Tópicos | Caso Ágatha

Por orientação da defesa, os 11 policiais militares envolvidos, direta ou indiretamente, na morte da menina Ágatha Félix, se recusaram a participar da reprodução simulada do momento da morte da menor, realizada na noite desta terça-feira (1º), no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Antônio Ricardo, disse que a simulação poderá revelar se havia troca de tiros no momento da morte de Ágatha, na noite do dia 20 de setembro, conforme sustentam os PMs, ou não, conforme relatos de testemunhas.

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"Nós esperamos chegar à conclusão sobre quem efetuou o disparo que matou a menina Ágatha. Nós queremos confrontar as versões apresentadas em sede policial com o que nos podemos presenciar aqui no local. A ideia é saber se houve confronto ou não", disse o delegado, momentos antes de iniciar a reconstituição.

A Kombi onde a estudante estava, juntamente com a mãe e outros passageiros, foi levado ao local, na Fazendinha, no Complexo do Alemão.

Para garantir a segurança da perícia, foi mobilizado um contingente de 70 policiais civis e três carros blindados, conhecidos como caveirões.

 

A morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada no interior de um veículo no Complexo do Alemão, levou governistas e partidos alinhados à política de segurança a reforçarem a defesa do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, no grupo de trabalho que analisa a proposta.

Uma das medidas em discussão no grupo é a redução ou mesmo isenção de pena a policiais que causarem morte durante sua atividade - o chamado excludente de ilicitude. Grupos ligados a movimentos negros e de direitos humanos usaram cartazes com dizeres como "licença para matar não" e "parem de nos matar" para condenar a morte de Ágatha e criticar a proposta que foi uma das principais promessas do presidente Jair Bolsonaro na campanha.

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A presença do líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), acontece menos de uma semana depois da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) anunciar a saída do partido de Bolsonaro da discussão do pacote no grupo de trabalho. Insatisfeita com derrotas consecutivas no grupo, Zambelli abandonou o colegiado e foi criticada pelo relator, deputado Capitão Augusto (PL-SP), na semana passada.

Em seis meses de trabalho, foi a primeira vez que o líder do governo apareceu para defender o texto. "Mantemos o apoio à proposta original do ministro Moro por entendermos que ela representa os anseios da sociedade. Vamos resgatar a proposta original no Plenário", afirmou o líder do governo apoiando ainda a atitude de Zambelli.

Desde o início da discussão do pacote anticrime, os deputados governistas reclamam da composição do grupo de trabalho. Formado em março pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em resposta às cobranças públicas de Moro para acelerar a proposta, o grupo não seguiu a regra de proporcionalidade da Casa que daria ao PSL mais cadeiras.

A divisão foi feita a critério do presidente da Câmara, que optou por um grupo mais "legalista", ou seja, de parlamentares que defendem mais o direito do indivíduo e, normalmente, são os mais críticos à atuação da Lava Jato.

Excludente

O grupo adiou para a quarta-feira, 25, a discussão sobre a redução ou mesmo isenção de pena a policiais que causarem morte durante sua atividade. O tema ganhou força nos últimos dias por conta do assassinato de Ágatha.

"Hoje, estamos aqui pela primeira vez vendo uma sessão prestigiada. Nós sabemos a razão disso. Tem um nome: Ágatha. O nome Ágatha que justificativa essa concentração de atenção do Brasil. Se não fosse o fuzilamento de Ágatha estaríamos aqui sete, oito ou dez no máximo. E eu falo fuzilamento porque foi um tiro de fuzil", afirmou o deputado Fábio Trad (PSD-MS).

Representando a liderança do Novo, deputado Paulo Ganime (RJ), colocou em xeque a legitimidade do grupo e reafirmou apoio integral do partido ao texto original de Moro. "Não foi respeitada a proporcionalidade da Câmara", afirmou o parlamentar que compareceu pela primeira vez ao grupo.

"Não podemos ser deslegitimados pelos perdedores de plantão", afirmou o Paulo Teixeira (PT-SP) em reação às colocações.

"Querer manchar o relatório, manchar o que estou propondo aqui no excludente ilicitude. Chega a ser leviano, se não demagogo. O texto jamais livraria, caso seja comprovada a ação militar, de punição", afirmou Capitão Augusto.

