Tópicos | Tracoma

Previsto para ser extinto no ano de 2020, dentro da estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o tracoma é considerado a principal causa infecciosa da cegueira a nível mundial. Responsável por atingir mais de 200 milhões de pessoas de 51 países da África, Ásia e América Latina, a doença que afeta a visão é uma das mais negligenciadas pelo sistema de saúde e atinge principalmente regiões mais pobres com falta de saneamento básico. 

O tracoma é uma doença inflamatória ocular crônica causada pela bactéria Chlamydia trachomatis e que afeta pálpebras, conjuntiva e córnea. Nos sintomas, os olhos ficam irritados e lacrimejando. Com o tempo, as pálpebras incham e surgem até cicatrizes. Os cílios podem ficam invertidos e arranhar a córnea. A enfermidade é um tipo de conjuntivite grave e infecções recorrentes podem levar à cegueira.

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De acordo com o oftalmologista do Serviço Oftalmológico de Pernambuco (Seope), Luiz Felipe Lynch, o tracoma é transmitido pelo contato direto com secreções oculares e nasais de pessoas infectadas. Ele explica que também pode ser propagado através das moscas, quando pousam em locais infectados. "É uma doença ligada a falta de higiene e ao pouco ou nenhum acesso ao saneamente básico e por isso atinge populações de regiõe menos desenvolvidas", afirmou.

De acordo com os estudos da OMS, é necessário reduzir a prevalência do tracoma para menos de 5%, em crianças de um a nove anos de idade. No Brasil, atualmente a prevalência da enfermidade é de 3,5%, mas dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que Pernambuco supera o índice nacional e apresenta uma taxa de 6%. Pesquisadores da instituição realizaram, em mais de 70 municípios de Pernambuco, pesquisas nos domicílios para identificar e acompanhar o tratamento de pacientes com a doença.

No Recife, foram examinadas 109 crianças de um a nove anos na comunidade do Coque, na Zona Sul, e sete delas foram diagnosticadas com tracoma. A taxa de detecção, que relaciona o número de casos com o total de crianças examinadas, ficou em 6,4%. De acordo com a Fiocruz, nos locais onde foram realizados os estudos, as famílias foram orientadas sobre procedimentos de higiene simples, como o hábito de lavar o rosto utilizando algum tipo de sabão ou sabonete e o não compartilhamento de toalhas de banho e de rosto, lençóis ou fronhas.

Para o oftalmologista Luiz Felipe Lynch, os grandes bolsões de pobreza e a falta de infraestrutura de Pernambuco são as principais razões para o Estado registrar um alto número de casos da doença. "Aqui temos muitos zonas de alta densidade populacional com baixas condições de higiene e saúde e isso é um das causas não só da ploriferação do tracoma, mas de outras doenças também", acrescentou.

Pelos sintomas semelhantes ao de uma conjuntivite, o diagnóstico do tracoma muitas vezes não é realizado da forma correta e pode levar à cegueira, se não for tratato. Em Pernambuco,  a Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde (SEVS) desenvolve desde o ano de 2011 o 'Programa Sanar', de enfrentamento às doenças negligenciadas. Ao todo, o projeto já examinou 11 mil escolares de 206 escolas. Desse total, 4,3 mil precisaram fazer tratamento contra o tracoma.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, no ano de criação do programa, a prevalência da doença era de 9%. Em 2014 diminuiu para 2,5% e até 2015, dos mais de 20 municípios prioritários para a doença, apenas 1 não tinha alcançado a meta de 5% da OMS. A quatro anos do prazo estabelecido mundialmente para a extinção da doença, o cenários dos pernambucanos ainda é preocupante.

O tratamento clínico da doença pode ser feito através de cirurgia para pestanas viradas para dentro, antibióticos para infecção ocular e em caso de cegueira, o transplante de córnea. Para Luiz Felipe Lynch, as ações de prevenção têm de ser mais intensas e direcionadas. "Para minimizar os casos, temos que resolver a distribuição do saneamento básico em Pernambuco, o acesso a água potável também é um problema. Temos de tratar do tracoma como um problema de saúde pública", concluiu.

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