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O ex-policial branco Derek Chauvin foi considerado culpado nesta terça-feira (20) da morte do afro-americano George Floyd, depois de um julgamento que se tornou um símbolo da violência policial contra as minorias nos Estados Unidos.

Um júri em Minneapolis, norte dos Estados Unidos, deliberou por menos de 11 horas antes de considerar de forma unânime Chauvin culpado das três acusações de assassinato em segundo e terceiro grau e homicídio culposo das quais era alvo pela morte de Floyd em 25 de maio de 2020.

Uma multidão reunida em frente à corte no centro de Minneapolis explodiu de alegria quando o veredicto foi anunciado ao final de um julgamento de três semanas. Muitos se abraçavam e choravam de emoção.

No tribunal, Chauvin, vestindo terno e gravata e solto sob fiança, foi algemado depois que o juiz Peter Cahill leu as decisões unânimes do júri multirracial formado por sete mulheres e cinco homens.

O ex-policial estava de máscara e não demonstrou qualquer emoção ao ser escoltado para fora da sala do tribunal, enquanto o irmão de George Floyd, Philonise Floyd, abraçava os promotores.

Chauvin pode pegar até 40 anos de prisão pela acusação mais grave: assassinato em segundo grau. O juiz proferirá a sentença mais adiante.

- Biden "aliviado" -

O presidente Joe Biden se disse "aliviado" ao saber do veredicto, durante uma conversa por telefone com familiares de Floyd que eles divulgaram nas redes sociais.

"Estamos todos tão aliviados", disse Biden. "Vocês são uma família incrível. Teria adorado estar aí para abraçá-los", acrescentou, prometendo levar os familiares de Floyd à Casa Branca no Air Force One.

No Salão Oval, o presidente fez um pronunciamento formal sobre o veredicto transmitido pela televisão.

Em sua fala, Biden denunciou o "racismo sistêmico" que "mancha" a alma dos Estados Unidos.

"O veredicto de culpa não trará George de volta", disse o presidente. Mas pode marcar o momento de uma "mudança significativa", acrescentou, pedindo unidade à nação e para não deixar que os "extremistas que não têm nenhum interesse na justiça social" tenham "êxito".

Mais cedo, o presidente havia considerado as provas do crime "devastadoras".

"Rezo para que o veredicto seja o correto. Acho que é devastador do meu ponto de vista. Não diria isto se o júri não estivesse isolado", disse Biden a jornalistas no Salão Oval, enquanto o júri deliberava a portas fechadas.

Em 25 de maio de 2020, Chauvin foi filmado em vídeo ajoelhado por mais de nove minutos sobre o pescoço de Floyd, mesmo quando o homem corpulento de 46 anos, algemado, implorava, "Por favor, não consigo respirar".

As imagens, registradas por pedestres que testemunharam a prisão de Floyd, acusado de comprar cigarros com uma nota falsa de 20 dólares, foram assistidas por milhões de pessoas dentro e fora do país.

- "Ponto de inflexão" -

O advogado Ben Crump elogiou a condenação de um ex-policial branco pelo "assassinato" do afro-americano George Floyd como "um ponto de inflexão na História" dos Estados Unidos.

"A justiça alcançada com dor finalmente chegou para a família de George Floyd", tuitou Crump, quando Chauvin foi declarado culpado.

"Este veredicto é um ponto de inflexão na História e envia uma mensagem clara sobre a necessidade de prestação de contas por parte das forças de ordem. Justiça para os Estados Unidos negro é justiça para todos os Estados Unidos!", disse.

Tropas da Guarda Nacional foram mobilizadas em Minneapolis e Washington, a capital do país, devido a temores de distúrbios.

Minneapolis tem sido cenário de protestos noturnos desde que Daunte Wright, um jovem negro de 20 anos, foi morto a tiros em um subúrbio desta cidade de Minnesota em 11 de abril por uma policial branca.

Cerca de 400 manifestantes marcharam na cidade na segunda-feira pedindo a condenação de Chauvin, repetindo em coro: "O mundo está olhando, nós estamos olhando, façam o certo".

- "Justificado" -

Em suas alegações finais nesta segunda-feira, a promotoria mostrou trechos do vídeo chocante da morte de Floyd.

"Podem acreditar no que viram", disse o promotor Steve Schleicher. "Não se tratou de vigilância policial, se tratou de assassinato", insistiu. "Nove minutos e 29 segundos de abuso de autoridade impactante".

"O acusado é culpado das três acusações. E não há desculpa", afirmou.

O advogado de defesa Eric Nelson disse ao júri que Chauvin "não usou força ilegal de propósito".

"Isto não foi um estrangulamento", disse, justificando as ações de Chaufvin e dos outros policiais que mantiveram Floyd no chão.

Segundo Nelson, a doença cardíaca de Floyd e seu consumo de drogas foram fatores decisivos para a sua morte.

Especialistas médicos da promotoria disseram que Floyd morreu devido à falta de oxigênio provocada pelo joelho de Chauvin em seu pescoço e que as drogas não influenciaram.

A defesa chamou um oficial de polícia aposentado que disse que o uso da força de Chauvin contra Floyd foi "justificado".

Os policiais que depuseram para a acusação, inclusive o chefe de polícia de Minneapolis, disseram que foi excessivo e desnecessário.

O veredicto também vai afetar os três ex-colegas de Derek Chauvin - Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao -, que serão julgados em agosto por "cumplicidade em assassinato".