Durante a sessão, os grupos "Coalizão por Direitos na Rede", "Coalizão Negra por Direitos", "Rede Justiça Criminal", "Conectas" e "Frente das Mulheres Negras do DF e entornos" levantaram cartazes com os dizeres "parem de nos matar" e "licença para matar não", em referência à proposta de excludente de ilicitude.

Progressão

Os deputados aprovaram o fim da progressão de regime para presos condenados por crimes hediondos que resultam em morte. Se a proposta foi apresentada no pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, analisado pelo grupo de trabalho na Câmara.

Se estivesse em rigor, a regra impediria a progressão de regime de Alexandre Nardoni, condenado pelo assassinato de sua filha Isabella, em 2010. Nardoni foi condenado a 30 anos de prisão pela morte da filha. Em abril desde ano, ele conseguiu a progressão para o regime semiaberto por conta do bom comportamento na prisão.

O texto foi apresentado pelo deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) em uma proposta do Subtenente Gonzaga (PDT-MG) que alterou as regras para progressão de regime na Lei de Execução Penal. Hoje, a legislação prevê como regra para que o preso tenha direito a mudança do regime que o preso tenha bom comportamento e 1/6 da pena.

Os deputados divergiram sobre a necessidade de mudar a progressão. Os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ) foram contras as mudanças sob o argumento de que o novo texto aumentaria o encarceramento no País. O relator do pacote, Capitão Augusto (PL-SP), aceitou a sugestão e incorporou a proposta que foi aprovada.

Em casos de crimes hediondos - homicídio qualificado, crimes de extermínio, roubo seguido de morte, extorsão qualificada pela morte, a extorsão mediante sequestro e até corrupção -, hoje, a progressão começa a valer quando o preso cumprir 2/5 da pena e, em casos de reincidência, 3/5 da pena.

Pelo texto aprovado no grupo de trabalho, apenas em casos de crime sem violência ou grave ameaça, o preso que cumprir 1/6 (16%) da pena poderá passar para um regime mais brando como o semiaberto ou aberto. Se for reincidente, o benefício é permitido a partir do cumprimento de 20% da pena. Para os demais crimes, há uma nova forma de progressão.

Em casos de violência ou grave ameaça, a progressão só poderá ocorrer ¼ da pena. Em caso de reincidência nesses crimes de pena, o benefício passa a valer a partir do cumprimento de 30% da pena. Se o preso exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou milícia a progressão só acontece após o cumprimento de 40% da pena. O mesmo valeria condenado pela prática de crime hediondo sem morte, desde que o réu for primário.

Líder do PSB na Câmara, o deputado Tadeu Alencar (PE) considerou a morte da menina Ágatha Vitória, no Rio de Janeiro, um precedente que pode derrubar parte do pacote anticrime do governo federal, no que trata da figura do excludente de ilicitude. Ágatha foi vítima de um tiro que, segundo testemunhas, foi disparado por um soldado da Polícia Militar do Rio. Pela figura jurídica do excludente de ilicitude, um policial pode matar sem sofrer punição, se for a serviço e em situação de perigo.

“Nós estamos falando do bem jurídico maior, a vida. O exemplo trágico de Ágatha, ceifada brutalmente no verdor dos seus 8 anos, nos faz pensar. O excludente de ilicitude, a pretexto de defender os policiais, termina por gerar uma sensação de que tudo é permitido, abolindo-se as cautelas que devem sempre ter quem exerce função tão essencial à vida em sociedade”, considerou o parlamentar, acrescentando: “Não tem outra expressão. É uma verdadeira licença para matar”.

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O pacote anticrime, elaborado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, está sendo discutido na Câmara dos Deputados. A tendência demonstrada pelas reações de deputados ao assassinato da menina Ágatha, de acordo com Tadeu, é de que o excludente de ilicitude seja derrubado e retirado do projeto.

Ágatha foi morta por volta das 21h30 da última sexta-feira (20). Ela voltava com sua mãe para casa quando a kombi em que estava parou para pegar um passageiro. Neste momento, a menina foi alvejada por um tiro. Segundo versão apresentada por ocupantes da kombi, o tiro seria em direção a uma moto. Segundo a PM, houve confronto com traficantes, mas moradores negam esta versão.

*Da assessoria de imprensa

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