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Um inédito concilio ortodoxo de primazes e bispos começou neste domingo, em Creta, depois de um milênio, mas será ofuscado pela ausência de várias Igrejas, como a russa.

"Pedimos a todos a unidade", é a mensagem evangélica deste concílio que visa a por fim a rivalidades políticas e territoriais das 15 Igreja autocéfalas que formam a "comunhão ortodoxa", com mais de 250 milhões de fieis em todo o mundo.

A Academia Ortodoxa de Creta espera receber ao menos 500 bispos e 250 conselheiros para este encontro de uma semana.

A data não foi escolhida aleatoriamente, já que neste domingo se celebra o Pentecostes, uma festa da Igreja cristã.

Mas a "divina liturgia" inaugural não ofereceu ao mundo a imagem de coesão esperada, já que o patriarca de Constantinopla Bartolomeu, informou que estarão ausentes vários primazes, como o patriarca "de toda a Rússia", Kirill, um dos mais influentes.

O evento era muito esperado devido ao fato de que os hierarcas ortodoxos já não se reúnem em um grande concílio desde o cisma de 1054 entre Roma e Constantinopla. Sua última participação em um evento similar, que supostamente tratou de questões doutrinares, remonta a 787, data do sétimo e último concílio, o de Niceia II.

A celebração deste concílio, em preparação há mais 50 anos, foi estabelecida no final de janeiro, durante uma reunião de primazes em Genebra.

Optou-se por consenso na elaboração dos textos, apesar do risco de favorecer os assuntos com os quais todos concordam.

Só há seis temas na ordem do dia e, aparentemente, a metade não parecem ser de muito interesse, segundo o historiador Antoine Arjakovsky.

- 'Concílio selfie' -

Os temas tratados são o ecumenismo, a diáspora e a autonomia das Igreja locais.

Também serão discutidos o jejum, que não gera grande debate e principalmente a família, tratada de maneira "muito cautelosa para responder aos desafios contemporâneos", afirmou Carol Saba, conselheiro do patriarca de Antióquia.

"Às vezes se diz que o único ponto de verdade na agenda é a foto do grupo", diz o especialista em ortodoxia Jean-François Colosimo, que fala de um "concílio selfie".

"Mas se o concílio for mantido, parabéns para Bartolomeu. Não podemos pedir muito mais a um mundo ortodoxo que sai dos escombros", acrescentou, referindo-se ao eslavo pós-comunista e a um Oriente Médio estável.

Mas se desconhecia sob que forma seria realizado o concílio. O patriarca de Antióquia foi o primeiro a pedir um adiamento, aborrecido ao ver que o primaz de Jerusalém questionava sua jurisdição sobre o Qatar.

Além disso, as Igrejas da Bulgária e da Geórgia anunciaram que não compareceriam por causa da ausência de vários temas importantes.

Da mesma maneira, a Sérvia ficará de fora, por acha que o encontro em Creta é uma simples reunião preparatória.

A Igreja russa se baseia nessas oposições para pedir um adiamento e dar o golpe definitivo.

Sem Moscou e seu patriarca Kirill, mais influente do que nunca depois de seu encontro com o papa Francisco em fevereiro em Havana, o concílio terá dificuldades para ser reconhecido como "pan-ortodoxo".

O Papa Bento XVI lançou nesta quinta-feira o "Ano da Fé" coincidindo com o aniversário de 50 anos do histórico Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja católica, e convidou os 1,2 bilhão de católicos do mundo a recuperar a "tensão positiva" daquela ocasião.

Centenas de bispos provenientes de todas as partes do mundo fizeram uma procissão pela Praça de São Pedro, num ato parecido com o realizado em 11 de outubro de 1962, quando teve início o Concílio Vaticano II.

Ao se aproximar do altar na esplanada, os bispos entoaram um hino composto especialmente para o "Ano da Fé".

Quatorze dos 70 religiosos que participaram no Concílio Vaticano II (1962-65), entre eles o monsenhor Leonardo Felice, de 97 anos, ex-arcebispo de Cerreto (Itália), estavam na procissão.

Também se encontravam presentes o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, e o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo Rowan Williams.

A cerimônia inaugural deste "Ano da Fé", que será celebrado até novembro de 2013, foi marcada pela recordação do Concílio que modernizou a Igreja depois da convocação do Papa João XXIII, que reuniu então 2.250 bispos provenientes de todos os continentes.

Bento XVI aproveitou o lançamento do "Ano da Fé" para fazer um apelo aos católicos para que se inspirem nos documentos do Concílio Vaticano II, "uma expressão luminosa da fé", e para que recuperem a "tensão positiva" de então.

Lamentou, no entanto, o "deserto que a fé atravessa em alguns países", mas assegurou que "também no deserto se pode voltar a descobrir o valor que é essencial para viver".

Por sua parte, o patriarca da Igreja ortodoxa de Constantinopla, Bartolomeu I, parabenizou o diálogo dentro da Igreja católica.

"Nossa presença aqui mostra nosso compromisso para lançar a mensagem de salvação para nossos irmãos mais humildes: os pobres, os marginalizados", explicou.

Ao final da cerimônia, o Papa mandou várias "mensagens ao povo de Deus", como fez Paulo VI em 1965, no encerramento do Concílio Vaticano II.

Segundo os estudiosos, para o Papa alemão, o Concílio Vaticano II sofreu inúmeros desvios e não deu todos os frutos que deveria, mas continua sendo para a Igreja Católica o principal acontecimento das últimas décadas.

O 21º Concílio da história católica permitiu a abertura de uma instituição imóvel em relação às realidades do mundo e permitiu um "aggiornamento" ("modernização") sem precedentes da Igreja, segundo o termo escolhido pela pessoa que o convocou, João XXIII.

Dirigido pelo chamado "Papa Bom" e depois por Paulo VI, o Concílio trouxe consigo várias mudanças, entre elas a missa em idiomas vernáculos, a liberdade religiosa, a colaboração com outros credos cristãos e o respeito absoluto de outras religiões.

Cinquenta anos depois deste encontro que reuniu 2.251 bispos em Roma, hoje a Igreja está em crise com uma deserção em massa de fiéis, dificuldades de transmitir a mensagem evangélica, crise vocacional e a existência de inúmeros escândalos de corrupção e pedofilia.

As correntes conservadoras da Igreja atribuem tudo isso a uma interpretação errônea do Concílio, pois, para elas, as pessoas deixaram de falar de Deus e a religião não é mais ensinada corretamente.

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