Tópicos | Fita Cassete

O famoso movimento manguebeat pode celebrar mais uma vitória em sua história revolucionária na música brasileira. O disco "Da Lama ao Caos" (1994), primeiro álbum de Chico Science & Nação Zumbi está de volta ao mercado fonográfico em fita cassete (K7) pela gravadora Polysom em parceria com a Sony Music.

Sob comando do renomado produtor musical Liminha, o disco apresenta a mistura de maracatu, rock, hip-hop e funk que mudou os rumos da música nacional e também mostra a faceta de protesto por parte da banda líder do mangbeat, que nasceu em Recife (PE). Com onze faixas e sucessos como "A Praieira", "A Cidade", "Samba Makossa" e "Rios, Pontes e Overdrives", a obra traz em suas letras importantes temas que ainda continuam atuais após 25 anos de seu lançamento.

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Cantor, compositor e percussionista, Francisco de Assis França, o Chico Science (1966-1997), usou sua versatilidade e a mescla de vários ritmos para abrir espaço às expressões artísticas vindas de Pernambuco no Brasil inteiro. Com o sucesso do disco "Da Lama ao Caos", Chico Science & Nação Zumbi acessaram os veículos de mídia e difundiram a arte que inspirou e ainda estimula artistas dos mais diversos segmentos. As fitas, de especial cor amarela, chegarão às lojas no início de agosto.

Acreditava-se que ela estava enterrada junto com os aparelhos de vídeo VHS ou as cabines telefônicas, mas a fita cassete de áudio (K7) voltou a ser fabricada na França por uma empresa que já exporta este produto para cerca de trinta países.

Desde 2017, vários profissionais correram para a porta desta pequena empresa situada próxima ao turístico Monte San Michel (noroeste), especializada na fabricação de fitas magnéticas. O motivo: em meio ao domínio do CD e do streaming, as K7 ganharam uma nova vida por conta do crescimento da base de fãs do formato.

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"Nos demos conta que já estava acontecendo algo que não acompanhamos inicialmente", admite Jean-Luc Renou, presidente da Mulann, empresa que movimenta cerca de 5 milhões de euros.

- 89 metros para 60 minutos -

Especializada em vender fitas magnéticas para os bilhetes do metrô e pedágios, esta empresa com cerca de 40 empregados decidiu aproveitar a oportunidade: dedicou cinco pessoas para o desenvolvimento de fitas cassetes, que começaram a ser comercializadas em novembro, duas décadas depois da produção do formato ser encerrada na França.

"Partimos de uma fórmula química que já tínhamos para a fita de áudio de gama alta. Tivemos que resolver alguns problemas técnicos e de corte", diz Renou, destacando que o grau de precisão é medido em micro.

Entre máquinas e o forte cheiro de solvente, Laurent, "operador de corte" segundo o termo funcional exato, verifica minuciosamente a qualidade da produção. "Em formatos de 60 minutos, usamos 89 metros de fita!", explica.

As cassetes, com um design vintage laranja e preto, são vendidas a 3,49 euros a unidade. São produzidas milhares ao mês que são exportadas para profissionais da indústria fonográfica que gravam nelas os álbuns lançados pelas gravadoras.

A empresa vende 95% de sua produção para países como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Malta, Suécia, Israel e Uzbequistão, explica Théo Gardin, diretor comercial, de 27 anos, que revela que nunca conheceu os inconvenientes do 'walkman', quando a fita embolava e a saída era usar uma caneta esferográfica para rebobiná-la.

- Aquecedor elétrico ou lareira? -

Para explicar este renascimento, Ronan Gallou, diretor-geral da Mulann, acredita na necessidade de "possuir objetos" numa época onde "todo se desmaterializa".

"Quando alguém ouve música no Spotify ou Deezer, o comum é não ouvir uma canção inteira, passa-se facilmente para outra. Com um cassete, ouve-se o álbum inteiro", defende Gallou, destacando que foi lançada recentemente neste formato a trilha sonora do filme de "Bohemian Rhapsody", baseado na biografia de Freddie Mercury, vocalista do grupo Queen.

