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O povoado de Qunu, terra natal de Nelson Mandela, localizada no sudeste da África do Sul, acordou triste na manhã desta sexta-feira (6). O seu mais ilustre filho faleceu, aos 95 anos, devido a complicações de uma infecção pulmonar. Foi ainda durante a infância na pequena vila rural, que o prêmio Nobel da Paz de 1993 percebeu as desigualdades provenientes da diferença de cor na África do Sul. 

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Ainda cedo, Mandela conheceu o preconceito. Sua juventude foi durante o período do Apartheid, regime segregacionalista instituído na África do Sul por vários governos, que favorecia uma minoria branca, em detrimento da liberdade dos negros, a quem eram destinados a uma posição inferior. A esses era proibido o voto, diversos empregos, a cidadania, e até mesmo a liberdade de ir e vir. 

Mandela foi o principal líder na derrubada desse regime. Sua luta contra a desigualdade social o levou a 27 anos de prisão, período em que ganhou apoio dos próprios guardas da prisão, de militantes distribuídos pelo mundo, e dos moradores de Qunu, que sempre admiraram o homem.

"(Ele era) uma pessoa doce, não importava se o outro tinha as mãos sujas do trabalho, recebia a todos igualmente", comentou a ex-vizinha Nozolile Mknetshana. O ex-líder sempre fazia questão de voltar à terra natal e interpretar o Papai Noel para as crianças durante o período de Natal.

Parentes de Nelson Mandela se reuniram nesta terça-feira em Qunu, cidade onde o ex-presidente da África do Sul passou a infância, enquanto personalidades, como o arcebispo da Cidade do Cabo, visitaram a clínica em Pretória onde o líder político segue em estado crítico.

De acordo com correspondentes da AFP no local, a filha mais velha de Mandela, Makaziwe, e netos do ícone mundial da luta contra a discriminação racial se reuniram na casa construída por ele na época da queda do regime racista. "É uma reunião de amadlomos", declarou um dos participantes da reunião, em referência a um ramo do clã Thembu, do qual faz parte a família Mandela.

Nenhum membro da família quis informar o objetivo desta reunião, mas rumores indicam que o grupo teria discutido um possível local para o túmulo de Mandela. Oficialmente, Mandela deve ser enterrado em Qunu, cidade onde passou seus primeiros anos. "Minha família está aqui e eu quero ser enterrado aqui, em casa", teria dito Mandela em 2003, filmado para um documentário no cemitério da cidade.

Mas alguns parentes do ex-presidente gostariam que ele fosse enterrado em Mvezo, sua cidade natal, a cerca de 40 km de Qunu. A 900 km desta região rural e cheia de vales, numa clínica militar de Pretória, o pai da democracia multirracial sul-africana, de 94 anos, continuava internado devido a uma grave infecção pulmonar.

Em 2012, Mandela foi hospitalizado diversas vezes também por complicações pulmonares. Internado com urgência em 8 de junho, o estado de saúde de Madiba ficou mais grave no último domingo.

De acordo com a Presidência sul-africana, o quadro de Mandela nesta terça permanecia crítico.

O fluxo de visitas, restrito à família na última semana, aumentou nesta terça com a presença de personalidades como o arcebispo da Cidade do Cabo, chefe da igreja anglicana na África austral, Thabo Makgoba.

No último domingo, as autoridades eclesiásticas fizeram um apelo na internet para que os sul-africanos se preparem para o luto por Mandela.

"Nós devemos voltar nossas preces a ele e deixar o Todo-poderoso decidir", recomendou também o vice-presidente Kgalema Motlanthe.

Apesar de acostumada com a ausência de Mandela, que não aparece em público desde 2010, na Copa do Mundo de futebol, a população sul-africana encara com dificuldade o desaparecimento do líder.

"Imaginá-lo deitado num leito de hospital e pensar que ele não vai melhorar é muito difícil. (...) Não queremos perdê-lo mesmo que saibamos que sua hora está chegando", comentou Vusi Mzimanda, que foi ao hospital onde Mandela está internado prestar sua homenagem.

-- Visita de Obama é improvável --

Diante do hospital, onde sua esposa, Graça Machel, permanece durante todo o dia, a presença da imprensa aumenta cada vez mais.

Muitas pessoas passam no hospital para deixar flores ou pequenas mensagens, enquanto alguns cantam o hino nacional da África do Sul. As paredes da clínica sumiram em meio a flores vermelhas e brancas, cartões e balões. Cem pombos foram soltos na frente do local.

Apesar das circunstâncias, o presidente Jacob Zuma continua seguindo sua agenda oficial. Nesta terça-feira, o presidente foi à província rural de Limpopo, norte do país, e na quinta deve ir a Moçambique. Na sexta-feira, Zuma deve receber o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que fará uma visita oficial de três dias.

Mas é pouco provável que o presidente americano visite Nelson Mandela. "O presidente Obama adoraria de ver o presidente Mandela, mas ele está doente", disse laconicamente à imprensa a ministra das Relações Exteriores, Maite Nkoane Mashebane.

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