Tópicos | Dejan Lovren

A busca por um lugar seguro e por uma vida tranquila é um sonho para diversos refugiados pelo mundo. A procura por exemplos que alcançaram êxito na vida após fugir da guerra que afligia seus países é uma fonte de inspiração e o esporte pode ser figura importante nessa caminhada. Observando a situação atual de diversos refugiados sírios que buscam por abrigo em outros países, o zagueiro do Liverpool e de seleção croata, Dejan Lovren, realizou em parceria com a equipe inglesa um documentário de 22 minutos onde conta sua difícil história até alcançar o êxito pessoal no meio do futebol.

Bósnio, da cidade de Kraljeva Sutjeska, ele relata a difícil infância que teve para fugir do conflito dos Bálcãs, que afligiu o país na década de 90. Naquela época, um conflito entre sérvios, croatas e bósnios tinha como um dos objetivos a limpeza étnica. O hoje croata relembra a sensação de ter sentido a dificuldade de lutar pela vida enquanto procurava por uma casa.

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“Quando vejo o que está acontecendo hoje aos refugiados, lembro-me da minha experiência, minha família, as pessoas queridas. Eu entendo que as pessoas querem se proteger, mas existem aqueles que não têm casa, e não é culpa deles. Eles estão lutando por suas vidas, para salvar seus filhos. Eles querem um lugar seguro para eles, para o seu futuro. Eu vivi na minha pele tudo isso, eu sei o que está acontecendo com essas famílias. A procura de uma chance, de uma oportunidade”, inicia o defensor do time de Anfield no documentário.

Apesar de na época ser a capital Sarajevo, que ganhou mais destaque na mídia por conta dos confrontos, Lovren relata que nas regiões menores algumas das atrocidades da guerra puderam ser sentidas com muito mais dor. “Em pequenas aldeias as coisas mais terríveis foram acontecendo. As pessoas foram brutalmente assassinadas. O irmão de meu tio foi morto com uma faca na frente de outras pessoas. É como se a guerra tivesse acontecido ontem. É uma questão muito sensível, por isso, as pessoas tentam não falar sobre isso. É muito triste. Antes de fazer este filme, minha mãe me disse: ‘Não diga nada.’ E eu disse que precisava falar sobre o fato, e ela começou a chorar. Ela se lembra de tudo sobre esse período”, conta.

O zagueiro recorda que a sua vida simplesmente mudou repentinamente. A vizinhança que antes era calma e tranquila mudou e tudo passou a ser um pesadelo até que familiares simplesmente decidiram fugir para a Alemanha: “Nós nunca tivemos quaisquer problemas, nós nos dávamos bem com todos os vizinhos, que eram muçulmanos, sérvios, falávamos com todos. E então veio a guerra. Eu gostaria de explicar por que, mas ninguém sabe. Apenas aconteceu. Tudo mudou em uma noite, as mesmas pessoas mudaram. Lembro-me do som das sirenes. Eu estava tão assustado que achava que eram bombas. Lembro-me de minha mãe me levando para o porão, e não sei quanto tempo nós permanecemos sentados lá, nós não iríamos sair enquanto as sirenes não parassem de tocar. Mais tarde, minha mãe, meu tio e sua esposa entramos no carro e dirigimos para a Alemanha. Deixamos tudo: a casa, a pequena mercearia que tínhamos. Eles pegaram uma mala e simplesmente disseram: ‘Vamos para a Alemanha’”.

Foram 17 horas de viagem no carro até chegar na cidade de Munique. Para entrar no país, a família de Lovren não teve dificuldades já que tinham os documentos adequados. Lá foram sete anos, mas não muito tranqüilos, já que as autoridades alemãs constantemente os ameaçavam de expulsar do país. Até que um dia, chegou o ultimato e novamente o zagueiro teve que deixar tudo para trás no país onde já começava a construir a carreira no futebol. Porém, ainda assim, guarda boas lembranças daquela época. “As autoridades disseram que, após a guerra, deveríamos voltar. A cada seis meses, meus pais tinham que arrumar suas malas. Foi muito difícil não ter um futuro na Alemanha. Um dia eles vieram e nos disseram: ‘Você tem dois meses para ir embora.’ Para mim, foi muito complicado porque meus amigos estavam todos na Alemanha, minha vida, na verdade, tinha começado lá. Eu tinha tudo, eu estava feliz, eu estava jogando em uma equipe pequena, com meu pai como meu gerente, era simplesmente perfeito. Minha mãe disse que a Alemanha foi a nossa segunda casa, e é verdade. Alemanha nos abriu os braços. Eu não sei em que país poderia ter feito isso com refugiados da Bósnia na época”, recorda com afeto.

Foi então que encontraram um local tranquilo para se estabelecerem, na Cróacia, há 50km da capital Zagreb. Porém, sem dinheiro, a família de Lovren ainda se via em dificuldades financeiras, o que o fez de fato almejar um futuro melhor para todos e entender a importância de se valorizar o que tem. “Minha mãe trabalhava em Walmart por 350 euros por mês. Meu pai era um pintor de casa. Tivemos problemas econômicos. Eu me lembro quando meu pai vendeu meus patins de gelo. Um dia eu perguntei: ‘Onde estão os patins mãe?’. Eu gostava de usá-los no inverno. E minha mãe, chorando, me disse: ‘Seu pai, os vendeu. Não temos dinheiro esta semana’. Os sapatos foram vendidos por cerca de 40 euros. Era uma coisa difícil para meus pais. Esperava que para a próxima geração tudo se torna-se mais fácil, para minha filha e meu filho, esquecer aquilo e seguir em frente. Eu não sei se eles vão entender a minha vida, a minha situação, o que eu passei, um dia, porque eles vivem em um mundo totalmente diferente. Quando a minha filha me pede um brinquedo, às vezes eu digo a ela: ‘Eu não tenho dinheiro.’ É difícil entender por que isso acontece, mas eu faço isso para fazê-la entender que nada vem fácil”, finaliza.

O vídeo completo (com áudio em inglês) pode ser assistido no site oficial do Liverpool.

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