Para Jean-Luc Renou, ainda existe um pequeno lugar para o som analógico no universo da música. "Vamos usar como exemplo o aquecimento: temos os aparelhos aquecedores em casa, é cômodo, isso é o digital. Mas também podemos nos esquentar em frente ao fogo de uma lareira, que é algo que nos remete ao passado, isso é a cassete e o disco de vinil", garante.

Em uma grande loja de música na cidade de Rennes (noroeste), a paixão pela cassete não emplacou. "Temos algumas vendas, mas é algo raríssimo, não tem nada a ver com o fenômeno do vinil", reconhece um vendedor que prefere não se identificar.

Quando chegou ao mercado, esta tecnologia tornou possível levar a música para todos os lugares. Isso sem falar na possibilidade de criar sua própria playlist, com aquela seleção escolhida a dedo, literalmente. Os dedos que apertavam play, rec e pause. Estamos falando das fitas cassete, que no século passado, em 1963, revolucionaram a maneira de se relacionar com a música.

Até aquele momento, os discos de vinil dominavam o mercado fonográfico. Eles eram mais caros e difíceis de transportar e, por isso, a chegada do cassete causou uma verdadeira revolução musical. Possibilitando a gravação de músicas em dois lados, o A e o B, cada um, em média, com 30 minutos de duração, as fitas se transformaram em objetos cativos, com seleções musicais bem pessoais e, também, por serem mais baratas, virou febre entre bandas de garagem que, antes, não tinham como gravar e distribuir suas demos. O auge dos K7 se deu nos anos 1980 mas, não durou muito.

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No início da década seguinte, 1990, a criação do Compact Disc trouxe nova revolução com seu imenso espaço que armazenava até 700mb de conteúdo em formato digital. O resto da história, todo mundo já conhece, as tecnologias foram levando a música para outros formatos, como o MP3 e, atualmente, os serviços de streaming como Spotify e Deezer já eliminaram quase que por completo, até o sucessor das fitas, o CD.

Lado A

Porém, a trajetória meteórica dos cassetes deixou saudade em alguns. Apaixonados por este suporte continuam guardando suas fitas, algumas consideradas relíquias, e gravações bastante pessoais como de encontros familiares, mesmo quando não se pode mais ouví-las.

É o caso de Marcelo Tompson, engenheiro de pesca, de 53 anos. Nascido e criado em uma casa onde a música era mais uma moradora, ele herdou dos pais o amor pelo jazz, música clássica e popular. Sua coleção de cassetes guarda parte da história da residência localizada no bairro de Casa Forte, no Recife. Seu pai sempre investiu em equipamentos de som de qualidade e acabou transformando uma garagem em uma sala de música. Era lá que a família recebia os amigos, muitos deles músicos profissionais, para noitadas de cantoria e audição de vinis e fitas com suas seleções especiais.

Genoveva Tompson, mãe de Marcelo, também cantava, e muitas das fitas guardadas no acervo do filho trazem sua voz. Os dois lamentam não terem mais o equipamento específico para colocarem os K7's para tocar: "Eu fico furiosa que não posso mais ouvir", diz. Marcelo planeja adquirir um suporte em breve para poder digitalizar todo o material: "A gente tem um acervo extraordinário. Pra gente é uma preciosidade.Tem coisas que nem tem mais em vinil nem no suporte digital", comenta. Revirando as fitas guardadas, ele percebe que uma das últimas a serem gravadas data do ano de 2001 e se surpreende: "Até o início deste século a gente ainda usava o cassete".   

Lado B

Elcy Oliveira, de 58 anos, o DJ Elcy, começou sua vida profissional nas picapes por volta de 1974. Ele que chegou a discotecar usando os cassetes, possui uma coleção imensa com raridades e muitas fitas que trazem lembranças familiares, inclusive de alguns já falecidos. "Sempre tive mania de registrar tudo", explica. Apesar de não se julgar um saudoso, ele lembra com carinho da história de cada fita e o bom estado delas demonstra o cuidado de um apaixonado pela música e seus suportes.