A prefeita de Atlanta determinou nesta segunda-feira (15) reformas imediatas na polícia após a morte de mais um homem negro pelas mãos de um policial branco nesta cidade, um fato que atiçou ainda mais o escândalo e a indignação provocados pelo caso George Floyd nos Estadps Unidos.

"Nossos agentes da polícia devem ser guardiões e não guerreiros em nossas comunidades", disse Keisha Lance Bottoms, prefeita de Atlanta durante coletiva de imprensa.

Rayshard Brooks, um afro-americano de 27 anos, morreu na sexta-feira (12) no estacionamento de um restaurante de comida rápida em Atlanta, atingido por disparos feitos por um policial branco.

Bottoms qualificou o caso de "assassinato" e disse que "não deveria ter terminado dessa forma". O presidente americano, Donald Trump, mencionou o caso pela primeira vez nesta segunda.

A ordem executiva que Trump assinará na terça-feira incentiva levar adiante as "melhores práticas" nas forças policiais, mas também incluirá mudanças no sistema judicial. "Será sobre a lei e a ordem, mas também sobre a justiça e a segurança", acrescentou.

A morte de Brooks desencadeou novos protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos, já convulsionados pela morte de Floyd, um afro-americano morto em 25 de maio, asfixiado por um policial branco em Minneapolis.

O caso deu origem a uma onda de manifestações contra o racismo estrutural em todo o pais, muitos pedidos de uma profunda reforma policial e também incentivou os debates sobre a permanência de símbolos e estátuas que remetem ao passado escravocrata.

O Ministério Público do estado da Geórgia informou que está considerando denunciar Garrett Rolfe, o policial que atirou em Rayshard Brooks, e que foi demitido.

"Se esse tiro foi feito por alguma razão que não a de salvar a vida de um policial ou prevenir um dano a ele mesmo ou a terceiros, então os disparos não se justificam legalmente", disse o promotor do condado de Fulton, Paul Howard.

Stacey Abrams, ex-candidata democrata ao cargo de governadora da Geórgia, considerada como um possível nome para a vice-presidência do candidato democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro, também afirmou que a morte de Brooks foi um "assassinato".

"A decisão de atirar nele pelas costas talvez tenha sido tomada por impaciência, frustração ou pânico, mas nenhum delas justifica o uso de força letal", declarou Abrams ao canal de notícias CNN.

"Foi um assassinato", acrescentou.

Tomika Miller, esposa de Brooks, disse à rede CBS que Rolfe e o outro policial que estava com ele deveriam ser presos.

"Se meu marido tivesse atirado neles, ele já estaria na prisão", disse Miller. "Ele estaria cumprindo uma sentença de prisão perpétua", ressaltou.

- "Estamos cansados de sermos mortos" -

Centenas de manifestantes foram às ruas de Atlanta nesta segunda, em ato convocado pela seção da Geórgia da maior organização do país para a defesa dos direitos dos afro-americanos, a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, em inglês).

"Estamos cansados de sermos mortos", escreveu a NAACP em comunicado.

"A NAACP da Geórgia usará seu direito constitucional para exigir que os legisladores estaduais atendam às nossas exigências legais e garantam a reforma da justiça penal (...) e acabem com a violência policial contra nossas comunidades", acrescentou.

Lloyd Pierce, técnico do Atlanta Hawks, da NBA, falou com a multidão fora da Câmara dos Deputados do estado, onde os parlamentares da Geórgia se reuniam em sessão pela primeira vez desde o início da pandemia de coronavírus.

"Sei que um dia vou morrer como um homem negro, mas não quero morrer por ser um homem negro", disse Pierce.

A reforma da polícia tem sido uma das demandas mais persistentes dos manifestantes, que tomaram as ruas de várias cidades americanas.

A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, anunciou nesta segunda a criação de um grupo de trabalho para revisar o uso da força pela polícia.

O objetivo será "criar melhores políticas e melhorar o treinamento de nossos agentes, para que eles possam lidar adequadamente com as situações e sejam capazes de evitar qualquer uso excessivo da força", disse Lightfoot.

Na Califórnia, os sindicatos policiais em San José, San Francisco e Los Angeles condenaram a morte de Floyd, e prometeram revisar suas políticas sobre o uso da força, assim como remover policiais com conduta racista das ruas.

- "Desfinanciar a polícia" -

Alguns ativistas da esquerda estão usando como slogan o conceito de "interromper o financiamento da polícia", o que o presidente Donald Trump rapidamente usou para atacar seu adversário democrata na disputa pela Casa Branca, Joe Biden.

Por sua parte, Biden tentou distanciar o Partido Democrata desse movimento e, em vez disso, defendeu o aumento do financiamento para a vigilância comunitária.

A morte de Brooks ocorreu quando a polícia respondeu a uma queixa de que o homem estava dormindo em seu carro, e com isso impedia a entrada de novos clientes ao estacionamento do Wendy's, um restaurante de 'fast food'.

Um teste mostrou que Brooks havia bebido e, quando a polícia tentou prendê-lo, o jovem resistiu e começou uma briga.

Imagens do incidente, divulgadas pela polícia no último domingo, mostram uma briga entre policiais e Brooks, que consegue pegar a pistola Taser (arma imobilizadora) de um dos policiais e foge.

No entanto, enquanto a polícia afirma que "Brooks virou e apontou o Taser para o policial que portava uma arma", as imagens mostram que o homem vira de costas para o policial, que na sequência atira.

A necropsia indicou que Brooks morreu com dois disparos nas costas.

A sucursal do Wendy onde Brooks morreu foi incendiada por manifestantes no sábado.

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