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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, 27, que o Brasil passará os Estados Unidos na corrida da transição energética. Ele deu a declaração no Palácio do Planalto depois de solenidade de assinatura de contratos de transmissão de energia elétrica.

"Dentro da questão energética, a transição de uma energia fóssil para uma energia lima, nesse aspecto é que eu acho que o Brasil se torna a menina dos olhos do mundo e nesse aspecto que o Brasil pode se transformar num país imbatível do ponto de vista de competitividade", disse Lula.

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"Eu sei que os Estados Unidos estão oferecendo subsídios aos montes para a questão da transição energética, inclusive tentando convencer empresas brasileiras a ir para lá", declarou o presidente da República. Mesmo assim, segundo ele, não é possível competir com o Brasil na área.

"Nós já passamos eles no milho, já passamos em soja e já passamos em algodão. Nós vamos passar na questão energética. Porque um país que tem a capacidade de produção de eólica, um país que tem a capacidade de produção de solar, um país que tem a capacidade de produção hídrica, um país que tem a capacidade de produção da biomassa, um país que tem a capacidade de produzir hidrogênio verde, um país que tem o biodiesel, um país que tem etanol, é praticamente impossível a gente ser batido por alguém", disse o petista.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta segunda-feira (10) que o novo plano de investimento em infraestrutura do governo federal, em substituição ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá seis eixos estratégicos: transportes; infraestrutura social; inclusão digital e conectividade; infraestrutura urbana; água para todos e transição energética.

Lula fez nesta segunda -feira (10) reunião ministerial para marcar os 100 primeiros dias do seu terceiro mandato. Na terça-feira (11), o presidente viaja para a China.

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“Retomamos a capacidade de planejamento de longo prazo. E esse planejamento será traduzido em um grande programa que traz de volta o papel do setor público como indutor dos investimentos estratégicos em infraestrutura”, disse.

“Vamos aproveitar a experiência que já tivemos com o PAC e os programas de concessão para aprimorar esses mecanismos, tornando-os ainda mais eficientes.” 

Segundo o presidente, os governos estaduais já enviaram suas listas de obras prioritárias, e os ministérios estão identificando outros investimentos estruturantes. A previsão é que o novo programa seja anunciado até o início de maio.

Para Lula, os investimentos públicos e privados e o financiamento dos bancos oficiais são fundamentais para o desenvolvimento com inclusão social e a sustentabilidade ambiental. A ideia do governo é facilitar o crédito a micro, pequenas e médias empresas e cooperativas, além de microcrédito para empreendedores individuais. 

“Precisamos criar na sociedade a ideia que esses bancos são públicos e têm finalidade diferente dos bancos privados. Não queremos que percam dinheiro, mas não podem emprestar dinheiro nas mesmas custas dos bancos particulares”, defendeu.

Segundo o presidente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, já reteve mais recursos para investimentos, que hoje são usados para pagamento de empréstimos ao Tesouro Nacional. “Tesouro mão-de-vaca”, disse Lula.

“Dinheiro bom não é dinheiro guardado em cofre, é dinheiro gerando obras, desenvolvimento, gerando empregos, isso que é importante”, completou, defendendo a responsabilidade com os gastos. 

Eixos

No eixo da transição energético, o governo deve lançar editais para contratação de energia solar e eólica e os leilões para novas linhas de transmissão, para “tornar ainda mais rápida e atrativa a implantação desses parques de energia limpa”. 

“E não perderemos a oportunidade de nos tornarmos uma potência global do hidrogênio verde”, destacou Lula. Segundo ele, a Petrobras financiará a pesquisa para novos combustíveis renováveis e, ao mesmo tempo, retomará investimentos na ampliação da frota de navios da Transpetro. “Nunca achei a Petrobras uma empresa de petróleo, é empresa de energia, historicamente, que mais investiu em pesquisa nesse país, em inovação. A descoberta do pré-sal foi resultado de bilhões de investimentos”, disse.

Na inclusão digital e conectividade, o objetivo é levar internet de alta velocidade para as escolas e para os equipamentos sociais, como postos de saúde. “Espero ver telemedicina funcionando e que mesmo os mais humildes possam ser assistidos por grandes médicos em grandes centros urbanos”, disse Lula, pedindo à ministra da Saúde, Nísia Trindade, que pense em soluções para o acesso da população à saúde especializada.

No transporte, segundo o presidente, as ferrovias, rodovias, hidrovias e portos voltarão a ser pensadas de modo estruturante. “Reduzirão o custo do escoamento de nossa produção agrícola. E incentivarão o florescimento de uma nova base industrial, mais tecnológica e mais limpa”, disse. “Além disso, vamos equacionar as concessões de rodovias e aeroportos que ficaram desequilibradas, retomando os investimentos previstos”, destacou.

