O consumidor brasileiro alterou o perfil de endividamento e substituiu o crédito tradicional, como os financiamentos para vendas de veículos e o de cartões, pelo crédito de saneamento, principalmente o consignado, com longo prazo e juros menores, segundo a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi). Desde dezembro de 2011 o consignado, por exemplo, subiu 36,8%. O crédito para veículos avançou 7,9% e o de cartões de crédito, 22,3%. "Há um esforço de troca de dívidas, substituindo dinheiro caro por mais barato", disse Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi.
O processo de restrição de crédito e a reformulação do orçamento familiar ajudaram na estabilidade no saldo de carteira, em torno de R$ 189 bilhões, mas trouxeram um recuo na inadimplência. "A qualidade do crédito melhorou, há ainda uma melhora da postura dos tomadores e uma qualificação maior pelas financeiras. Com a oferta e demanda mais qualitativas há uma queda na inadimplência", disse.
##RECOMENDA##Tingas considera que o cenário atual de crédito é uma fase intermediária e que haverá uma retomada no crescimento do setor em 2015. "No próximo governo teremos o avanço de medidas de garantia e novos produtos de crédito mais adequados, como a tentativa de ampliar o consignado para qualquer tomador, como microempresa e pessoa física, e não só aposentados e funcionários públicos", disse. "Teremos crédito mais longo para mais tomadores", completou Tingas.
Inércia inflacionária
O economista-chefe da Acrefi engrossou o coro de outros economistas e avaliou que há uma "inércia inflacionária" com o IPCA em torno de 6% ao ano, o que gera um ciclo de alta nos preços formado pelos repasses do indicador. No entanto, por conta do ano eleitoral, uma ação do governo só será tomada em 2015, segundo ele. "É preciso olhar a inflação como fenômeno amplo e importante; temos de fazer ataque frontal, mas neste momento não tem como", disse Tingas.
Ainda de acordo com o economista, o passivo de endividamento, somado à inflação alta e à carga tributária gera uma renda líquida menor ao consumidor, o que atinge o crédito. "Portanto, o que restringe o crédito é a renda líquida menor e não necessariamente o custo do dinheiro (alta nos juros)", concluiu.