Tópicos | Crescimento populacional

Sete cidades brasileiras que registraram um aumento populacional acima de 40% nos últimos 12 anos superaram a marca dos 100 mil habitantes. São elas: Senador Canedo (GO), Fazenda Rio Grande (PR), Luís Eduardo Magalhães (BA), Sorriso (MT), Camboriú (SC), Nova Serrana (MG) e Sarandi (PR).

Nesta quarta-feira (28), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou as primeiras informações populacionais do Censo 2022, revelando que o Brasil registrou um aumento de 12,3 milhões de habitantes desde 2010, quando houve a última operação censitária. Dessa forma, vivem no país um total de 203 milhões de pessoas.

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Entre os dados já divulgados pelo IBGE, está a lista dos maiores aumentos percentuais considerando cidades que possuem atualmente mais de 100 mil habitantes. As taxas variam entre 84,3% e 38,5%. Dos municípios relacionados, 13 já tinham ao menos 100 mil habitantes em 2010. Os outros sete, que tiveram ao menos 40% de crescimento populacional, atingiram essa marca ao longo dos últimos 12 anos.

Chama atenção que mais da metade dos municípios relacionados situam-se no Sul e no Centro-Oeste. Destaca-se o estado de Santa Catarina, com quatro cidades na lista: Camboriú (SC), Palhoça (SC), Itajaí (SC) e Chapecó (SC). Contando ainda Fazenda Rio Grande (PR) e Sarandi (PR), o Sul aparece com seis representantes.

Entre as cidades do Centro-Oeste, está Senador Canedo (GO), que lidera a lista, com um crescimento de 84,3%, saltando de 84.443 habitantes em 2010 para 155.635 em 2022. Aparecem ainda Sinop (MT) na 4ª posição, Sorriso (MT) na 6ª posição, Valparaíso de Goiás (GO) na 11ª posição e Águas Lindas de Goiás (GO) na 18ª posição.

Os dados divulgados pelo IBGE também revelam um intenso crescimento populacional no Centro-Oeste a partir das capitais. É a única região do país onde houve aumento em todas elas. As taxas superam 10% em todas as três capitais estaduais: Goiânia, Campo Grande e Cuiabá.

Confira a lista das cidades com mais de 100 mil habitantes que tiveram maior crescimento populacional em termos percentuais:

1. Senador Canedo (GO) 84,3%

2. Fazenda Rio Grande (PR) 82,3%

3. Luís Eduardo Magalhães (BA) 79,5%

4. Sinop (MT) 73,4%

5. Parauapebas (PA) 73,1%

6. Sorriso (MT) 66,3%

7. Camboriú (SC) 65,3%

8. Palhoça (SC) 62,1%

9. Maricá (RJ) 54,8%

10. São José De Ribamar (MA) 50,0%

11. Valparaíso De Goiás (GO) 49,5%

12. Rio Das Ostras (RJ) 48,1%

13. Boa Vista (RR) 45,4%

14. Itajaí (SC) 44,0%

15. Nova Serrana (MG) 43,2%

16. Sarandi (PR) 43,0%

17. Santana De Parnaíba (SP) 41,6%

18. Águas Lindas De Goiás (GO) 41,6%

19. Chapecó (SC) 38,8%

20. Paço Do Lumiar (MA) 38,5%

O século XX passará para história pelas profundas transformações que marcaram a evolução da humanidade. Sobre o tema, “Era dos Extremos”, o denso livro do historiador Eric Hobsbawm define o século XX, como o “século breve e extremado”, tomando como ponto de partida início da Primeira Guerra Mundial, 1914, e 1991, ano em que, na visão do historiador, se consuma o fim do império soviético e a ordem mundial bipolar, daí emergindo o mal-estar das incertezas sobre a configuração de uma nova ordem mundial. Para Hobsbawm, a contagem dos tempos não obedeceu ao calendário gregoriano; fatos e eventos é que definiram os marcos da evolução histórica.

