Gustavo Krause

Gustavo Krause

Livre Pensar

Perfil: Professor Titular da Cadeira de Legislação Tributaria, é ex-ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, no Governo Fernando Henrique, e da fazenda no Governo Itamar Franco, além de já ter ocupado diversos cargos públicos em Pernambuco, onde já foi prefeito da Capital e Governador do Estado.

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Os ratos, a caloura e o bundalêlê

Gustavo Krause, | seg, 08/06/2015 - 09:37
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No dia 9 de abril, quarta-feira, o senhor Marcio Martins de Oliveira soltou cinco roedores no plenário da CPI da Petrobras logo depois que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no local para prestar depoimentos.

Dizem os especialistas no assunto que eram dois hamsters (sem rabo) e três esquilos-da-Mongólia (vendidos em Brasília a R$ 30, oito reais acima do mercado), ou seja, animais da espécie de roedores que não podem ser chamados de ratos. Taí uma discussão que não tem a menor importância. Simbolicamente, são ratos assim como são ratos, os humanos que roem o tesouro público, infectam o ambiente social, corroem  costumes, leis e instituições. Entre gritinhos de espanto e uma caça feroz, os pequeninos seres cumpriram a missão, deixando a seguinte mensagem: quem com roedores se misturam em ratos bípedes se transformam. 

Para mim, indiferente que fossem da família dos ratus ratus (rato-preto), rattus novergicus (ratazana ou rato-de-esgoto), mus musculus (catitas) ou de outra qualquer família. São animais perigosos porque inteligentes. Porém,éforçoso reconhecer que são animais benfazejos quando imolados em experiências científicas para salvar vidas humanas. Seria injusto, também, não confessar meu especial especial carinho pela criação de Walt Disney: o Mickey Mouse, sua namorada, Minnie e seus amigos inseparáveis, Pateta, Pluto e Pato Donald. Mais injusto ainda, não ser grato ao rato tecnológico, o mouse, nosso guia nos passeios cibernéticos.

Agora, o rato bípede, este sim, tem feito um mal danado ao Brasil. Maior do que a transmissão da bubônica, do tifo, da toxoplasmose e do prejuízo àprodução de grãos (algo em torno de seis bilhões de reais), éa malignidade da nova espécie, o rattus rattus brasiliensis: devora a vergonha nacional e a esperançade um Brasil melhor.

De fato, o Parlamento que deveria ser o palco onde se manifesta, plenamente, a democracia representativa, transformou-se num teatro de horrores.

Diante do noticiário televisivo (12 de maio), dou de cara com uma cena de programa de calouros (sem ofensa aos programas). Um choque. Aliás, perdão pela palavra chula, assisti à esculhambação que se supera a cada dia: a doleira, Nelma Kodama, condenada a 18 anos de prisão por uma penca de crimes cometidos, nega que tenha carregado euros na calcinha (falta de espaço); ato contínuo, de costas para o plenário, bate no bumbum, para ilustrar que guardou a grana no bolso traseiro da calça (comprida, éclaro) e, com um sorriso cínico, entoa o hit de Roberto Carlos, amada amantepara ilustrar o amor demais amigo, sem preconceito e sem saber que édireitoque viveu com o delinquente Alberto Youssef. Não mentiu. Junto com ele, fizeram suas próprias leis.

Pensei que aquela seria a cena final da encenação de horrores a que somos obrigados assistir e conviver. Puro engano. E desta vez, a vítima foi uma das paixões nacionais: a bunda. E por ser uma paixão nacional deve ser encarada com elevação e respeito.

Na arte, o tema remonta a escultura grega (Afrodite) e romana (Vênus), exposta em diversos museus. Nelas, a Vênus Calipígia retrata a deusa do amor e da beleza com nádegas protuberantes por obra e graça de Zeus em troca de prazeres ilícitos.

Na sociologia e na antropologia, ninguém menos do que Gilberto Freyre escreveu notável ensaio intitulado, Bunda, paixão nacional, em que destaca a ondulada anatomia  das afro-brasileiras, objeto de admiração e de ardente desejo do brasileiro (v. Revista Playboy, n. 113, dezembro de 1984).

Tem mais: o recatado Drumond, na obra postumamente publicada em 1992, O amor natural, compõe o poema,Bunda, que engraçada, no qual verseja: A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio/anda por si na cadência mimosa/ no milagre de ser duas em uma, plenamente. O recatado e genial Drummond temia que o sensual/erótico fosse confundido com o pornográfico. Tinha razão. Que o diga a vulgaridade do "tchan" e das "popozudas".

Pois bem, um moleque da força sindical na sessão do Congresso Nacional do dia treze de maio, em protesto pela aprovação da MP 664, baixou a calça e praticou o ritual do bundalêlê. Cena repugnante de um cretino que profanou a paixão nacional. Enfim, um bundão!  

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