O acervo vai de relíquias do rock à várias demos de bandas pernambucanas. Elcy viu de perto o surgimento e florescimento do movimento Manguebeat e guarda registros desta época, alguns raros, como a voz de Chico Science numa vinheta gravada para uma rádio local na década de 1980. Diferentemente de Marcelo, o colecionador do Lado A, Elcy possui um gravador no qual pode ouvir seus cassetes. Tudo funcionando perfeitamente e, para qualquer eventualidade, ele também tem guardada uma fita que funciona especificamente para limpeza do equipamento.

"Eu cheguei a ter muito mais do que essas. Com o passar dos anos as coisas vão se perdendo. Mas cheguei a ter umas duas mil, mais ou menos", revela. Ele diz que o grande diferencial do K7 é a qualidade do som que, embora um pouco inferior que a do vinil, não se perde: "O vinil se gasta à medida que você vai tocando". Hoje em dia, o DJ trabalha com CD's e com a música em formato digital, tudo armazenado em HD's. A década de 1970 ficou guardada nas fitas e na lembrança: "Foi uma época legal, mas não tenho saudade da mídia. Tenho saudade só da época mesmo".

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Museu de novidades

Engana-se quem pensa que as fitas cassete são apenas item de colecionador. Existe um movimento no mercado fonográfico de volta a este suporte, e muitas bandas e artistas estão lançando trabalhos em K7, em pleno século 21. Pode-se citar diversos nomes, como dos grupos Herzegovina, Moptop, Patrulha do Espaço e o da Boogarins que lançou todos seus quatro discos neste formato, também. Na gringa não é diferente e bandas consagradas como a Metallica e artistas mais modernos como Nelly Furtado já fizeram lançamentos deste tipo. Não à toa, o aumento nas vendas de K7's, nos Estados Unidos, foi de 35% em 2017.

Aqui no Brasil, além das bandas, alguns selos e grandes gravadoras já estão igualmente apostando na volta do formato. Em São Paulo, o Contra Boots é especializado em gravações de shows de bandas independentes para lançá-los em fitas. E no Rio de Janeiro, a Polysom está se preparando para duplicar cassetes, após a compra de um maquinário que possibilita a duplicação de 100 cópias por hora. A produção está prevista para começar ainda em 2018.

 

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O filme Guardiões da Galáxia terá sua trilha sonora lançada no formato fita cassete. A ação se inspira na importância de uma fita no formato para o personagem Peter Quill (Chris Pratt) no filme, que o faz lembrar da sua infância na Terra. 

A trilha do longa chegou a ficar em primeiro lugar na Billboard 200, que enumera os álbuns mais vendidos da semana nos Estados Unidos. O fato marca a primeira vez em que uma trilha sonora sem músicas inéditas chegou ao topo dos mais vendidos. 

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A fita do longa foi batizada de "Awesome Mix Vol. 1 e traz sucessos lançados entre as décadas de 1960 e 1970. O público poderá comprar o item no dia 28 de novembro, que marca o Record Store Day, evento que une lojas independentes de músicas de todo o mundo. A mixtape já existe no formato digital e em CD, já a fita cassete será vendida em edição limitada.

Confira a lista das músicas e o vídeo de anúncio:

Lado A

1. "Hooked on a Feeling" - Blue Swede 

2. "Go All the Way" - Raspberries 

3. "Spirit in the Sky" - Norman Greenbaum (esta música não tocou no filme)

4. "Moonage Daydream" - David Bowie

5. "Fooled Around and Fell in Love" - Elvin Bishop

6. "I Want You Back" - Jackson 5

Lado B

1. "I'm Not In Love" - 10cc 

2. "Come and Get Your Love" - Redbone 

3. "Cherry Bomb" - The Runaways 

4. "Escape (The Pina Colada Song)" - Rupert Holmes 

5. "O-O-H Child" - The Five Stairsteps 

6. "Ain't No Mountain High Enough" - Marvin Gaye and Tammi Terrell

 

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