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O governo concedeu hoje (4) a nacionalidade brasileira às primeiras pessoas reconhecidas como apátridas na história do Brasil. Maha e Souad Mamo foram naturalizadas brasileiras em Genebra, na Suíça, durante encontro da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). A entrega do documento de nacionalidade foi feito pelo coordenador-geral do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Bernardo Laferté, e pela representante permanente do Brasil junto à ONU, embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo.

Em junho, as duas irmãs tiveram a condição de apátrida (em que o indivíduo não tem nacionalidade reconhecida) confirmada pelo governo brasileiro, no primeiro processo que teve como base a Lei de Migração, que entrou em vigor no ano passado. Antes da nova legislação, a designação de “apátrida” não existia no ordenamento jurídico do Brasil.

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Segundo o ministro da Justiça, Torquato Jardim, a primeira naturalização de apátridas simboliza um momento “histórico” para o país. “Ao conceder a nacionalidade brasileira a Maha e Souad Maho, o Brasil reafirma sua tradição de acolhimento aos vulneráveis e desassistidos e dá um exemplo ao mundo de que foi, e sempre será, um país comprometido com a erradicação da apatridia”, afirmou, durante a solenidade.

Nascidas no Líbano, as duas irmãs não puderam ser registradas no país, porque lá se exige que os nascidos sejam filhos de pais e mães libaneses. Seus pais, de nacionalidade síria, também não puderam registrá-las no país de origem. Na Síria, crianças só são registradas por pais oficialmente casados, o que não era o caso deles.

De acordo com a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo não têm nacionalidade. Por isso, são consideradas apátridas. Por falta de uma certidão de nascimento e outros documentos de identidade, muitas vezes elas são impedidas de frequentar escola, consultar um médico, trabalhar, abrir uma conta bancária, comprar uma casa ou se casar.

A nova Lei de Migração dispõe sobre medidas protetivas para os apátridas, facilitando garantias de inclusão social e naturalização simplificada para os cidadãos sem pátria. A legislação segue convenções internacionais de respeito aos apátridas e busca, com o direito a solicitar nacionalidade, reduzir o número de pessoas nessa situação. Caso os apátridas não queiram solicitar naturalização imediata, terão residência no país aceita em definitivo. Mesmo que a condição de apátrida não seja reconhecida por algum motivo, que cabe recurso, o indivíduo não poderá ser devolvido para países onde sua vida, liberdade ou integridade pessoal estejam em risco.

Pela primeira vez, o governo concedeu a nacionalidade brasileira a duas apátridas que receberam o reconhecimento por parte do estado. O anúncio ocorreu nesta quinta-feira, em Genebra, e as beneficiadas foram as irmãs Maha e Souad Mamo.

A iniciativa foi mantida em sigilo e o governo usou um evento na Organização das Nações Unidas (ONU) para informar Maha sobre a decisão. Com uma bandeira brasileira enrolada orgulhosamente no pescoço, a nova cidadã brasileira com 30 anos de idade não conteve as lágrimas. "No Brasil, pela primeira vez, andei como uma pessoa, e não como uma sombra", disse Maha.

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A naturalização foi entregue pelo Coordenador-geral do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), Bernardo Laferté, cujo avô era apátrida e foi acolhido no país. "O Brasil concede a nacionalidade a essas irmãs, reafirmando sua tradição de proteção de todos os imigrantes e seu compromisso de redução da apatridia no mundo", disse o representante do governo, que tampouco segurou as lágrimas.

Segundo ele, a iniciativa é resultado da nova Lei da Migração, que entrou vigor em novembro de 2017 e dedicou uma seção especial à proteção dos apátridas, garantindo residência e um processo de naturalização simplificada.

"A concessão de nacionalidade a Maha e Souad Mamo cumpre com o compromisso do Brasil de prevenir e erradicar a apatridia, conforme a Convenção da ONU sobre o Estatuto dos Apátridas e a Convenção da ONU para a Redução dos Casos de Apatridia - ambas promulgadas pelo País", indicou o governo, em um comunicado.

Dados do Alto Comissariado da ONU para Refugiados apontam para a existência de cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo que não possuem nacionalidade. Os resultados dessa situação levam muitos a não ter documentos de identidade e, portanto, não conseguem nem abrir uma conta bancária ou ter acesso ao sistema de saúde.

Apátridas do mundo

Em 2016, segundo levantamento da ONU, cerca de 60 mil pessoas apátridas que viviam em 31 países adquiriram nacionalidade. "A apatridia ocorre por várias razões, como discriminação contra minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país como cidadãos quando este país se torna independente e conflitos de leis entre países", explica o governo brasileiro.

