Há um ano, a Terra se viu tomada por uma crise sanitária de proporções inimagináveis até então. A pandemia do novo coronavírus varreu o mundo, levando vidas - mais de 2.500.000 até o momento -, quebrando a economia e os sistemas de saúde em diversos países, e mudando para sempre o modo de habitar o planeta.
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No Brasil, o alarmante número de mais de 250 mil mortos pela Covid-19 precisou dividir as atenções dos brasileiros com outros problemas, também gritantes. A descoordenação do Governo Federal na condução da crise de saúde e a vacinação tardia e insuficiente, além do desemprego e da volta da fome à mesa de milhares de pessoas são temas que tiram o sono do país há pouco mais de 365 dias.
O cenário pandêmico imprimiu ao mundo uma nova maneira de viver. Com severas restrições de contato físico e convivência social, foi preciso adaptar-se ao uso de acessórios como a máscara de proteção individual, o consumo de álcool em larga escala e o uso massivo da tecnologia para tentar minimizar distâncias. Como não podia deixar de ser, as novidades recaíram, também, nas searas da arte e da cultura.
Segundo a pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, os setores da cultura e da economia criativa foram os mais afetados pela crise sanitária. Entre as organizações ligadas aos dois setores, ouvidas pelo estudo, mais de 40% disseram ter registrado perda de receita entre 50% e 100%. Sendo assim, desde o início da pandemia, tanto o consumo de produtos culturais quanto a forma de fazê-los têm passado por adaptações e tais mudanças, provavelmente, ditarão os rumos de artistas e do público daqui pra frente.
Para marcar o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, o LeiaJá faz um pequeno panorama das implicações da crise sanitária no mundo da arte e da cultura. Da televisão, passando pelos palcos do teatro, museus, telas de cinema e produção musical, muito precisou ser adaptado para que nem artistas, nem a audiência ficassem órfãos de trabalho - no caso dos primeiros - e de arte em um momento tão crítico.
Cinema e festivais
Com o agravamento da pandemia, ainda no início de 2020, sets de filmagem ao redor de todo o mundo foram esvaziados. Com o endurecimento dos protocolos de segurança preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), várias produções cinematográficas foram suspensas e estreias adiadas ou canceladas. As salas de cinema também precisaram ser fechadas, o que causou uma perda econômica bastante significativa à indústria.
Segundo o Hollywood Reporter, em 2020 a indústria cinematográfica norte-americana teve um faturamento 80% menor ao do ano anterior, fazendo 2,3 bilhões de dólares em detrimento dos 42,5 bilhões levantados em 2019. No Brasil, as bilheterias de 2020 chegaram perto dos R$ 646 milhões, um número 75% menor do apurado um ano antes da pandemia.
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O momento se tornou interessante, no entanto e dentro de várias limitações, para o cinema independente. Com equipes menores, bem como custos reduzidos, alguns realizadores continuaram produzindo, inclusive, tendo a própria crise sanitária e seus desdobramentos como tema, e as plataformas de streaming foram o caminho de escoamento dessa produção.
Os festivais também tomaram parte no meio digital para não deixarem de existir. A exemplo do Cine PE, que em sua 24ª edição, em 2020, adotou o ‘Novo’ como nome do evento que foi exibido pela internet e, também, pela televisão. Outros grandes festivais como o É Tudo Verdade, Mix Brasil, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e Varilux, fizeram o mesmo. Neste mês de março de 2021, o Animage, Festival Internacional de Animação de Pernambuco, segue esse caminho e promove 10 dias de programação totalmente online.
Vale a pena ver de novo - e de novo
Nas televisões, as necessidades de suspender produções e modificar programações foram as mesmas. As emissoras brasileiras Globo e Record, por exemplo, colocaram elencos e equipes técnicas de novelas para casa, no início de 2020, e lançaram mão das reprises de folhetins e outras atrações.
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O jornalismo acabou ganhando maior espaço, também. A exemplo do que aconteceu na TV Globo, que mexeu na sua grade matinal para exibir o Combate ao Coronavírus, que trazia uma cobertura ampla acerca da pandemia no país e no mundo. Outros programas da emissora remodelaram seus formatos e passaram a ser exibidos pelas redes sociais, como o Mais Você, de Ana Maria Braga e o Conversa com Bial, apresentado por Pedro Bial.
No final de 2020, com o afrouxamento de alguns protocolos de segurança, os estúdios da Globo voltaram a funcionar, porém com modificações. Equipes reduzidas e até mesmo o uso de barreiras físicas de alílicos entre atores passaram a ser adotadas no processo de produção. Novelistas também foram orientados a evitar cenas com beijos e abraços, a fim de minimizar o contato físico entre os artistas. Porém, alguns atores acabaram testando positivo para a Covid após a retomada, como Rafael Cardoso, Vladimir Brichta, Jéssica Ellen e Rodrigo Simas, e o ritmo de gravações voltou a diminuir. Ainda assim, as produções de Amor de Mãe e Salve-se quem puder conseguiram ser finalizadas em 2020.
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Nesse meio tempo, as plataformas de streaming acabaram abrigando parte de uma audiência quase órfã. Vários serviços abriram seus sinais, no primeiro momento da crise sanitária, como forma de aliviar o isolamento social, e viram seus números crescerem de forma exponencial. No Brasil, a plataforma Telecine Play registrou um crescimento de 400% no número de cadastros, durante a quarentena.
Pesquisa feita pela Convivas, uma plataforma de monitoramento de streaming, apurou que a audiência desses serviços de audiovisual cresceu 20% desde o início da pandemia de coronavírus. Em outro estudo, pesquisadores concluíram que, em comparação ao primeiro trimestre de 2019, os três primeiros meses de 2020 apresentaram aumento de 79% em horas vistas de vídeos sob demanda. Uma mudança que tende a ficar entre a audiência, independente do desenrolar da pandemia.
Nas próximas matérias, você vai ver como a indústria da música e o teatro se adaptaram aos tempos pandêmicos.