De fato, a abrangência e a complexidade das mudanças não permitem estabelecer hierarquia na importância dos seus impactos na vida das pessoas. No entanto, impossível não atribuir singular dimensão ao fenômeno demográfico.

Com efeito, o fenômeno demográfico do século XX é uma verdadeira revolução eis que afeta estruturalmente os rumos da sociedade contemporânea.

Neste sentido, duas realidades trazem enormes consequências e graves desafios: a explosão demográfica e o aumento da expectativa de vida ao nascer.

No primeiro caso, qualquer exercício estatístico demonstra o tamanho do problema: de 1960 a 2011 população mundial passou de três para sete bilhões de pessoas com uma perspectiva de estabilização em dez bilhões de habitantes em 2020; no segundo caso, embora distribuída desigualmente, a expectativa de vida média no mundo cresceu 20 anos (1950/2010), atingindo 67 anos (65 para homens e 69,5 para mulheres) com tendência crescente.

James Lovelock, autor da “Hipótese Gaia”, identifica na explosão demográfica uma moléstia planetária que chama de “praga de gente”.

No Brasil, a expectativa de vida evoluiu, no período de 1960/2011, de 62 para 74 anos e 29 dias (70,6 anos para os homens e 77,7 anos para as mulheres, segundo dados do IBGE).

Por sua vez, a composição etária da nossa população revela que, em dez anos (2001/2011) houve uma redução do número de jovens de 45,8% para 36% e um crescimento de idosos de 14,5% para 18% o que significa um crescimento proporcional de pessoas na faixa produtiva (15 aos 59 anos) e resulta na diminuição da chamada “taxa de dependência”. Esta redução da taxa de dependência (divisão do total de menores de 15 anos e maiores de 60 anos pela quantidade de pessoas entre 15 e 59 anos) representa na linguagem dos especialistas o “bônus demográfico”, momento singular por que passam as nações e propício para aprofundar reformas, redirecionar políticas públicas e, em particular, uma oportunidade passageira (duas a três décadas) para enfrentar o grave desequilíbrio estrutural provocado pelas contas da previdência.

A propósito, o Brasil vive este momento. Uma espécie de agora ou nunca. Está no meio do caminho de uma obra inacabada que é a reforma de previdência, mas conta, além do bônus demográfico, com fatores favoráveis ao aprofundamento da referida reforma, tais como: estabilidade política, institucional e inflação controlada, bem como a inclusão social de milhões de brasileiros; aumento significativo da presença da mulher no mercado de trabalho; sinais positivos do uma cultura previdenciária das novas gerações; amplo mercado dos setores de vida e previdência a ser conquistado; a existência de marco regulatório e institucional capaz de garantir segurança ao setor; as possibilidades de incorporação dos trabalhadores do setor público à previdência complementar.

Olhar para frente significa não esquecer o passivo gerado pela falência do sistema previdenciário brasileiro: para a maioria aposentadorias humilhantes e para a minoria aposentadorias privilegiadas; olhar para frente significa não esquecer que em 1940 existiam 31 contribuintes para 1 beneficiário e que em 2010 a relação é de 1,7 contribuinte para 1 beneficiário. Relação insustentável.

Finalmente, olhar em direção ao futuro significa compreender que as nações progridem porque trabalham muito, estudam muito, poupam e investem muito; significa reconhecer, na expressão de Eduardo Giannetti, o valor do amanhã que é superar o dilema de “por mais vida nos nossos anos ou mais anos nas nossas vidas”.

No ano de 2011, precisamente no dia 31 do outubro, a ONU projetou o nascimento do sétimo bilionésimo habitante do Planeta.

O nascimento de um ser humano é motivo de celebração da vida e da perpetuação da espécie; o nascimento do sétimo bilionésimo ser humano é um dado estatístico preocupante.

