Administração dos Aeroportos e Aeronaves Brasileiros

João Maurício Adeodato, | seg, 14/10/2013 - 09:34
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A preocupação dos mais diversos profissionais brasileiros com a Copa Mundial de futebol que será realizada aqui depois de 64 anos é mais do que compreensível. O país já tem problemas de violência, trânsito, hotéis, transportes etc. que afastam turismo e investimentos estrangeiros, dentro da já proverbial incompetência de governantes, empresários e trabalhadores para organizar e oferecer serviços eficientes. Um grande exemplo de tudo isso está na administração dos aeroportos brasileiros. É impressionante o caos, não apenas pela falta de investimentos, mas, sobretudo, pela falta de ideias e dos mais simples princípios de lógica e da mais rasteira inteligência.

Talvez o leitor não viaje frequentemente, mas sabe que o funcionamento dos aeroportos de um país não é apenas um termômetro quando nele se realiza uma copa do mundo, mas indica o padrão de sua capacidade de administração e de educação de seu povo. Citarei aqui alguns exemplos que, se não fossem trágicos, seriam cômicos.

Começo pelo chamado “embarque preferencial”, aquele que privilegia passageiros idosos, com debilidades físicas ou acompanhando crianças, certamente uma boa ideia quando as filas se formam para embarcar por aquelas pontes cobertas, chamadas fingers (“dedos”, em bom português). O problema do embarque preferencial ocorre quando há embarques remotos, que constituem a imensa maioria dos embarques nos aeroportos “puxadinhos” do Brasil, aqueles feitos por meio de ônibus, que levam o passageiro do saguão do aeroporto até a aeronave. Aí não tem o menor sentido deixar as filas dos passageiros preferenciais entrarem antes, pois o caos no ônibus desfaz qualquer pseudo-organização dos iluminados burocratas que determinam essas regras. Como todos vão dentro do mesmo veículo, claro que o embarque no avião vai ser dos mais ágeis e menos educados, eliminando qualquer preferência. Tão néscia quanto, nesses embarques remotos, é chamar primeiro os passageiros com assentos na parte de trás da aeronave, pois novamente todos chegarão em um mesmo ônibus.

Sem contar que os administradores raramente colocam uma escada para possibilitar entradas separadas para os passageiros que têm assentos mais na frente ou mais atrás, embora todo avião possua as duas portas e o passageiro veja sempre diversas escadas sem uso no local.

Outro aspecto estupefaciente é a proibição de uso de celular a bordo. Acho que, como a maioria dos comissários e comissárias de bordo não tem treinamento repressivo, o controle é muito mal feito, inclusive sobre o chamado “modo avião” dos celulares. Penso também que a maioria dos passageiros não acredita que a utilização de aparelhos eletrônicos pode efetivamente interferir e prejudicar o funcionamento da aeronave; senão, por que não os proíbem simplesmente, como foi feito com tesouras e canivetes? Mal o avião aterrissa, ouvem-se as musiquinhas de celulares ligados em todo lugar. E diz-se que o perigo não está apenas na interferência sobre os controles, mas também na possibilidade de causar incêndios – daí não se dever utilizar celulares também em postos de gasolina, por exemplo.

Depois temos as regras exigidas por algumas companhias aéreas e não por outras, tais como a obrigatoriedade de abrir as persianas das janelas na decolagem e no pouso. Ora, isso leva à alternativa: ou as persianas abertas não constituem uma medida necessária ou as companhias que não a exigem estão colocando os passageiros e tripulantes em risco.

Outro exemplo é o tamanho da bagagem de mão, inteiramente aleatório, a cargo do micropoder do atendente de plantão. Numa mesma companhia, dentro de uma mesma aeronave, o passageiro que foi obrigado a despachar sua bagagem por excesso de tamanho é surpreendido ao ver o passageiro ao lado com uma mala muito maior do que a sua. Sem falar da regra nominal que disciplina o peso da bagagem de mão, à qual ninguém obedece, exatamente por seu caráter absurdo de limitar a 5 quilos o que cada passageiro pode portar.

As linhas da malha aérea mudam todo dia, sabe-se lá com base em que estatísticas, só guiadas pelo critério de número de passageiros e lucro, como se explorar o espaço aéreo não fosse uma concessão pública. Capitais e outras cidades importantes ligadas por voos diretos são raras.

Se a luz de leitura ou a bandeja dos assentos frequentemente está com defeito, o que pensar dos mecanismos mais sérios da aeronave?

Isso fora a péssima qualidade das lanchonetes nos aeroportos, em que pese o preço absurdo e as franquias milionárias, para não mencionar as “refeições” a bordo. E pode piorar, claro, saudades da Panair, saudades de Varig, quiçá no futuro saudades dos saquinhos de amendoim. E, inexplicavelmente, a economia feita à custa dos passageiros, além do acréscimo vergonhoso de 20 ou 30 reais para sentar em lugares um pouquinho mais espaçosos como as saídas de emergência, resulta nas passagens aéreas mais caras do mundo.

Muitas dessas questões seriam fáceis de resolver, bastaria uma reunião inteligente. E os problemas mais difíceis também precisam ser resolvidos, pois o usuário paga caro tanto pela passagem quanto pelas taxas de embarque cobradas pelos aeroportos. Arrematando, não é de estranhar: todos os países capitalistas sabem que qualidade e bons serviços custam caro aos empresários e só quem pode forçá-los nesse sentido é o governo ou o mercado. O mercado brasileiro pertence aos empresários e os governantes são seus melhores amigos: ai de nós.

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