O governo francês decidiu nesta segunda-feira agir para impedir as apresentações do polêmico humorista Dieudonné, de 47 anos, já condenado por antissemitismo. A possibilidade dessa proibição está dividindo as associações antirracistas.
Quatro dias antes do início de uma turnê de Dieudonné M'Bala M'Bala pela França, o ministro do Interior Manuel Valls enviou nesta segunda, com a concordância do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, uma circular para os prefeitos dos departamentos franceses. O texto lembra que "podem proibir um show, quando houver risco para a ordem pública".
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Essa circular "permitirá adotar disposições para impedir a banalização dos propósitos antissemitas", segundo o governo francês.
No passado, várias prefeituras que tentaram proibir shows desse humorista na França foram desautorizadas pela Justiça em nome da liberdade de expressão. Segundo fontes consultadas pela AFP, os prefeitos podem agora invocar as manifestações de hostilidade a Dieudonné como risco à ordem pública.
Filho de um camaronês e de uma francesa, Dieudonné foi condenado várias vezes por declarações antissemitas, ou de injúria racial. Segundo ele, o sofrimento dos descendentes de escravos negros não é reconhecido, e o dos judeus, supervalorizado.
O humorista já apresentou em Paris o espetáculo dessa nova turnê, no qual multiplica as críticas "aos judeus", "à judeuzada", ou "à Kippa city".
Os célebres caçadores de nazistas Serge e Beate Klarsfeld e seu filho Arno Klarsfeld convocaram uma manifestação para esta quarta-feira, em Nantes (oeste), onde começa a turnê de Dieudonné. Eles querem a proibição do show.
"É legítimo que as pessoas se revoltem e se manifestem quando alguém faz discursos antissemitas e diz que não houve judeu suficiente morto nas câmaras de gás", criticou Arno Klarsfeld.
O Conselho Representativo de Instituições Judaicas da França (Crif) convocou "uma mobilização republicana em cada cidade, onde houver um show de Dieudonné M'Bala M'Bala, para dizer não ao ódio antissemita".
Já a Liga dos Direitos Humanos (LDH) considerou que tentar proibir as apresentações de Dieudonné pode ser "contraprodutivo", com o risco de "gerar simpatia ao seu redor", sobretudo, daqueles que se consideram "oprimidos social, ou politicamente".