Tópicos | demarcação de terra

Cerca de 150 pessoas participaram nesta quinta-feira (9) de um ato no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, contra o Parecer Normativo 001/2017, da Advocacia-Geral da União (AGU), que trata da demarcação de terras indígenas. Segundo o parecer, ratificado em julho do ano passado pelo presidente Michel Temer, em todos os processos de demarcação deverão prevalecer parâmetros considerados no caso de Raposa do Sol, em Roraima, além da tese do marco temporal, que estabelece que os povos terão direito somente às áreas que já estivessem sob sua posse em 5 de outubro de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

No protesto, programado para coincidir com o Dia Internacional dos Povos Indígenas, foi divulgada uma carta assinada pela Mobilização Nacional Indígena (MNI), coletivo que reúne mais de 120 entidades da sociedade civil. No documento, as organizações assinalam que, ao adotar o conceito de marco temporal, legaliza-se a violência à qual os povos indígenas foram submetidos antes de 1988.

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"Ignorando dados técnicos apresentados por integrantes do próprio governo que apontam que o parecer tem, de fato, paralisado as demarcações, o apelo do Ministério Público Federal que, através de documentos, demonstrou a inconstitucionalidade do parecer, e os apelos das lideranças que fizeram testemunhos sobre o aumento da violência contra as comunidades indígenas, a ministra [advogada-geral da União, Grace Mendonça] não só se recusou a discutir a revogação do Parecer 001/2017, como resolveu criar um Grupo de Trabalho (GT) para 'aprimorar' os entendimentos sobre ele, à revelia da posição das lideranças indígenas", escrevem as entidades, destacando que encaram o grupo de trabalho como uma estratégia do governo para prorrogar a vigência do parecer.

No entendimento de Antonio Carlos Alpino Bigonha, procurador da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF) - Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, o parecer revela uma posição "antiquada" e, ainda, uma perspectiva jurídica "tosca". "[O parecer] Gera uma grande insegurança jurídica para os grandes interessados, que são os indígenas, gera uma insegurança jurídica enorme para os órgãos de governo que têm interesse em atuar em prol da causa indígena e na sociedade civil como um todo, porque faz reacender antigas pretensões privadas contra o reconhecimento da posse tradicional", afirmou, durante o protesto.

Na avaliação da coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos, os guarani e outros povos indígenas que residem em determinadas regiões do país, como o Sul e o Centro-Oeste, têm amargado situações mais críticas após a oficialização do parecer, sendo vítimas, inclusive, de racismo e violência física. "Na medida em que o Estado sinaliza publicamente que não está respeitando a Constituição, cumprindo seu papel de proteger essas populações, deixa-as mais vulneráveis à ação daqueles que, por interesses espúrios, preferem tirar essas pessoas, na marra, da sua frente, para ocupar de forma irregular seus territórios", destacou.

A Agência Brasil procurou a AGU para que o órgão comentasse as atividades do grupo de trabalho que discute o parecer e as críticas feitas, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Indígenas da etnia Guarani Kaiowá reclamam dos constantes ataques de milícias armadas às comunidades do Mato Grosso do Sul. Nos últimos 12 anos, 390 índios foram assassinados no estado, de acordo com o Conselho Indigenista Missionários.

Elizeu Lopes, líder indígena, denuncia o envolvimento de fazendeiros e, inclusive, da polícia e de políticos locais nos ataques. Nos últimos dois meses, as tribos sofreram 12 agressões e pelo menos quatro foram mortos. Os pistoleiros e agressores utilizam armas de fogo, balas de borracha e promovem espancamentos.

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“Do último ataque contra o Simão [Vilhalva], nós ficamos sabendo que tem investigação, mas é muito lenta. A Polícia Federal foi rápida e comprovou que o corpo foi baleado na cabeça”. Simão morreu no município de Antonio João, em Mato Grosso do Sul.

A demarcação de terras é uma das principais questões que levam ao conflito no campo. Atualmente, estão paralisados os processos de demarcação e, assim, 45 mil índios precisam viver em apenas 30 mil hectares.

Segundo Elizeu, por esse motivo os povos indígenas passam a viver nas terras onde existe conflito, almejando mais área livre. “Lá a gente tem pelo menos o espaço para produzir, para o sustento próprio, para garantir o sustento e não depender de cestas básicas.”

O líder indígena passou 15 dias na Europa pedindo ajuda aos organismos internacionais. “Convidamos a relatora da ONU, Victoria Tauli-Corpous, três vezes para vir ao Brasil, mas precisa que o governo a convide para vir fazer essa visita. Queremos a vinda de uma comissão de parlamentares europeus também, para ver toda essa nossa realidade”.

Uma das reivindicações junto aos órgãos do exterior é que seja feita uma investigação independente sobre os ataques paramilitares e também sobre o problema do suicídio, que já matou 585 indígenas no estado durante os últimos 12 anos.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi condenada a finalizar em até dois anos o procedimento de demarcação das terras da comunidade indígena Pipipã, situada no município de Floresta. A decisão foi conseguida pelo Ministério Público Federal (MPF) em Serra Talhada (PE).

Pipipãs - A comunidade Pipipã possui cerca de 1,3 mil indígenas, sendo reconhecida pela Funai em 2003, e garantindo assim benefícios das políticas públicas voltadas a esses povos. Os trabalhos antropológicos de campo para regularizar a terra tiveram início em 2005. O processo todo de demarcação já durava mais de 10 anos. 

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