Quando uma mulher se movimenta, movimenta consigo toda a sociedade. De encontro à estrutura machista que se estende no ambiente político, mães fortalecem umas às outras quando ocupam cargos de poder e levam a luta por direitos aos centros de debate. Mãe de três filhos, Isabella de Roldão lembrou os desafios de tocar uma campanha eleitoral 15 dias após dar à luz e destacou a importância de garantir que a carreira das mulheres não seja prejudicada pelo desejo de ter filhos.
Candidata à vice-governadora de Pernambuco na disputa de 2018, Isabella cumpriu os compromissos de campanha pelo estado 15 dias o nascimento de Nina. Entre um discurso e outro, ela conta que precisava desmamar para seguir com a agenda: "foi um desafio grande".
##RECOMENDA##"Eu amamentava exclusivamente. Então, foi um sofrimento para mim muito grande. Além de me desdobrar, de dar conta de fazer as viagens e parar em determinados locais para desmamar, tinha o próprio sofrimento da distância, do querer tá junto da minha filha que ainda era muito bebê. Foi muito desafiador", recordou.
Pauta dentro e fora da Política
Primeira mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita do Recife e um dos quadros mais relevantes do PDT, Isabella já era mãe de Luca e Cléo - atualmente com 19 e 17 anos - quando ingressou como vereadora da capital. Ciente das dificuldades de atuar enquanto mãe e gestora pública, ela cobra um maior amparo para que as mulheres com filho não abandonem a profissão.
Como se uma condição natural, e muitas vezes um sonho, pudesse ser deixada de lado, o adiamento da maternidade também é discutido entre mulheres do cenário político. “As mulheres têm adiado cada vez mais a maternidade, independentemente de estar na política ou na vida privada. É um processo muito difícil porque muitas mulheres desejam fortemente ser mãe", comentou.
Para enfrentar o machismo que também recai através da obrigação dos cuidados domésticos, a vice-prefeita ressalta que as discussões sobre a Economia do cuidado - que avalia remunerar quem cuida de familiares, entre outros aspectos – precisam progredir, bem como a ampliação do período de licença-maternidade, acompanhada da possibilidade de compartilhá-la com a família.
"Todas as vezes que uma mulher ousa sair de um ambiente doméstico, mesmo na maternidade ou não, as dificuldades ficam muito claras. Então, a legislação da licença precisa ser revista. Se a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza seis meses de aleitamento materno, como essa mulher não tem seis meses de licença?", questionou.
Contra as estruturas
A participação feminina na política já sofre um processo de invisibilidade antes mesmo das eleições, seja na falta de espaço dentro do partido ou na destinação de recursos. “As mulheres que decidem entrar para a vida pública sentem na pele o peso da sua decisão. Isso não é 'mimimi', como costumam dizer. É uma questão muito real, por que os preconceitos, a resistência, o desrespeito, as interrupções na hora das falas. Tudo fica muito forte”.
Ver o reconhecimento de um quadro feminino já é um ponto que abala essa dinâmica masculina. Se esse sucesso for de mãe, sem dúvidas, ameaça ainda mais a perpetuação desse ambiente que tenta se fechar para mulheres.