Tópicos | Victor Kawan

A primeira audiência do caso de Victor Kawan Souza da Silva, adolescente morto durante uma ação da Polícia Militar (PM) no Recife, há quase dois anos, acontecerá nesta terça-feira (26). A sessão está prevista para às 9h, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano (Joana Bezerra), na área central da capital. 

O caso aconteceu em 11 de dezembro de 2021, na comunidade de Sítio dos Pintos, Zona Norte da cidade. À época, o jovem, que tinha apenas 17 anos, estava acompanhado do amigo, Wendel Alves, que tinha 18 anos. Na primeira versão da PM, Victor e o amigo teriam trocado tiros com o efetivo. Ainda de acordo com a corporação, com os jovens foi apreendido um revólver calibre 38 com seis munições. 

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A versão é contestada pela família, que afirma que Kawan e Wendel estavam retornando de moto após voltarem de um dia de trabalho. Os PMs já teriam chegado atirando, ao considerar os amigos como suspeitos. 

Em um inquérito aberto em outubro do ano passado, a SDS afirmou que a investigação preliminar encontrou "indícios de autoria e materialidade" que levaram à instauração de um procedimento administrativo disciplinar contra os militares que fizeram a abordagem. O inquérito policial foi concluído pela 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios e remetido ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que protocolou a denúncia à Justiça de Pernambuco. 

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Sob os olhos atentos de Janaína, Luiz e Mickaelly, o grafiteiro Asak Jr. retrata o adolescente Victor Kawan, de 17 anos, morto durante uma ação policial, no último sábado (11), na Comunidade de Sítio dos Pintos, localizada na Zona Norte do Recife. A arte em um muro próximo à casa da família do jovem, feita na quinta-feira (16), é uma forma que parentes e amigos acharam para homenagear e pedir por justiça.

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“Escolhi essa imagem porque mostra como ele é, a camisa que ele gostava, a marca que ele gostava de vestir”, fala Janaína de Souza, mãe de Kawan. O pai, José Luiz Amâncio, questiona se o artista vai colocar os brincos que o filho costumava usar. “Tem que mostrar como a gente é, de onde a gente veio, da periferia”, fala enquanto observa a pintura.

À reportagem, Mickaelly Rayane Souza da Silva, irmã de Victor, explica que a mobilização para o mural partiu da comunidade, que desde o dia da morte do jovem, organiza atos e mobilizações para chamar atenção para o caso e mostrar "que ele [Victor Kawan] não é isso que estão dizendo". Na primeira versão da Polícia Militar, Victor e o amigo, Wendel Alves, de 18 anos, teriam trocado tiros com o efetivo. Ainda de acordo com a corporação, com os jovens foi apreendido um revólver calibre 38 com seis munições.

A versão é contestada pela família, que afirma que Kawan e Wendel estavam retornando de moto após realizarem um serviço de capinação.“Não tem nada disso que estão falando. Não tem arma, não tem droga. Minha mãe deu educação ao meu irmão. Se ele tivesse feito algo de errado esse pessoal não estaria aqui, eu não estaria aqui por ele”, desabafa Mickaelly.

Há sete dias, a família convive com a ausência do jovem. “Tudo nessa casa lembra ele”, diz a irmã. Todos os pertences de Victor ainda estão no quarto. Os chinelos usados pelo adolescente, no dia da abordagem policial, são guardados com muito cuidado pela família. Mickaelly mostra a reportagem o objeto que guarda em uma sacola transparente. Para sustentar uma das correias, Kawan colocou um prego. “Como alguém com uma sandália assim vai conseguir correr, me diga?” questiona a irmã.

De cordo com ela, o jovem fazia pequenos trabalhos. Em um dos últimos, ele realizou um serviço em um lava a jato e recebeu R$ 180 como pagamento. “Ele não comprou uma sandália nova. Usou parte do dinheiro, R$ 80, para sair com a namorada e comemorar um ano de namoro. O restante seria para a aliança de noivado”. Segundo a jovem, a cunhada seria pedida em noivado formalmente. “Os dois já tinham uma aliança, mas, ele faria o pedido de verdade”, tenta descontrair.

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O Caso

A família de Victor Kawan Souza da Silva conta que, no último sábado (11), o adolescente foi chamado pelo amigo, Wendel Alves, para realizar um serviço de capinação no bairro. De acordo com Mickaelly, o local não era conhecido por Victor. “Wendel mandou mensagem para o meu irmão pela manhã falando sobre esse serviço. Meu irmão ficou esperando. Nas últimas mensagens deles, Victor reclamou da demora do amigo em aparecer”.

Ela diz que no caminho de volta, os jovens, que estavam em uma moto, pilotada por Wendel, durante a abordagem dos PMs, foram surpreendidos por disparos. Um dos tiros atingiu Victor, que ainda foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), localizada na Caxangá. Mickaelly relata que, segundo testemunhas, Wendel chegou a ser imobilizado no chão ao ter uma arma apontada para a cabeça e algumas pessoas pediram para um dos policiais não atirar. Ao saber do ocorrido, a jovem se dirigiu até a unidade de saúde. Na ocasião, ela encontrou Wendel algemado a uma cadeira.

“Uma assistente social veio falar comigo para confirmar os dados do meu irmão. Depois, veio o médico para confirmar os dados e dizer que tinham feito o possível para salvar o meu irmão, mas, que, infelizmente, ele tinha falecido. Quando eu saí da UPA, já tinha muita gente na frente esperado uma boa notícia, mas eu não tinha para dar”, relembra. A irmão de Kawan relata que as mobilizações para protestos e homenagens começaram no mesmo dia. “Todo mundo aqui gosta dele e sabe quem ele é”, expõe. 

A família menciona que Wendel chegou a pedir desculpas pelo ocorrido. “A gente sabe que ele não teve culpa. O menino [Wendel] não está nem saindo de casa, está tomando remédio. A gente sabe que não foi ele que provocou tudo isso", reforça Mickaelly.

Vídeo de testemunhas e policiais afastados

Na última quarta-feira (15), José Luiz Amâncio, pai de Victor Kawan, e Wendel Alves prestaram esclarecimentos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. No dia seguinte, um vídeo gravado por uma testemunha mostra o momento em que um policial militar, com ajuda de um homem que não pertence ao efetivo, carrega Victor. Nas imagens é possível perceber que o adolescente está imóvel. A família conta que o efetivo integra o 11º Batalhão, que está lotado a alguns quilômetros de onde tudo aconteceu.

Questionados sobre a abordagem policial e contestação da família sobre as informações iniciais do caso, a Secretaria de Defesa Social (SDS) ressalta que a Corregedoria-Geral instaurou procedimento para investigar a conduta dos policiais militares do 11º BPM, assim como, o DHPP deu início ao inquérito para investigar a morte do adolescente.

Já a Polícia Militar afirmou que o “comando da PMPE afastou os dois policiais militares envolvidos no caso das atividades operacionais, enquanto durarem as apurações criminais e administrativas, executando, nesse interim, serviços internos na Unidade”.

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