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Eis o que diz o renomado cientista e ecologista James Lovelock: “[...] Crescemos em número e em transtornos para Gaia a ponto de nossa presença ser perceptivelmente inquietante [...] Gaia está sofrendo de Primatemaia Disseminada, uma praga de gente”.

De outra parte, há quem afirme que a destruição do mundo natural não resulta das falhas das instituições humanas, mas é consequência do sucesso evolucionário do primata que, ao atingir avanços notáveis, gerou, em grande número, o Homo Rapiens, uma subespécie visceralmente ligada à devastação ecológica.

A associação do crescimento patológico da população mundial com o conceito do homem/rapina é uma atualização aterradora da teoria de Thomas Malthus, pai da demografia, que apontou a incompatibilidade do ritmo de crescimento de duas variáveis – população e meios de subsistência – e, a partir de um fatal desequilíbrio, profetizou a fome apocalíptica.

O paradigma malthusiano exerceu importante influência em vários campos do pensamento, porém subestimou os benefícios da industrialização e do progresso tecnológico. De fato, a tecnologia da produção respondeu ao desafio da escassez; a política, no entanto, falhou diante dos gigantescos passivos sociais e ambientais, ameaças concretas ao futuro da espécie humana.

Saindo do campo da abstração conceitual e reconhecendo realisticamente a necessidade de mudar o rumo do projeto de civilização, é imperioso perceber a mensagem dos dados contidos em recente artigo publicado na revista Science, de autoria de David E. Bloom, Professor de Economia e Demografia do Departamento de Saúde Global e População da Harvard School (aliás, muito bem interpretado por Drauzio Varella no artigo “Superpopulação”, Folha de São Paulo, edição de 22/10/11).

Em milhões de anos, chegamos por volta de 1800 a 1 bilhão de pessoas. A partir de 1960, foram adicionados outros bilhões a cada 10 ou 20 anos. Hoje são sete bilhões e, em 2050, 9,3 bilhões de habitantes.

Por trás dos números absolutos, cabe acrescentar outras leituras: o aumento médio da expectativa de vida mundial de 1950 a 2010 foi de 20 anos e a taxa de fertilidade global diminui de 5 para 2,5 filhos por mulher no mesmo período.

De outra parte, é significativa a diferença do impacto dos números: quanto mais pobre o país e a região, maior é a taxa de natalidade. Consequências: de 1950 para 2050 crescerá a proporção pobres/ricos de 3 para 6 pobres para 1 rico. Razão: quanto mais rico o país mais envelhecida e menor a população, ocorrendo o inverso com o país pobre, logo a composição demográfica determinará (ou não) políticas publicas capazes de enfrentar sérios problemas de saúde, previdência, meio ambiente, tudo agravado com a tendência infrene da urbanização que ratifica a máxima segundo a qual a humanidade nasceu no campo e foi morar nas cidades. Hoje 50% da população mundial vivem em áreas urbanas e, em 2050, seremos 70%.

Com efeito, estes dados e suas tendências lançam densas sombras sobre a possibilidade do “Nosso Futuro Comum”, título do Relatório Brundtland, documento seminal sobre o conceito de desenvolvimento sustentável (ONU, 1987).

Entretanto, não se enfrentam fatos aparentemente irreversíveis, brandindo otimismo ingênuo. O caminho da luta é o alinhamento aos que tem “fé criadora”, entre eles, o grande cientista, René Dubos, um dos redatores do relatório da Primeira Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972), precursor das advertências sobre os desastres ecológicos.

Além da magnífica obra, Dubos deixou-nos duas mensagens encorajadoras quanto ao uso responsável da ciência e da tecnologia: “Tendência não é destino” e “Pense globalmente, aja localmente”.       

* Texto opinativo produzido pelo ex-Ministro da Fazenda e ex-Governador de Pernambuco Gustavo Krause. Os textos opinativos são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião por portal.

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