Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.
Depois de ouvir um amigo taxista dizendo que deseja morrer de infarto, à noite, quando estiver no décimo sono, lembrei do escritor Fausto Wolff. Na primeira vez em que liguei, para marcar entrevista, perguntei se atrapalhava algo, porque a voz do outro lado era baixo profundo saindo da hibernação.
– Você me acordou, mas fez bem, que esse cochilo tava ficando longo. Rapaz, quando a gente vai ficando velho, fica é feliz toda vez que desperta. E não sou desses que querem morrer dormindo. Não mais. Quando Ela chegar, não vai me pegar roncando.
Desconheço se morreu dormindo, menos ainda se roncava. Mas suspeito que eu possa ter colaborado com seu passamento. Ou será coincidência?
Tenho um romance guardado há dez anos, cuja segunda parte mudei doze vezes, antes de deletá-la. O prefácio também sumiu. Depois voltou. Mas importante mesmo é que pedi a duas pessoas para lerem o livro e, se possível, escreverem uma apresentação: Fausto Wolff e Moacir C. Lopes.
Preciso dizer que eles aceitaram? Que eles já morreram, encantaram-se, é necessário lembrar também?
Foram autores que entrevistei porque responsáveis por duas das melhores leituras que tive, entre romancistas brasileiros: À mão esquerda e A ostra e o vento. Duas das pessoas mais gentis que conheci, dentro da intimidade que ligações e mensagens eletrônicas podem oferecer.
Guardei outros escritos, poemas que fiz entre 1991 e 1994, moleque ainda. Aliás, eles foram salvos mesmo foi pela minha avó paterna, Edite, que também arriscava versos. Não fosse por respeito a ela, que me devolveu os cadernos pouco antes de morrer (ops), decerto eu teria me livrado deles.
Mário Hélio e Bruno Piffardini leram e acharam melhor não se pronunciarem. Everardo Norões defendeu que sejam trabalhados, muito, sugeriu caminhos. Pedro Américo gostou, com ressalvas. Quem se entusiasmou realmente foi Luiz Carlos Monteiro, querido poeta e crítico. Ele até prometeu escrever algo sobre essa minha verde poesia. Foi aí que, vocês sabem... Perdemos LC faz pouco.
O editor do portal onde publico esta coluna Redor da Prosa, o jornalista Diogo Monteiro, foi único que leu o romance e os versos. Como jamais se comprometeu, não jurou prefácio ou apresentação, segue vivinho – no máximo, causei-lhe queda de cabelo.
Dia desses, mediei mesa de Contardo Calligaris no Festival Recifense de Literatura. Ele contou das duas vezes em que cursava pós quando o orientador morreu. Creio que um desses foi Barthes. Mas, diferente de mim, ele não anda encasquetado com tais coincidências. Contardo também repetiu aquela frase, que “nossa história não deixa de ser a ficção que escolhemos como realidade”. De repente, escolheu não se culpar.
Nesse embalo, até imaginei uma personagem: crítico literário tardio que, após meia dúzia de notícias ruins, nota que os autores sobre os quais escreve terminam espichados. Se eu conseguir terminar logo esta coluna, posso começar a rascunhar, hoje ainda.
Como negócio mais acertado é citar somente escritores reais, vou começar pelo... Aquele, como é mesmo o nome? Que apareceu há pouco no programa do Jô, e que falou quase nada, mal conseguiu mostrar a capa do livro... É tão difícil assim? Se o citado apresentar algum problema de saúde repentino, prometo não acusá-los de cúmplices. Ah, lembrei...