Nas terças e quintas-feiras, Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos: textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Hoje, Leyla Perrone-Moisés e Octavio Paz, sobre a inexistência de literaturas nacionais.
“A literatura, pelo menos no Ocidente, sempre foi supranacional. Os grandes autores ocidentais nunca se ativeram às fronteiras nacionais na escolha de seus modelos ou temas, desde o romance de cavalaria, passando pelo Corneille de O Cid ou pelo Shakespeare de Romeu e Julieta, até a modernidade, com Baudelaire irmanando-se a Poe, e Pessoa a Whitman, anunciando as vanguardas internacionais do século XX. Isso sem falar da América Latina, que, por sua condição de herdeira lingüística e cultural da Europa, teve suas literaturas sempre entrelaçadas com as do outro lado do Atlântico”.
“Vivendo no regime de ficção, a literatura tende a relativizar a questão da identidade pessoal ou nacional do autor, e, quando esta é prioritária, a obra fica mais próxima do testemunho do que da criação artística. As “integrações” e “assimilações”, tão problemáticas na política das nações, sempre foi a regra nos textos literários, que praticam a intertextualidade sem limites históricos e geográficos”.
“Pois bem, o nacionalismo não é só uma aberração moral; é também uma falácia estética. Nada distingue a literatura argentina da uruguaia, nem a mexicana da guatemalteca. A literatura é mais ampla do que as fronteiras. (...) Os grupos, os estilos e as tendências literárias não coincidem com as divisões políticas, étnicas ou geográficas. Não há escolas nem estilos nacionais; em compensação, há famílias, estirpes, tradições espirituais ou estéticas.”.
Os dois primeiros trechos são de Leyla Perrone-Moisés, do livro Vira e mexe nacionalismo (Companhia das Letras, 2007), páginas 11 e 12. A terceira citação está no clássico ensaio Literatura de fundação, de Octavio Paz (Signos em Rotação. Perspectiva, 2006, pág. 126).
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