Nas três últimas décadas, o Brasil esteve, em dois momentos, à beira do precipício.
O primeiro foi o da hiperinflação. Segundo os economistas, a hiperinflação ocorre quando a alta generalizada de preços ultrapassa 50% ao mês. Em março de 1989, a inflação brasileira atingiu 81%. É um fenômeno devastador que leva á ruptura do tecido social. A crise econômica da Alemanha em 1923 é um caso clássico que resultou na tragédia do nazi-fascismo.
No caso brasileiro, de 1980 a 1994, a instabilidade econômica engoliu seis moedas e respectivos planos econômicos, 16 Ministros da Fazenda, com uma inflação média anual de 720%. Neste período, cada Presidente - Sarney, Collor, e Itamar – padeceu de um tipo de debilidade: Sarney com uma sucessão trágica; Itamar com a tarefa de transitar sobre uma precária “pinguela” a partir da queda de Collor.
Um improvável sucesso do plano de estabilização gerou uma nova moeda – o Real – sob a liderança do então Ministro FHC. Deu muito trabalho. E continua dando. No entanto, a cultura de estabilidade é, hoje, o grande esteio da moeda forte ancorada na autonomia operacional do Banco Central. À exceção da oposição petista, um surto de responsabilidade política deu marcha-ré na caminhada em direção ao precipício. O precipício ensinou.
Agora, o precipício é mais profundo. E as circunstâncias mais adversas. Sob o governo petista, a economia brasileira foi empurrada para beira do precipício por um fenômeno que os analistas chamam de “tempestade perfeita”, síntese da superposição de crises econômica, social, política e ética. Desta vez, os erros de condução da economia praticados pelo voluntarismo desenvolvimentista, associados ao maior esquema da corrupção da história ocidental, colocam o país na beira de um precipício de profundidade abissal.
Tempos de incertezas. Sombrios. Generalizada sensação de mal-estar. Centenas de espadas da Operação Lava Jato pairam sobre centenas de cabeças. Pois bem, neste cenário adverso, um surto de responsabilidade atentou para o precipício e aprovou a PEC dos gastos e com ela nasceu o orçamento brasileiro. Nada mágico. Um freio na insolvência do Estado brasileiro. E na economia a depender de reformas e medidas a serem tomadas por um governo impopular. A pedagogia do precipício clama pelo futuro.
A propósito, a economista Maria da Conceição Tavares que chorou copiosamente, prenunciando o fracasso do Real, definiu a PEC dos gastos como uma “invenção demoníaca". Bom presságio.