"O grande combate é o combate consigo próprio". Com essas palavras, o professor Paulo Roberto Nunes, faixa preta, 5° DAN de Aikido, tentou explicar parte da filosofia latente na arte marcial japonesa que existe há quase 100 anos. O equilíbrio mental, como contou Paulo à equipe do LeiaJá, é mais importante até do que a aplicação das técnicas da modalidade.
No Aikido, inclusive, antigos ensinamentos defendidos pelo seu criador, Morihei Ueshiba, que faleceu em 1969, são mantidos. Um deles é a proibição de competições na modalidade. O professor Paulo explica que, dessa forma, o objetivo principal - a evolução mental do ser humano - fica preservado.
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"O combate técnico, a parte competitiva, não desenvolve fortemente isso. Quando a gente fala que as artes marciais são artes que devem ajudar no trabalho do autoconhecimento, é nesse sentido, aprender a vencer a si próprio e a se superar", conta Paulo.
E a superação define bem a história que conta como a modalidade surgiu. Morihei Ueshiba, praticante de diversas artes marciais e estudioso das filosofias asiáticas, foi desafiado para uma luta contra um oficial armado com um sabre. Apenas desviando das investidas, ele cansou seu opositor. Isso aconteceu em 1925, e em 1927 os ensinamentos do Aikido começaram a ser usados, depois que a história ganhou espaço. Mas só em 1948, o governo japonês permitiu o ensino do Aikido como uma arte marcial dedicada à promoção da justiça e da paz. A primeira apresentação pública só aconteceu nos anos 60.
"Eu não estou ensinando técnicas marciais, estou ensinando a não violência", era um dos lemas de Morihei Ueshiba. Importante para a construção das filosofias de paz do Aikido também, foram os oito anos passados nas montanhas de Ayabe. O tempo foi decisivo para seu amadurecimento espiritual pessoal antes de criar uma nova arte marcial. Nesse período, ele estudou filosofia Xintoísta e dominava o conceito de Koto-Tama.
Talvez, para a maioria das pessoas, essa imersão filosófica em uma luta pode ser incomum. Até mesmo para os próprios praticantes que no primeiro contato se surpreendem.
"Aqui a gente aprende um pouco mais além da luta, a gente aprende mais sobre nós mesmos, aprende a vencer nosso cansaço, nossa dificuldade. Eu gosto bastante (da parte filosófica), isso me motiva a pesquisar mais sobre o assunto, a realmente entender um pouco mais de como a gente pode ir além", diz a aluna Raissa Alves, que admite que desde que começou a praticar o Aikido acredita ser uma pessoa melhor.
Mas toda parte filosófica não quer dizer que não haja um combate na prática do Aikido, como explica o professor Paulo. "O combate existe, não existe a competição. A gente orienta esse combate para tomar consciência das nossas fragilidades, das nossas dificuldades e com a ajuda da técnica aprender a vencer essas fragilidades. Isso significa também preparar o aluno para o caminho da vida, não simplesmente para uma noção limitada de combate ou competição".
Professor Paulo, responsável por trazer o aikido para Pernambuco, fala inclusive da sua vida e de como ela foi alterada desde que conheceu a modalidade. “Mudou tudo, mudou minha maneira de estar presente no mundo, a minha maneira de me relacionar comigo próprio. Há muitos aspectos benéficos em todos os sentidos e principalmente você começa a superar pequenas situações como o medo de desistir, o medo da morte", garante.
Paulo Roberto Nunes, presidente da Associação Cultural Tenchi Internacional - Brasil, dá aulas semanais no Centro Cultural Georges Stobbaerts , localizado na rua Padre Anchieta, bairro da Madalena, zona norte do Recife.
*Fotos: Rafael Bandeira/LeiajaImagens