O governo fez questão de qualificar como "histórica" a concessão da nacionalidade. "Ao conceder a nacionalidade brasileira às irmãs Maha e Souad Maho, o Brasil reafirma sua tradição de acolhimento aos vulneráveis e desassistidos e dá um exemplo ao mundo de que foi, e sempre será, um país comprometido com a erradicação da apatridia", disse o ministro da Justiça, Torquato Jardim.

O Brasil havia adotado um compromisso para ajudar um plano maior de redução da apátridas no mundo. "O compromisso teve início com a adoção das duas formas de nacionalidade originária, pelo solo e pelo sangue, e agora extensiva aos reconhecidamente apátridas por meio de um processo simplificado de naturalização", disse Laferté.

Apátridas do Brasil

As irmãs já tinham sido reconhecidas como apátridas pelo Brasil e foram acolhidas em 2014. De acordo com um comunicado do Ministério da Justiça, as duas pessoas beneficiadas e seus irmãos se encontravam "em um limbo jurídico que não os permitiu reconhecimento de nacionalidade no Líbano, país onde nasceram, nem na Síria, local de origem de seus pais".

"Pelo fato de serem de religiões diferentes, os pais não tiveram seu casamento registrado na Síria. Os filhos, que nasceram no Líbano, não foram reconhecidos como libaneses e nem como sírios", explicou.

"Sem pátria e documentação adequada, Maha e seus irmãos encontraram no Brasil o local onde puderam reivindicar seus direitos humanos básicos", disse o governo. Depois de passarem pela embaixada em Beirute, elas se mudaram ao Brasil em 2014 e, em 2016, foram reconhecidos como refugiados. Ainda não tinham nacionalidade, mas tinham pela primeira vez um documento de identidade.

Um dos irmãos de Maha e Souad acabou morrendo em um assalto no Brasil. Mas elas continuaram atuando como ativistas para a erradicação da apatridia e passaram a contar suas histórias pelo mundo.

Maha ainda tem tido um papel para ajudar a sensibilizar funcionários governamentais, parlamentares e equipes da ONU sobre o problema da apatridia e a importância de facilitar a naturalização de pessoas apátridas.

Em tempos de ânimos exaltados contra a presença de imigrantes no País, caso da reação aos venezuelanos que buscam oportunidades de vida por aqui, duas estrangeiras que também querem ser do Brasil estão a um passo de conseguir cidadania. As irmãs Maha Mamo, de 30 anos, e Souad Mamo, de 32, nascidas no Líbano, filhas de pais sírios de religiões diferentes - e, por isso, impedidas de ter uma pátria -, são as primeiras pessoas a conseguirem do governo brasileiro o reconhecimento oficial da condição de apátridas.

Depois de quase quatro anos no País, com status de refugiadas e, agora, na condição de apátridas, no dia 1.º de outubro elas devem completar os requisitos básicos exigidos pelo Ministério da Justiça para a naturalização. Nesta data, vão prestar o teste de proficiência na língua portuguesa. A partir da prova, poderão obter documentos brasileiros, ter residência garantida e, finalmente, deixar a apatridia - na qual passaram a vida toda. "Se Deus quiser, logo entro com pedido de naturalização", afirmou Maha, que mora em Belo Horizonte (MG) e trabalha com consultoria.

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Apátridas são pessoas impedidas de ter uma nacionalidade, em geral por razões políticas ou religiosas - caso de Maha e Souad. Elas são filhas de pai cristão e mãe muçulmana, proibidos de se casar na Síria. Para viver junto, o casal migrou para o Líbano, onde teve as crianças, que nunca tiveram um país. Já adultas, elas migraram para o Brasil. "O caso de Maha é uma novidade no Brasil", explicou André Furquim, do Departamento de Migrações do Ministério da Justiça.

Tragédia

Junto com Maha e Souad veio também o irmão, Edward, então com 26 anos. Os três foram acolhidos por famílias católicas de Belo Horizonte, onde passaram a viver. Eddy, como era chamado pelas irmãs, também era um sem pátria. Na noite de 29 de junho de 2016, ele foi vítima de uma tragédia: morreu em uma tentativa de assalto na capital mineira. A partir do episódio ocorrido com Eddy, Maha decidiu intensificar os esforços para deixar de ser uma "refugiada" no País e buscar a cidadania, condição com a qual o irmão sonhava.

Refugiados

No Brasil, segundo dados do Ministério da Justiça, 587 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no ano passado, 310 delas da Síria. A ONU calcula que haja mais de dez milhões de refugiados pelo mundo. Em 2016, segundo levantamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), "60.800 pessoas apátridas que viviam em 31 países adquiriram nacionalidade". Com o reconhecimento da condição especial de refúgio e a posterior possível naturalização, ambas passarão a ter os direitos civis de brasileiros, como ter passaporte e acesso ao sistema público de saúde. As restrições para naturalizados são aquelas dos direitos reservados a brasileiros natos, como concorrer à Presidência dos três Poderes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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