No eixo de água para todos, um dos focos é a retomada do projeto de integração do Rio São Francisco.

Na infraestrutura urbana, Lula pediu atenção para melhoria das condições de habitação e vida das pessoas que moram em favelas, palafitas e outros locais precários. “Não existe jeito mais degradante de morar do que morar em palafita”, lamentou.

Segundo o presidente, obras de prevenção a desastres causados por cheias e deslizamentos serão tiradas do papel e, com o novo marco do saneamento, o governo quer destravar e atrair R$ 120 bilhões em investimentos públicos e privados para universalizar os serviços de água e esgoto até 2033.

Lula disse ainda que, além do Minha Casa, Minha Vida para população mais pobres, é preciso criar um programa habitacional que atenda à classe média baixa, aqueles que ganham entre três e quatro salários. “O mais pobre é prioridade, mas queremos pensar no conjunto”, afirmou. 

Já na infraestrutura social, o foco serão investimentos em hospitais, escolas, creches e centros de cultura e de esportes. “A qualidade de vida nas cidades não se faz apenas de casas, saneamento e transporte”, ressaltou.  Nesse sentido, o presidente criticou os episódios de racismo no país. “Não vamos admitir”, disse ele.

Em mais de uma hora de discurso, o presidente tratou ainda de diversos temas caros ao governo, como o combate à fome, redução de emissão de carbono e desmatamento zero, Plano Safra do agronegócio, renegociação de dívidas, escola em tempo integral, investimentos na ciência e tecnologia, políticas de garantias de direitos, combate ao crime organizado e fortalecimento da democracia.

Mais cedo, o governo federal divulgou uma lista de políticas públicas e ações realizadas nos últimos três meses. A Agência Brasil também preparou material especial alusivo ao marco dos 100 dias, com avaliações de especialistas.

Marco fiscal e juros

Durante seu discurso, Lula ressaltou ainda que, com o novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos, o governo quer “colocar o pobre de volta no Orçamento”.  “Também estamos trabalhando em uma reforma tributária que corrige as distorções históricas de um sistema de tributação regressivo e injusto para os brasileiros e os entes federados. E cria um ambiente muito mais dinâmico e descomplicado para o setor empresarial”, disse. Para Lula, a proposta não terá “100% de solidariedade”, ainda assim, ele acredita na aprovação.

O presidente criticou novamente o patamar dos juros básicos da economia do país, definidos pelo Banco Central (BC). “Continuo achando que estão brincado com o país, com o povo pobre e, sobretudo, com os empresários que querem investir. Só não vê quem não quer”, disse.

Desde agosto do ano passado, o BC mantém a taxa Selic (juros básicos da economia), em 13,25% ao ano.  Participação social Na abertura da reunião, o vice-presidente Geraldo Alckmin destacou a reação rápida do governo após os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro em Brasília. “O senhor salvou a democracia de uma tentativa de golpe, e ela saiu fortalecida. A reação rápida de todos os Poderes e do próprio governo fortaleceu o sistema democrático”, disse.

No dia seguinte, os chefes dos Três Poderes e diversos governantes e autoridades caminharam juntos do Palácio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal, passando pelo Congresso Nacional, em ato simbólico pela defesa da democracia. 

Alckmin contou ainda que, em maio, o governo deve instalar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, conhecido como Conselhão. Muito atuante nos governos de Lula, o colegiado tinha a participação de diversos empresários e personalidades reconhecidas em diferentes áreas.  “A democracia significa participação, e a gente observa em todos os ministérios uma enorme participação”, disse.

“Governo que ouve mais erra menos, governo moderno estimula participação da sociedade civil organizada”.  A previsão é que, ainda neste semestre, o Ministério do Planejamento e Orçamento e a Secretaria-Geral da Presidência comecem os debates do Plano Plurianual Participativo. Com atividades nos 27 estados, o objetivo é dar transparência orçamentária e possibilitar à sociedade participar ativamente no processo de planejamento das ações para os próximos anos.

O vice-presidente falou ainda sobre as diversas das ações do governo nestes primeiros 100 dias, como a valorização do salário mínimo e os valores extras concedidos pelo Bolsa Família – R$ 150 por criança até seis anos e R$ 50 para cada integrante da família com idade entre 7 e 18 anos incompletos e para gestantes.

“Se Juscelino Kubitschek dizia que eram 50 anos em cinco, nós podemos dizer que foram mil dias em 100”, destacou Alckmin.

A guerra entre Rússia e Ucrânia deve acelerar a transição energética e não adiar, avalia o vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), Mourinho Félix, responsável pelas operações na América Latina. Segundo ele, o Brasil terá um papel fundamental nessa transição, e pode se tornar um dos principais produtores e exportadores de hidrogênio verde para o mundo.

