Tópicos | 1º trimestre 2015

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 33,264 bilhões no primeiro trimestre, queda de 24% na comparação com igual período do ano passado, informou a instituição de fomento em nota, nesta quinta-feira (14). As aprovações de novos empréstimos somaram R$ 21 bilhões, queda de 46%. Já as consultas, termômetro do ânimo das empresas em buscar crédito para projetos de longo prazo, somaram R$ 25 bilhões, recuo de 47% na comparação com os três primeiros meses de 2014.

Os dados divulgados pelo BNDES são nominais. Se fosse descontada a inflação, o recuo nos valores seria ainda maior. Segundo a nota, a queda é em parte explicada pela nova orientação do BNDES. "O Banco vem reduzindo os níveis de participação máxima em TJLP nos seus financiamentos, abrindo mais espaço para a presença do mercado de capitais no financiamento de longo prazo. O último ajuste neste sentido foi feito em dezembro de 2014", diz o texto.

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A equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem implementado mudanças no papel do banco, para reduzir o volume de crédito e, assim, cessar os aportes do Tesouro, que se tornaram a principal fonte de recursos da instituição. Com a redução do crédito, a nova orientação do BNDES procura privilegiar projetos considerados prioritários.

Com isso, os valores liberados para projetos de investimento no setor de comércio e serviços tiveram o maior tombo no primeiro trimestre: queda de 34%, para R$ 7,660 bilhões. O setor de infraestrutura, fortemente atingido pelos desdobramentos da operação Lava Jato, recebeu R$ 11,670 bi, queda de 25% ante o primeiro trimestre de 2014.

Já a indústria recebeu R$ 10,379 bilhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 17%. Os desembolsos para a agropecuária somaram R$ 3,555 bilhões, recuo de 13% em relação ao primeiro trimestre de 2014.

O BNDES também apontou a revisão das condições de crédito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) como responsável pela queda dos desembolsos. O PSI, que financia bens de capital com taxa fixa, foi criado em 2009 como estratégia de reação à crise internacional, oferecendo às empresas crédito fortemente subsidiado, por vários períodos com juros negativos (abaixo da inflação). Com a reorientação no papel do BNDES, o PSI foi renovado em 2015 com taxas mais elevadas e menos recursos.

"Embora permaneçam bastante competitivas, o aumento das taxas e a diminuição do nível máximo de participação do BNDES nos financiamentos afetou o desempenho do programa, conforme esperado. Com isso, o resultado do primeiro trimestre de 2015 ficou dentro das expectativas do BNDES", resume o banco.

As empresas começaram o ano dando mais calotes que no ano passado. O Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas apontou crescimento de 12,1% no primeiro trimestre de 2015, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo a empresa, esse é o maior porcentual nesta base de comparação desde 2012, quando o índice subiu 21,1% no primeiro trimestre daquele ano. De fevereiro para março, o índice teve alta de 11,9%. Na relação entre março de 2014 e março de 2015, o indicador registrou aumento de 20,4%.

Segundo a Serasa, todas as modalidades da inadimplência tiveram alta. As dívidas não bancárias (junto aos cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefonia e fornecimento de energia elétrica, água etc.) e a inadimplência com os bancos tiveram crescimento de 2,7% e 3,5% e contribuições de 1,1 pp e 0,7 pp, respectivamente. Os títulos protestados e os cheques sem fundos apresentaram alta de 29,5% e 20,6%, respectivamente, e contribuíram com 7,0 pp e 3,0 pp para a elevação do índice em março de 2015.

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Além do aumento em número, os calotes também inflaram no rombo provocado na conta dos credores. O valor médio dos cheques sem fundos teve alta de 12,6% no primeiro trimestre do ano, na comparação com o mesmo período de 2014. O valor médio dos títulos protestados e das dívidas não bancárias também apresentou crescimento de 7,7% e 4,1%, respectivamente. Já o valor médio da inadimplência com os bancos registrou queda de 15%.

Os investimentos totais do governo federal despencaram 31,3% no primeiro trimestre. A queda reflete o ajuste fiscal do governo, que afeta os gastos com investimentos. Dados do Tesouro Nacional divulgados nesta quarta-feira, 29, mostram que as despesas totais com investimentos somaram R$ 15,336 bilhões (valores já corrigidos pela inflação) nos três primeiros meses do ano. As despesas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tiveram queda de 37,3% no primeiro trimestre, somando R$ 10,587 bilhões.

Em março, os investimentos totais tiveram queda nominal de 26,7%, e baixa de 32,2% em valores corrigidos pela inflação. Já as despesas do PAC somaram R$ 2,961 bilhões, com queda real de 32,5% sobre o mesmo mês de 2014.

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O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, avaliou nesta terça-feira, 14, que no primeiro trimestre deste ano houve uma deterioração mais intensa do quadro econômico, se comparado com as condições observadas no fim do ano passado, quando foi apresentado o último Informe Conjuntural, estudo que apresenta as expectativas da entidade para a economia.

A CNI avalia que os ajustes promovidos pelo governo vão permitir que a meta de superávit para este ano, estabelecida em R$ 66,3 bilhões, seja alcançada. Segundo a entidade, as medidas revertem uma trajetória expansionista que vinha deteriorando as contas públicas. Na opinião do economista, entretanto, o ajuste fiscal não será suficiente se o governo não adotar um agenda positiva, com medidas que visam, por exemplo, a simplificação de procedimentos e redução da burocracia.

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Em fase de ajuste, a entidade espera um ano de dificuldades e com retorno do crescimento apenas em 2016. O destaque negativo será a performance da indústria, que deve se retrair 3,4% neste ano. "O setor de serviços, geralmente um setor de inércia muito grande, deve mostrar queda em 2015", lembrou Flávio.

O economista ressaltou que o consumo das famílias deve cair 0,6% neste ano. "Até a década passada, o consumo das famílias crescia até mais que o investimento. Isso reflete a perda de fôlego da capacidade de consumo, em parte porque a inflação aumentou", disse, chamando a recomposição de tarifas públicas e preços administrados nos últimos meses de "choque tarifário". Segundo ele, os números negativos da economia se refletem no mercado de trabalho e já é possível observar um recuo do emprego no País.

Na opinião de Flávio, também é preciso considerar riscos não econômicos, como a crise enfrentada pela Petrobras. "Todas as investigações, ações judiciais e deterioração econômica da empresa comprometem as decisões de investimentos da estatal e impactam na formação de investimento global do País", afirmou. As dificuldades de articulação do Palácio do Planalto com o Congresso também são considerados. "A base parlamentar do governo está menos coesa e isso dificulta um pouco a aprovação de medidas mais completas, causa mais volatilidade, mais incerteza", disse.

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