Nas terças e quintas-feiras, Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos: textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Hoje, o filósofo Diderot, sobre papeis dos autores, críticos e público.
“O papel de um autor é um papel bastante vão: é o de um homem que se julga em condição de dar lições ao público. E o papel do crítico? É bem mais vão ainda: é o de um homem que se julga em condição de dar lições àquele que se julga em condição de as dar ao público.
O autor: ‘Senhores, escutai-me; pois sou vosso mestre’. E o crítico: ‘É a mim, senhores, que cumpre escutar; pois sou o mestre de vossos mestres’.
Quanto ao público, toma o seu próprio partido. Se a obra do autor é má, zomba dela, assim como das observações do crítico, caso sejam falsas”.
“A crítica procede bem diversamente com os vivos e com os mortos. Um autor está morto? Ela se ocupa de realçar suas qualidades, e em paliar seus defeitos. Está vivo? É o contrário: seus defeitos realça, e suas qualidades esquece. E há certa razão para tanto: pode-se corrigir os vivos; ao passo que os mortos não têm recurso”.
Os trechos são do ensaio Dos autores e dos críticos (1973), de Denis Diderot , publicado no recente Uma ideia moderna da literatura: textos seminais para os estudos literários (1688-1922), organizado por Roberto Acizelo de Souza. Os três parágrafos da primeira citação estão na página 491, e o excerto final, página 492.
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