Tópicos | Elias Antônio de Luna Almeida Santos

A troca de e-mails entre a diplomacia brasileira, chancelaria indiana e representantes de farmacêuticas do país asiático expõe o senso de importância atribuído à compra da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19 no País. De acordo com documentos que estão em posse da CPI da Pandemia no Senado, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) fez esforços incomuns para acelerar a compra do medicamento sem eficácia comprovada contra a doença. As informações são do Estadão.

A postura proativa do Executivo, que demorou pouco mais de dois meses para responder aos contatos da Pfizer, responsável por uma das vacinas imunizantes contra o novo coronavírus, é registrada nos mais de 54 e-mails trocados entre março e junho do ano passado. As mensagens foram enviadas pelo ministro-conselheiro da Embaixada no Brasil na Índia, Elias Antônio de Luna Almeida Santos, segundo na hierarquia do posto diplomático.

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“Estamos acompanhando esta questão com muita atenção”, destacou em um e-mail de 31 de março ao diretor de uma empresa fornecedora de hidroxicloroquina. Em outro, o articulador brasileiro pediu “a maior urgência possível” a um representante de uma farmacêutica sobre o preenchimento de documentos.

Em um sábado, dia 11 de abril de 2020, Gaurav Kumar Thakur, secretário para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da Índia, escreve a Santos para oferecer uma carga de “50 lakhs” (unidade de medida indiana, equivalente a 100 mil) de comprimidos de hidroxicloroquina já prontos. Em menos de oito horas, um funcionário do Itamaraty respondeu que “o governo brasileiro demonstrou interesse na oferta”.

“Independentemente dessa generosa possibilidade que o governo da Índia está abrindo ao Brasil, nós reiteramos que continuamos a buscar as permissões de exportação para a matéria-prima de hidroxicloroquina que permitirá aos fabricantes brasileiros produzirem para si quantidades adicionais de comprimidos de hidroxicloroquina”, devolveu Santos às 20h40 (no horário local) do mesmo dia.

Na sequência, a noite do domingo, 12 de abril daquele mesmo ano, é marcada por mais uma mensagem: “Se você pudesse fornecer os detalhes até amanhã de manhã ficaria muito grato, para que possamos iniciar contatos diretos com eles”, enviou Elias Antônio de Luna Almeida Santos, cobrando agilidade do colega indiano.

Envolvimento do Planato

A postura ágil do Itamaraty não se resumiu aos funcionários da embaixada, ainda de acordo com os documentos. Em um e-mail que tinha Santos entre os destinatários, T.C Reddy, diretor de uma farmacêutica indiana, sugeriu a empresários brasileiros que, sutilmente, “pressionassem Bolsonaro” a falar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para liberar com maior rapidez a carga de hidroxicloroquina.

“Gentilmente pressione o presidente do seu país [Brasil] também para falar com o nosso primeiro-ministro para permitir importações por motivos humanitários para o fornecimento de remédios para brasileiros que sofrem de pandemia coronavírus”, afirmou T.C. Reddy em 6 de abril.

O apelo do presidente a Modi, no entanto, já teria ocorrido dois dias antes, como o próprio Jair Bolsonaro postou em sua conta no Twitter: “Nossos agradecimentos ao primeiro-ministro da Índia @narendramodi, que, após nossa conversa por telefone, liberou o envio ao Brasil de um carregamento de insumos para produção de hidroxicloroquina”.

Mesmo após a Sociedade Brasileira de Infectologia publicar, em 20 de maio do ano passado, um informe no qual assegurada que os “estudos com ou hidroxicloroquina não mostraram eficácia no tratamento farmacológico de covid-19 e não devem ser recomendados de rotina”, as negociações pela droga continuaram. Quinze dias depois, no dia 5 de junho, Santos enviou e-mails a duas empresas indianas para saber o preço, quantidade e prazo para a entrega de difosfato de cloroquina, um dos componentes ativos do medicamento.

 

 

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