"A guerra já está afetando a transição energética e as nossas vidas, mexe no preço da energia, dos alimentos, e de toda a cadeia de produção. O que podemos fazer é acelerar a transição, e não adiar essa transição", disse a jornalistas após assinatura de empréstimo de 200 milhões de euros para a Neoenergia construir parques eólicos e uma central fotovoltaica no Brasil.

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Ao contrário de alguns especialistas, que veem na guerra e a consequente disparada do preço do petróleo no mercado internacional um motivo para mais investimentos no segmento de petróleo e gás natural, para aumentar a oferta, Félix é taxativo em relação a esses projetos.

"Nosso entendimento é de que o investimento em petróleo não é sustentável. O BEI deixou em 2019 de financiar qualquer projeto que fosse e combustíveis fósseis, e nem a pandemia nem esta guerra nos levam a pensar em retornar com os combustíveis fósseis", afirmou.

Ele vê, no entanto, a necessidade de substituição energética, e por isso é necessário acelerar na busca desses recursos para que a transição seja mais rápida. E o Brasil, destacou, tem tudo para ser um agente relevante nesse momento.

"O Brasil é um País com uma dimensão e com recursos gigantescos, recursos humanos, e o Brasil é por excelência, do ponto de vista de energia renovável, uma fonte imensa de produção. O Brasil tem condições de ser um dos grandes produtores e exportadores de hidrogênio de verde", explicou.

O BEI financia cerca de 800 milhões de euros por ano em projetos na América Latina e cerca de 40% desse total fica no Brasil, informou Félix. O financiamento concedido à Neoenergia foi a primeira operação do banco este ano no Brasil.

A última Tese de Impacto em Energia da Artemisia, lançada em 2018, acertou em cheio nas previsões, até agora. O estudo mostrou que a demanda por energia elétrica deve triplicar no Brasil até 2050, conforme projeções da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE).

"Para atender à demanda futura é preciso considerar ações de expansão da oferta e repensar a eficiência de toda a cadeia, incluindo a avaliação e o incentivo a formas alternativas de gerar e distribuir energia", diz Maure Pessanha, presidente do Conselho da Artemisia, que, a pedido do Estadão, analisou os principais pontos da tese.

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Essa expansão deve levar em conta o poder aquisitivo da população, a "pobreza energética" - conceito criado na Inglaterra para definir a incapacidade das pessoas de adquirir os serviços de energia para satisfazer necessidades básicas.

Esse cenário, agravado pela crise hídrica, já levou instituições financeiras a criar linhas de crédito especiais para democratizar o acesso à energia solar, mais barata e limpa. É o caso da Caixa Econômica Federal, que lançou uma linha para financiar projetos fotovoltaicos para pessoas físicas, e do Santander, que criou a linha Giro Sustentável PJ, destinada a projetos sustentáveis em condomínios residenciais.

FACILIDADES

Nascidos para solucionar as dores desse mercado, pequenos e médios negócios de energia solar também focam na democratização. "Os financiamentos possibilitam aos clientes de classes mais baixas pagar parcelas com valor semelhante à conta de energia sem o sistema fotovoltaico", diz Artur Bernardo, diretor comercial da Dinâmica Energia Solar, que já financiou mais de 700 projetos, de fazendas solares a instalações de pequeno porte.

A Meu Financiamento Solar, fintech de crédito para energia solar que nasceu do Portal Solar e virou uma joint-venture com o Banco BV, completou um ano em outubro com mais de 40 mil propostas pagas - 70% delas voltadas a instalações residenciais.

A startup cobre 100% do valor em projetos de até R$ 500 mil para pessoas físicas e R$ 3 milhões para jurídicas, oferecendo parcelamento de até 84 vezes e 120 dias para começar a pagar. Entre os clientes que buscam o financiamento, 48% têm renda mensal abaixo de R$ 5 mil, e outros 22% ganham de R$ 5 mil a R$ 10 mil.

Já a plataforma Solfácil, que une soluções de financiamento e marketplace de equipamento solar, acaba de captar R$ 1,28 bilhão para financiar sistemas fotovoltaicos. Os recursos estão sendo usados nas linhas de crédito para pessoas físicas, pequenos comércios e produtores rurais.

Além da atuação financeira, a startup criou um marketplace solar, que conecta distribuidores a integradores. A plataforma oferece mais de 1,5 mil kits para instalação, facilitando a cotação e a busca por parte do integrador solar para cada projeto, seja residencial, comercial ou do agronegócio. "Ofertamos uma experiência digital, portfólio de diversas marcas e opções a preços competitivos e pronta entrega", destaca Fabio Carrara, CEO e cofundador da Solfácil.

Com mais de 400 unidades franqueadas e presente em todos os Estados, a Energy Brasil criou um sistema de pagamento que possui maquininha própria e permite que o cliente parcele o kit solar em vários cartões e em até 12 vezes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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