Às vésperas das legislativas de 9 de abril, ativistas do norte de Israel tentam convencer os moradores árabes a votar, mas eles se dividem entre os que querem votar ou boicotar as eleições.
Quatro partidos árabes participam das eleições em duas listas. Afirmam representar a minoria árabe (17,5% da população).
Em cada evento eleitoral, a história se repete. Têm que enfrentar as convocações de boicote feitas pelos árabes israelenses e a hostilidade dos partidos judaicos em um país com três quartos da população judia.
"Sucessivos governos israelenses condenaram a população árabe ao ostracismo" mas "nossa luta não deve estar ausente do Parlamento, é ali que se decide a lei", diz a candidata Sondos Saleh, da aliança de partidos árabes Hadash-Taal.
"Se os árabes boicotarem as eleições, o poder israelense vai eleger árabes que o representem e falem em seu nome", insiste diante de uma centena de moradores na parte antiga de Acre.
Um famoso rapper árabe israelense, Tamer Nafar, publicou na quinta-feira um vídeo em que pede que as pessoas votem.
"Ou votamos ou acabaremos expulsos da pátria", canta, enquanto aparece em um ringue lutando consigo mesmo para demonstrar as contradições da comunidade.
Ao contrário, em um bairro árabe da cidade de Haifa, indivíduos não identificados cobriram cartazes eleitorais com a inscrição em vermelho: "Vou votar quando os mártires forem votar", em alusão aos mortos no conflito entre israelenses e palestinos.
Os árabes israelenses são descendentes de palestinos que ficaram em suas terras após a criação do Estado de Israel, em 1948. A imensa maioria é de muçulmanos, mas também há cristãos e drusos. Têm cidadania israelense e direito ao voto.
- Repúdio ou adesão -
Eles se debatem entre a solidariedade aos palestinos e a adesão ao Estado de Israel, entre a participação e o repúdio ao sistema parlamentar.
Afirmam ser vítimas de discriminação e negligência por parte das autoridades. Quase 50% da comunidade vivia sob o umbral da pobreza em 2015. Comparativamente, o índice de pobreza em outros grupos de Israel (exceto os judeus ultraortodoxos) era de 13,5%, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
Em 2015, 64% dos eleitores árabes foram às urnas.
"Por enquanto, a participação dos árabes é estimada em 51%", afirma o analista A'as al Atrache, radicado em Nazaré. O boicote ganha adeptos entre os jovens de 18 a 30 anos, que fazem campanha nas redes sociais, acrescenta.
Uma situação que se deve às divisões entre partidos árabes e a frustração com os resultados obtidos no Parlamento.
Em 2015, os partidos árabes apresentaram uma lista única para poder alcançar os 3,25% de votos requeridos para entrar no Parlamento. Obtiveram um resultado histórico: 13 assentos do total de 120.
Este ano, concorrem em duas listas: Hadash-Taal, laica, e Raam-Balad, uma aliança entre um partido nacional árabe e um movimento islamita.
- Quinta coluna -
No mesmo encontro do qual participa Sondos Saleh, o pesquisador e ativista Alif Sabbagh defende o boicote.
Ele distingue três categorias de não votantes: os que não votam nunca porque Israel é um "Estado de ocupação e colonialista", os que se desesperam com a falta de resultados com a representação parlamentar e os indignados com as leis recentes, segundo eles, discriminatórias.
A Knesset votou em 2018 a lei do "Estado-nação judeu", que infundiu medo entre os israelenses não judeus. Eles temem que os torne em cidadãos de segunda classe, ao fazer prevalecer o caráter judaico do país sobre outros princípios, como democracia e igualdade.
O primeiro-ministro de direita, Benjamin Netanyahu, acentuou o temor, declarando que Israel "não é o Estado de todos os seus cidadãos (...) Israel é o Estado-nação do povo judeu e unicamente do povo judeu".
A direita costuma equiparar os partidos árabes a uma "quinta coluna" anti-israelense.
O candidato de direita Oren Hazan publicou um vídeo inspirado em uma cena do clássico filme de faroeste "Três homens em conflito", em que aparece no banheiro, sacando um revólver para matar o deputado árabe Khamal Zahalka.