que seria fundamental descobrirmos os autores materiais deste bárbaro crime. Mas não temos dúvidas de que eles estavam dentro da antiga SSP. A morte do padre Henrique foi um crime político. A sociedade sabe disso. Rogério Matos estava no centro do furacão e tem o direito de negar, mas nós vamos continuar investigando”, disse o relator e membro da Comissão, Pedro Eurico.

Já o presidente da OAB-PE e secretário geral da comissão, Henrique Mariano, explicou que a missão dessas audiências é analisar o nexo de causalidade com outros fatos e estudar como funcionava a estrutura de repressão e organizações paraestatais. “A comissão não tem poder judicante. Houve o trânsito em julgado da sentença e Matos foi inocentado por falta de provas. Estamos aqui para reconstruir a história”, reforçou Mariano.

Rogério Matos tinha 26 anos, era estudante universitário de Economia, quando foi denunciado e preso pela morte de Padre Henrique. A defesa entrou com recurso contra a sentença de pronúncia que o levava ao Tribunal do Júri. Durante quatro anos e três meses, Matos permaneceu na Casa de Detenção (hoje Casa da Cultura) até que por 2 X 1 o Tribunal de Justiça despronunciou o réu. Matos foi posto em liberdade, com sentença transitado em julgado, portanto absolvido das acusações.

Padre Henrique – Em 1969, ele foi torturado e morto a tiros. Tinha apenas 29 anos. O corpo foi encontrado em um terreno baldio, na Cidade Universitária. Havia tiros na cabeça, cordas no pescoço e facadas.  Na época, era auxiliar do então arcebispo Dom Hélder Câmara, um dos nomes mais expressivos da Igreja Católica. Em 1986, o caso foi arquivado por falta de provas.

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