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"As coisas que esse senhor diz não representam os latinos. Que construa os muros que quiser, não temos medo", diz, enérgico, Roberto Centeno sobre a controversa iniciativa do pré-candidato republicano Donald Trump para frear a imigração ilegal nos Estados Unidos.

"Quando chegar a hora da verdade, lhe fecharão as portas da Casa Branca. Este país é mais sensato do que ele", declara à AFP este jovem mexicano que trabalha como técnico de informática no centro de Los Angeles (oeste).

Centeno não perderá por nada a participação de Trump durante o segundo debate pelas primárias republicanas, que começará nesta quarta-feira às 17H00 locais (21H00 de Brasília) na Biblioteca e Museu Presidencial Ronald Reagan, situada na cidade californiana de Simi Valley.

O magnata e homem de negócios ofendeu a comunidade hispânica ao anunciar que expulsará todas as pessoas sem documentos e ao classificar os mexicanos que chegam os Estados Unidos de forma ilegal de narcotraficantes, criminosos e estupradores.

Além disso, quer construir um muro ao longo da fronteira com o México que blinde os americanos de sua chegada.

Apesar das críticas recebidas, suas ideias o empurraram a liderar as pesquisas republicanas, à frente de candidatos como Jeb Bush, Marco Rubio e Ted Cruz.

"Trump se esquece de nosso poder. Aqui na Califórnia somos maioria. Ninguém pode nos ignorar", declara Alfredo Rincón, técnico de informática mexicano.

Os últimos dados do censo de junho confirmaram que esta região do oeste do país se tornou o primeiro estado de maioria hispânica, com 14,99 milhões de latinos frente a 14,92 milhões de brancos.

Calcula-se que um terço não tem documentos legais e que 2,2 milhões são residentes permanentes que podem solicitar a cidadania americana.

Os hispânicos também são a primeira minoria em todo o país com 55 milhões de pessoas e cruciais para impulsionar a economia, ainda que por enquanto apenas 11 milhões possam votar.

A solução está nas urnas

O mal-estar dos latinos com Trump tem sido sentido principalmente nos meios de comunicação em espanhol, como as redes de televisão Univisión e Telemundo, e as organizações humanitárias.

Artistas como os cantores Ricky Martin, Shakira e Marc Anthony também levantaram sua voz para dizer "basta" aos discursos anti-mexicano e anti-imigrante do empresário.

Na opinião de Enrique Cisneros, pedreiro guatemalteco de 57 anos, pouco podem fazer os cidadãos agora para frear a popularidade do magnata.

"Este senhor sai na televisão e diz qualquer coisa. Mas nosso momento chegará na hora de votar", assegura, enquanto toca suas castigadas mãos de tanto misturar cimento. Seus "ataques" se neutralizam elegendo "um presidente que pense na comunidade", afirmou.

Sua esposa, Guadalupe, que trabalha como camareira em um hotel, afirma contudo que o presidente Barack Obama tem parte de culpa porque não cumpriu sua promessa de aprovar uma nova reforma migratória.

"Demos a ele oito anos para que o fizesse", referindo-se aos dois mandatos de quatro anos para os quais foi eleito. "Irá embora e nada terá mudado", lamenta.

Obama aprovou em novembro passado várias medidas por decreto diante da falta de ação do Congresso, mas um juiz do Texas (sul) as congelou ao colocar em dúvida sua constitucionalidade.

Enquanto se aproxima o momento de ir às urnas, em novembro de 2016, as organizações a favor dos direitos dos latinos prometeram se tornar o pior pesadelo de Trump ao longo da campanha presidencial.

Várias associações mobilizaram nesta quarta-feira cerca de 400 pessoas para protestar frente à Biblioteca Ronald Reagan antes do início do debate.

O que Trump quer "é retroceder, a um país que tolerava o racismo e a discriminação", manifestou em uma coletiva de imprensa antes de partir para Simi Valley a presidente da Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes de Los Angeles (CHIRLA), na sigla em inglês, Angélica Salas.

A diretora do grupo United Here, Maria Elena Durazo, foi mais longe: "Agora não me preocupo em ter um presidente com o qual eu não esteja de acordo, me preocupa ter um presidente que me odeia".

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