Redor da Prosa, porque esta coluna é reservada não só à ficção, mas também aos livros de filosofia, sociologia, política, história etc. Ou, lembrando frase do saudoso Luiz Carlos Monteiro (enviada por e-mail, pouco antes de seu encantamento), coluna dedicada aos “universos que se desdobram através da palavra escrita, plantando insônias ou revoluções”.
Redor da Prosa, também, porque depõe sobre a crítica que tentarei (entre tantas possíveis). Redor é o trabalhador das salinas, aquele que leva água salgada até os viveiros para que, sob o sol, seja coalhada até que reste o ouro branco de nossos alimentos. Assim como acontece com o redor, cabe ao crítico oferecer caminhos, suas opiniões estão a serviço das obras-águas. Estas, iluminadas pela atenção do leitor, tornam-se a especiaria que, bruta ou refinada, sempre muda o sabor de tudo que nos chega, ou, não menos importante, conserva-eterniza o que já temos como essencial.
Mas, como sabemos impossível o exercício de crítica quase diária, também faremos da coluna Redor da Prosa um espaço para divulgar encontros, lançamentos, concursos, sites e blogs dedicados à leitura; enfim, veicular informações úteis aos leitores – esses navegantes que, apesar dos anúncios frequentes de morte dos livros ou da literatura, estão sempre à espera de maré que os convide aos oceanos infindáveis da palavra.
Para fechar esta apresentação, recordo a abertura do primeiro livro que, há um bocado razoável de tempo, deixou-me a certeza de que um texto pode realmente nos tirar o sono ou revirar tudo em volta, o Moby Dick, de Melville:
Chamai-me Ismael. Faz alguns anos – não importa quantos, precisamente –, tendo na bolsa escasso ou nenhum dinheiro e nada que particularmente me interessasse em terra, achei que devia velejar um pouco e ver a parte aquosa do mundo.
Call me Ishmael. Some years ago—never mind how long precisely—having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world.
Espero que Redor da Prosa funcione como modesto chamamento a essas águas que, para tantos, são o verdadeiro sal da terra!
*Dedicado a Luiz Carlos Monteiro, que faleceu em 25 de julho último, no município de Arcoverde.
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