O hábito de ranger e apertar os dentes de maneira excessiva, denominado pelos dentistas como bruxismo, se potencializou durante a pandemia do coronavírus (Covid-19). De acordo com o levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de bruxismo afetam 40% da população.
Um estudo encomendado pelos programas de pós-graduação dos cursos de Odontologia e Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), indicou que a condição de ranger os dentes durante o sono saltou de 8% para 28%. Já os casos que ocorrem enquanto a vítima está acordada foi de 6% para 12%.
##RECOMENDA##A pandemia trouxe à tona muito estresse, uma vez que as pessoas passaram a temer por suas saúdes e condições financeiras. Esse constante estado de preocupação causou impactos físicos e mentais, entre eles, o bruxismo. “Essa é uma desordem de movimento relacionada ao sistema nervoso central, com causa desconhecida. Mas sabe-se que é extremamente ligada ao estresse”, explica o cirurgião dentista especialista em odontologia estética pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e diretor da Clínica Boutique em Fortaleza (CE), Anderson Marques.
De acordo com Marques, o bruxismo se divide em duas categorias: A primeira é o cêntrico, também conhecido como apertamento dental, que afeta a musculatura do rosto e causa fadiga muscular, dores de cabeça e até mesmo assimetrias faciais. O segundo é denominado como excêntrico, caracterizado pelo ranger dos dentes. “Este pode causar desgastes dentários e até mesmo fraturas dos dentes. Consequências estas, que podem ser irreversíveis. Por isso a importância de tratar de forma precoce já nos primeiros sintomas”, alerta o dentista.
Uma das formas de manifestações do bruxismo ocorre durante o sono. “Com isso o paciente não tem controle sobre esses movimentos deletérios. Quando é diurno, o paciente pode se pegar no ato de apertar ou ranger os dentes, e quando percebe pode se policiar e tentar não fazer os movimentos”, detalha Marques.
O principal destaque que esse distúrbio pode trazer é o desgaste dentário, mas a cirurgiã dentista especialista em reabilitação oral pela USP de Bauru Ticiana Campos, também destaca que alguns pacientes reclamam de dores musculares agudas e desconfortos na região da face. “Em casos mais severos, comprometimentos articulares podem aparecer e o paciente passa a ter uma DTM, que é o Distúrbio da Articulação Temporomandibular. Ou seja, essas dores podem passar da musculatura para esta articulação e estalidos ao abrir a boca também podem surgir”, ressalta.
Embora não exista cura para o bruxismo, Ticiana explica que alguns tratamentos podem ser feitos, entre eles, a utilização de uma placa rígida em resina acrílica durante o sono, que protege os dentes do paciente um dos outros. Para dores musculares, a dentista indica a aplicação de toxina botulínica (Botox), que auxilia no relaxamento dos músculos e diminui as dores. “Quando o nível de estresse do paciente é muito alto, podemos indicar um acompanhamento com fisioterapeuta e até mesmo com um psicólogo”, orienta.
Para os que não sofrem do distúrbio mas procuram por maneiras de evitá-lo, principalmente por estarem inseridos em um momento estressante, Ticiana recomenda buscar por uma válvula de escape, como um hobby ou uma atividade de lazer.