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Por volta as 10h30 deste sábado (9), a doméstica Cátia Bezerra, 31, chegou acompanhada da família à orla da Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. Após definir o local que iriam sentar, o marido fincou o próprio guarda-sol na areia e ela colocou as cadeiras de praia que trouxe embaixo da sombra. Cátia não esconde o espanto e a sensação de desagrado com a estrutura de um grande bar montado em cima da areia, ali bem perto, ao seu lado.

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“Daqui a pouco eles estão cercando, né? Eu acho isso muito errado porque eles tomam conta do espaço total e, quando chega alguém com cadeiras, ficam te olhando com nojo como se fosse eles fossem chiques porque estão em um local cheio de privilégios. Eles dizem que têm essa licença da prefeitura, mas a praia é de todos e posso ficar no lugar que eu quiser”, afirmou Cátia.

A mulher se refere ao novo estabelecimento ‘Pezão Prime’, inaugurado nas areias de Piedade na manhã deste sábado. O espaço é um empreendimento de Carlos Vasconcelos, o mesmo responsável pela Barraca do Pezão, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Cátia, que sempre aos fins de semana gosta de ir à praia descansar, veio da Avenida Caxangá até Jaboatão porque no Recife tem dificuldade de encontrar um local onde possa montar sua própria estrutura de acomodação.

Ao lado de seu guarda-sol, dezenas de outros de cor amarela com o patrocínio de uma cerveja nacional ocupam um espaço de cerca de 40m², de acordo com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes. O Pezão tem uma estrutura com capacidade para cem barraquinhas e quase 400 pessoas. O luxuoso e diferenciado serviço segue o mesmo molde do espaço recifense, ocupando a areia da praia para proporcionar um local exclusivo às pessoas que vão consumir os produtos e o conceito.

Às 11h o público no Pezão ainda era tímido e a estrutura prometida no projeto-base, divulgado nas redes sociais, não estava completa. Faltavam os brinquedos para as crianças, a área de massagem, os banheiros e o lounge com os DJs. “Ainda estamos montando tudo, não está completo. A gente só veio somar e criar um novo polo diferenciado nessa área. Não vim tirar o lugar de ninguém aqui, só quero agregar”, disse Carlos Pezão.

Apesar de o empresário garantir uma relação amistosa com os barraqueiros da orla, uma comerciante se aproximou do local para filmar as barracas e disse que nenhum trabalhador da região concorda com o novo empreendimento. Ela, que preferiu não se identificar, informou ao LeiaJá que vai realizar um abaixo-assinado com outros barraqueiros para pedir explicações da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.

“Eu tenho uma barraca em Piedade há 24 anos e sei do sacrifício que é para um pai ou mãe de família colocar um isopor ou uma carrocinha aqui. Não entendo porque foi tão fácil para eles botarem todas essas cadeiras. Nesse mesmo lugar que eles estão ocupando, tinha um amigo barraqueiro que foi retirado daí”, conta a comerciante.

Para ela, é errado o Pezão poder ter 100 acomodações, enquanto outros barraqueiros só podem ter até 30. “O direito de um é o de todos. Eles não podem botar essa estrutura com show e tudo sem seguir a lei como seguimos há anos”, lamenta. Durante a entrevista, um comerciante chamado Zezinho telefona para a mulher e diz que também vai protestar após ter conhecimento da inauguração do empreendimento na região.

Presente no local, o secretário-executivo de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo do Jaboatão dos Guararapes, André Trajano, conta que houve uma preocupação da gestão em mediar essa relação do Pezão com os trabalhadores locais da orla. “Esse era um espaço vazio e o barraqueiro mais próximo achou interessante a ideia de movimentar a área”, disse.

O Pezão Prime faz parte do Projeto Clube de Praia, iniciativa com investimento do ‘Jaboatão Investe’. O local conta com licitação legal da gestão municipal e pretende agradar os banhistas frequentadores da orla. “Demos entrada na Secretaria do Patrimônio da União (SPU) para ter a autorização dentro dos parâmetros sustentáveis e todos os equipamentos montados serão retirados no mesmo dia às 17h, respeitando a legislação local”, explicou Trajano.

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Questionado se existiu algum tipo de problema com os barraqueiros, o empresário Carlos Pezão negou. “A nossa relação com eles é amistosa. Se eles querem uma estrutura igual a nossa, enviem um projeto com documentos para a prefeitura. Eu tirei tudo e paguei todas as taxas”, concluiu.

Entenda o caso

Cadeiras com mesas personalizadas, ombrelones, áreas para massagem, tendas, bar, banheiros químicos, espaço com playground para crianças, jogos de mesa e lounge com conforto acessibilidade, além de palco sunset e amplo estacionamento garantido. A estrutura oferecida parece um serviço de show privado ou de evento em casas de festa. Mas, na verdade, as instalações vão compor o novo cenário de um trecho da Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife.

Em entrevista ao LeiaJá, Carlos Pezão, como é conhecido entre os frequentadores do estabelecimento em Boa Viagem, confirmou a inauguração do espaço VIP e explicou que foram dois anos de pesquisa para lançar o negócio que tem capacidade para até 400 pessoas. “A gente fez uma ampla pesquisa com as pessoas e o que elas acham de um atendimento com esse serviço. Eu sinto fala disso, se você vai à praia geralmente o atendimento é ruim, não tem diversidade de bebidas e nem de comidas”, comentou o empresário.

No empreendimento de Boa Viagem, ele já enfrentou alguns problemas de licença com a Prefeitura do Recife por causa do tamanho do espaço ocupado na areia da praia e teve de reduzir. O ‘Pezão Prime’ também vai contar com uma casa de apoio na frente da orla com ‘bioduchas’ ecologicamente corretas e varanda com espaço para vinte mesas para o cliente que deseje mais conforto. A ideia de Carlos é proporcionar um “final de tarde feliz” aos seus frequentadores.

Para Raquel Meneses, urbanista e pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Inovação para as Cidades (Inciti), os usos do espaço público precisam ser pactuados com os usuários do local porque  nenhum espaço pode ser sustentável ou justo se os acordos de convivência não são traçados de forma horizontal e colaborativa. “Parte desse processo é entender o lugar e seus usuários, ouvi-los, para só então propor algum novo uso, equipamento ou mesmo requalificação. É imprescindível que os gestores público acompanhem essa discussão. Quem eram os usuários dessa área antes dessa implantação e quem vai se beneficiar desse equipamento? É importante que a cidade tenha clareza das regulamentações, acordos e compensações”, detalhou a pesquisadora.

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