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Cenário escolhido para fotos e alvo de elogios das crianças que visitam o local, uma casa localizada no bairro de Água Fria, na zona norte da capital pernambucana, vem chamando atenção das pessoas devido a sua decoração natalina. Quem passa pela Rua Alto do Guilhermino fica encantado com a ornamentação feita pela fisioterapeuta Ana Paula, de 45 anos, proprietária da residência. Ela, além de adereçar a fachada da sua casa, também promove, todos os anos, uma festa para as crianças que residem na comunidade.

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Decoração natalina. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Com materiais reciclados, objetos doados e peças artesanais, Ana Paula faz a decoração há oito anos. Devido a sua criatividade, ela já conquistou duas premiações cedidas por um concurso natalino que era organizado pela Prefeitura do Recife, no qual eram escolhidas as melhores residências com a temática da festa.

“Já ganhei duas vezes o extinto concurso de Natal da prefeitura. Todos os moradores do bairro sabem que faço a minha decoração, aqui na periferia, para as crianças que não têm condições de visitarem as decorações dos shoppings e das ruas do Centro do Recife. Acredito que a prefeitura da nossa cidade deveria voltar com a competição, assim como também, deveria olhar com mais carinho para os bairros carentes e saber que os moradores daqui também merecem ter suas comunidades enfeitadas com o brilho do Natal. Acho injusto gastarem milhões com ruas de bairros ricos e esquecerem as nossas”, diz a moradora, ao se mostrar insatisfeita com a atual gestão municipal que não realiza o concurso natalino desde 2021.

Mesmo sem a ajuda da prefeitura e com poucos recursos financeiros, Ana Paula não deixa de criar estratégias para continuar fazendo a ornamentação da sua casa e a festa de Natal da rua, que é realizada com a ajuda dos vizinhos e conta com a presença de artistas e grupos musicais pernambucanos.

Marcada para ser realizada na próxima quinta-feira (28), a celebração natalina da Rua Alto Guilhermino é vista pela moradora como uma “oportunidade de se praticar a solidariedade”, pois, segundo ela, “ao mesmo tempo em que as crianças assistem as apresentações dos artistas que comparecem na festa, elas recebem brinquedos que são adquiridos através das doações”.

“Muitas pessoas de todo o estado doam. A sala da minha casa fica cheia de presentes. Isso me deixa muito feliz, pois mostra como o trabalho de solidariedade que proponho a fazer está dando certo e chamando a atenção de outras pessoas”, afirma.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Alegria que atravessa gerações

Ana Paula diz que a criatividade para planejar a decoração da sua residência foi adquirida através da sua família, que é “amante da cultura popular”. Por meio de lembranças do passado e fotografias guardadas, ela revela que participa há 28 anos do Baile Municipal do Recife e que, através dos concursos realizados no evento, tanto ela como os seus familiares já ganharam algumas categorias que analisam as melhores fantasias carnavalescas.

“Minha família desfila na Gigante do Samba [escola de samba de Recife]. Vivo a cultura desde pequena e por isso marco a minha presença no baile. Isso é o que me impulsiona a querer continuar com as tradições”, pontua.

No entanto, toda a sua dedicação já foi criticada por pessoas que não concordam com os ritos das festividades que Ana Paula participa. Hoje, por ser evangélica da Igreja Batista e continuar celebrando as épocas festivas do país, é alvo de críticas de alguns fiéis. “Muitos crentes não concordam com o meu modo de viver. Não concordam por eu enfeitar a minha casa. Não concordam por eu participar do Baile Municipal. Não concordam com nada. Mas não posso deixar de viver pois enquanto eles criticam, eu tento juntar pessoas de bons corações para fazer a felicidade de uma criança e alegrar as pessoas. A minha vida é isso. É alegria”.

Evangélica, foliã e contribuinte da cultura popular, Ana Paula acredita que o importante “é viver a vida”, respeitar as diferenças e ajudar o próximo: “Tenho um perfil no Kway, onde evangelizo a palavra de Deus, mas também se vocês visitarem as minhas outras redes sociais, vão ver vídeos meus em concursos de fantasias, fazendo festa para as crianças da rua e ajudando quem precisa. Isso termina confundindo a cabeça de algumas pessoas”.

Essa sua alegria e o esse modo de vida já chamaram a atenção de famosos como o influenciador Carlinhos Maia e o cantor pernambucano João Gomes.

Para a sua mãe, a dona de casa Sônia Maria, de 75 anos, é muito importante ter a Ana Paula como filha. “Tudo que ela faz dar certo. Ela é uma pessoa que mexe com tudo. É fisioterapeuta. Trabalha com artesanato. Tem vários campeonatos em concursos de cultura. Além de tudo isso, é uma pessoa boa de coração por sempre querer ajudar o próximo. De fato, é uma mulher muito batalhadora”, afirma dona Sônia.

Sônia Maria, mãe de Ana Paula. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Já a prima da moradora, a Maria da Conceição, de 54 anos, rememora todas as festas realizadas por Ana Paula na rua: “Sempre vem crianças de todos os lugares. Graças a Deus, sempre lota. Isso faz com que Ana Paula fique grata em conseguir fazer um Natal feliz para crianças que não tem condições de ganharem um presente caro ou uma roupa dos seus pais. Ela é muito querida aqui por isso. Eu tenho muito orgulho dela”.

 A vizinhança agradece

Acostumada a sempre trazer seus sobrinhos e as suas duas netas para a festa natalina, a dona de casa Alexsandra Gomes, de 38 anos, diz que Ana Paula é a “animação do bairro” e que “a cada ano, ela surpreende na decoração da casa e na realização do evento”.

“O nosso bairro agradece em ter a Ana Paula como moradora. Eu só tenho motivos para elogiar o trabalho desenvolvido por ela. A cada ano é uma surpresa diferente e isso chama a atenção das pessoas que passam aqui na rua. Por isso, sempre trago as minhas netas”, diz.

Compartilhando da mesma opinião e revelando alguns desafios enfrentados para a realização do evento, a moradora Carminha, de 51 anos, afirma que Ana Paula “doa o seu melhor para fazer a festa dentro da comunidade”, porém deveria “ser mais reconhecida” para, assim, conseguir mais doações de brinquedos.

“Sei que nem todo mundo pode doar. Mas fazemos o possível para divulgar o trabalho dela para pessoas com boas condições financeiras que moram em outros lugares. Se não fosse essa ajuda, essa festa não aconteceria. Por isso acredito que esse trabalho deve ser mais reconhecido par com que essa comunidade continue iluminada na semana de Natal”, pontua.

Os interessados em doar brinquedos para as crianças e, assim, ajudar a festa natalina da Rua Alto Guilhermino, pode entrar em contato com Ana Paula através do telefone (81) 98330-1394.

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