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Estar rodeado de pessoas queridas para celebrar mais um ciclo de vida acaba sendo algo raro para os nascidos no dia 29 de fevereiro. Embora todo ano uma festinha dê boas-vindas à idade nova, o gosto especial de viver o "seu dia" fica restrito a cada quatro anos, quando o dia é inserido no calendário. Conhecidos como 'saltadores', pela relação íntima com o tempo, muitos brincam com a capacidade de "enganá-lo" e um suposto poder de longevidade. Além da conexão e o sentimento de privilégio com a data incomum, eles compartilham uma sensação especial de orgulho.

Acostumados a celebrar o aniversário em dias que não marcam seu nascimento - geralmente 1º de março ou 28 de fevereiro - eles são forçados a enfrentar a crendice popular que determina que festejar com antecedência ou atraso traz má sorte para o decorrer do ano. Assim como dão um ‘calote’ no tempo, frases populares como “só te pago no dia 29 de fevereiro”, servem para enganar cobradores e constatar a baixa frequência da data, que a torna quase inexistente. 

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Com um 2020 bissexto e o acréscimo em fevereiro, a reportagem do LeiaJá conversou com alguns ‘saltadores’ para conhecer suas impressões e experiências passadas. Desde 2016 sem celebrar no dia do nascimento, eles não alteraram a documentação e exaltam a escolha com orgulho.

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Ao destacar a lei de registros, a presidenta da Associação dos Registradores das Pessoas Naturais do Estado de Pernambuco (Arpen), Anita Cavalcanti, afirma que não há impedimentos para que a criança tenha a data nos documentos. "Em momento nenhum a Lei 6.015 faz menção às pessoas nascidas no dia 29 de fevereiro. Não há diferença, o registro é normal como qualquer outro", pontua. 

Com o boato que os bissextos passariam a ser registrados nos dias entre o 29, ela reforça que os cartórios devem cumprir o encaminhamento feito pelas maternidades e os aniversariantes não serão lesados futuramente. "O cartório tem a obrigação de aceitar o que tem na Declaração de Nascidos Vivos. Em momento nenhum a gente pode mudar a data que consta ali", complementa.

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“Ano eu comemoro em todos, aniversário só de quatro em quatro”

Jailam das Chagas, nascido em 1976, admite que chegou a esquecer um de seus aniversários e, como habitual, organizou a festança para o dia 28. Só durante a comemoração, ele foi lembrado que o dia seguinte marcava de fato o seu nascimento e, para “não passar em branco”, fez mais uma comemoração. No entanto, o que impressiona é o fato do proprietário de uma lanchonete na Zona Norte do Recife revelar que a meia-irmã também é bissexta. Ele reforça que está ansioso para a chegada dos 44 anos e planeja fazer uma festa junto com a meia-irmã Valéria.

O adolescente Dannilo Miranda também descreve um sentimento diferente para 2020. Na espera dos seus 16 anos, desde 2004, o estudante só vivenciou três anos bissextos, ainda muito novo. A mãe Cláudia Pessoa conta que retornou ao cartório para corrigir a vontade do escrivão, que não optou por não colocar o nascimento correto na certidão do menino. Como é seu primeiro “aniversário”, a mãe garante que ele vai ganhar um "festão" com todos os amigos.

Devido à condição, Jéssika Malheiros não pôde nem ter a tradicional festa de 15 anos. Às vésperas dos seus 33 anos, ela garante que não se importou em não realizar o baile de debutante e que a grande celebração é dividir a data com quem ama. A dona de casa também pretende comemorar este ano de forma especial e relata tentativas humoradas do pai para não dar presente.

A despedida de 2019 trouxe consigo um dia a mais no calendário de 2020. Após quatro anos, o dia 29 retorna temporariamente ao mês de fevereiro, classificando 2020 como um ano bissexto. Tal acréscimo é fruto de cálculos matemáticos e análises astronômicas realizadas com o advento tecnológico do período das grandes navegações. O LeiaJá conversou com um especialista para elucidar as causas desse fenômeno.

A evolução da astronomia acompanha a existência da humanidade. Após deixar de lado a vida nômade e fixar moradia, o ser humano começou a plantar para sobreviver e constatou que o céu influenciava no plantio. Atentos às estações do ano devido a época da colheita, com o passar do tempo foi percebido que os cálculos não batiam. "As estações começaram a dar errado, quando se previa o verão vinha o inverno. Por que a cada ano, um dia ia ficando para trás", explica o professor de astronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Antônio Carlos Miranda.

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Os romanos até tentaram corrigir o erro no calendário Juliano, mas privações tecnológicas e o entendimento geocêntrico - a Terra no centro do sistema solar -  não demarcaram um dia específico, por isso, o acréscimo variava entre os meses a cada três anos. A modificação efetiva só veio em 1582 com o calendário Gregoriano, que até hoje rege a cultura ocidental. O especialista destaca que se não houvesse o ano bissexto, a cada 700 anos o Natal seria 'invertido'.

"Rigorosamente falando, não são apenas 365 dias. Tem uma pequena diferença, pois o ano tem 365 dias, 48 minutos e 10 segundos", pontua. Logo, o ano bissexto é uma forma de compensação, contudo, um algoritmo matemático verifica que a cada oito mil anos seriam necessário implementar dois dias ao ano.

O professor explica que, além do movimento terrestre de translação - em torno do Sol, que determina o ano - e de rotação - em torno do próprio eixo, que determina o dia -, a precessão dos equinócios é outro agente influenciador. "Lembra um pião quando perde velocidade, ou seja, o eixo de baixo fica fixo, mas a ponta de cima fica 'bambaleando'", ele complementa que essa movimentação se completa a cada 26 mil anos. Além disso, o próprio movimento solar, que gira em torno da galáxia e atrai consigo os planetas, faz com que o ano tenha diferença a cada translação.

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