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Quatro vezes Jay Gatsby viveu na tela sua louca paixão por Daisy. A mais nova verão do romance de Scott Fitzgerald abriu ontem (15) o 66.º Festival de Cannes. Um silêncio de morte se seguiu à apresentação para a imprensa e só quando a sala já estava quase vazia os aplausos vieram. Na coletiva, o diretor Baz Luhrmann lembrou que Fitzgerald terminou pertinho daqui, em San Raphael, o livro que havia iniciado em Paris. The great american novel, o grande romance da literatura norte-americana. Enquanto ele escrevia, sua mulher, Zelda, o traía na praia com um amante de ocasião, mais ou menos onde fica o palais, o palácio do festival.

Gatsby tinha de vir a Cannes. Antes da versão de Luhrmann, três diretores já se haviam debruçado sobre o livro e a versão de 1974, assinada por Jack Clayton, tinha roteiro de Francis Ford Coppola. Foi quando Luchino Visconti fez saber que queria contar a história de Scott Fitzgerald e sua mulher que morreu louca, Zelda. Belos e malditos.

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Ernest Hemingway, que foi amigo de Fitzgerald por 15 anos, esperou até o fim da própria vida para emitir seu juízo sobre eles. Fitzgerald seria um derrotado destruído por uma mulher que Hemingway, e não apenas ele, comparava a um abutre. Fitzgerald era autodestrutivo. Sem o abutre Zelda a pairar sobre seu cadáver ambulante, talvez não tivesse produzido sua literatura nem o grande livro sobre Gatsby.

Como a versão viscontiana de Sodoma e Gomorra, o volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, a história de Scott e Zelda também não foi adiante. Visconti tinha até os atores - Warren Beatty e Julie Christie, que viviam juntos na época. Há muito do próprio casal no Gatsby de Baz Luhrmann.

Em carta a seu editor, após concluir o livro, o autor lhe disse que havia produzido seu romance mais pessoal. Fitzgerald, o desencantado. Um pouco como espelho dele, Gatsby passa a vida sonhando com uma mulher inatingível, Daisy. O garoto pobre cria uma persona, uma fortuna para se colocar no plano da rica herdeira. Mas Fitzgerald, criando uma miríade para Gatsby, não tinha ilusões. Há uma coisa que o dinheiro não compra, e é linhagem. Gatsby será destruído pelo casal Tom e Daisy Buchanan, que passa como um trator sobre ele. Tom pode ser rico de berço, mas é um bruto. Daisy, convencida de que é privilégio das mulheres serem tontas, não tem consciência do mal que faz. A consciência fica com o narrador, Nick, alter rego do escritor (Fitzgerald) e, agora, do cineasta (Baz Luhrmann).

Como na trilogia da cortina vermelha de Luhrmann - Vem Dançar Comigo, Romeu + Julieta e Moulin Rouge -, os críticos vão reclamar dos artifícios de Gatsby. A primeira parte tem realmente muitas plumas e paetês, mas é necessário para a segunda, que é dura. A dissecação, a autópsia do sonho contido na primeira. Carey Mulligan é uma Daisy caprichosa e inconstante, mas a força do filme está no elenco masculino - Leonardo DiCaprio, como Jay, e Tobey Maguire, como Nick.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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