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O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes avaliou há pouco que o Brasil chegou ao "fundo do poço" durante o governo de Jair Bolsonaro, depois de mais de 20 anos de governos que, segundo ele, se venderam como "progressistas". Ciro também chamou o presidente de "genocida" e "boçal", e lembrou que o País voltou a debater costumes democráticos, algo que ele pensava que não seria mais discutido.

"Elegemos seis vezes discursos tidos como social-democrata, progressista, que formam a imagem do ideário europeu. Fracassamos e hoje chegamos ao fundo do poço", disse durante o painel "Desafios do Brasil", do Brazil Conference at Havard & MIT, evento organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão.

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Outros nomes considerados possíveis presidenciáveis também participaram desde painel, como o apresentador de televisão Luciano Huck; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Para Gomes, sem estabelecer um método, o Brasil não vai achar um caminho de saída para a sua reconstrução depois da pandemia. Na avaliação do ex-ministro, falta um projeto ao País. Ele lembrou entre 1945 e 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) doméstico cresceu em média 6,34% ao ano. E que dos anos 80 para cá, essa média caiu para algo em torno de 2% entre 1980 e 2010, ainda que tenha havido alguns "voos de galinha" em alguns dos anos.

"O problema é que entre 2010 e 2020, o Brasil parou de crescer", afirmou. Nesse período, os presidentes foram dos mais diferentes contextos ideológicos, o que deixa claro, na percepção de Ciro, de que o problema do País é de concepção estratégica. Ele citou que mais de metade da população foi empurrada para a informalidade e que o País tem hoje o maior desemprego da história, com a seguridade social se precarizando. "O Brasil tem um déficit anualizado de R$ 900 bilhões e a dívida galopa para 90% do PIB pela primeira vez na história", disse ele, citando também perdas na Bolsa de Valores. "Todo mundo está perdendo. É preciso ter novas alternativas e com novo métodos."

A crise econômica não poupa ninguém, mas em poucos lugares ela se materializa de forma tão clara e dramática como em Pernambuco. Por qualquer aspecto que se olhe, o Estado foi do apogeu ao fundo do poço com uma veemência e uma velocidade poucas vezes vistas.

Por lá, as vendas do varejo acumulam retração de quase 10% em 12 meses, mais que o dobro da média nacional. Nesse início de ano, a produção industrial sofreu um tombo de 26% em relação ao ano anterior, puxado pelas indústrias de alimentos, em especial de açúcar e laticínios, que penam com a seca. O desemprego na capital, Recife, já atinge mais de 10% da população.

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O cenário no longo prazo também se deteriorou. Projetos na área de petróleo e gás, que prometiam mudar o perfil da economia local, naufragaram em denúncias de corrupção na Operação Lava Jato. Grandes obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, que criariam um novo patamar para infraestrutura local, estão praticamente paralisadas à espera de recursos federais.

"A economia de Pernambuco está tendo uma crise mais aguda porque sofre em duas pontas: o setor mais tradicional, a indústria de alimentos, sofre com a seca, e setores novos, ligados a cadeia de petróleo, tiveram um baque", diz o professor João Policarpo Lima, da Universidade Federal de Pernambuco, que pesquisa o desenvolvimento local.

Para arrematar, o nocaute da economia pernambucana tem um ingrediente particular: epidemias de viroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, que aumentam os custos com a saúde pública e as perdas no setor privado. Entre 144 das maiores indústrias pernambucanas, que participaram de uma pesquisa sobre os impactos do mosquito, 114 registraram afastamentos neste ano por causa de doenças do Aedes e 42% relataram queda na produção pela ausência prolongada de funcionários.

O comerciante José Josafar de Spindola, 46 anos, resume a situação em seu Estado: "Pernambuco está desmantelada pela crise econômica, pela corrupção dos políticos, pela violência - o que você ganha aqui, o ladrão te toma alia na frente - e ainda veio essa tal de zika, o chikungunya. Minha mulher está com chikungunya e não consegue sair da cama."

Spindola tem um ponto no Moda Center Santa Cruz, o maior centro atacadista de confecções do Brasil, localizado em Santa Cruz do Capibaribe. O local reúne mais de 10 mil pontos comerciais, entre boxes e lojas, onde são comercializadas peças no atacado e no varejo. Nos períodos de pico, recebe mais de 150 mil clientes por semana. Até o início do ano, era uma espécie de ultimo bastião contra a crise que se alastrava pelo Estado. Era.

Resistência vencida - A cadeia de confecções e jeans de Pernambuco é um dos segmentos mais tradicionais e resistentes a crises. Encravada num cinturão formado pelos municípios de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, manteve-se em expansão até nos anos de dólar favorável a importações da China.

O trunfo: seus produtos, fabricados localmente, são muito baratos e abastecem pequenas lojas voltadas a consumidores de baixa renda no Norte, Nordeste e até do Sudeste. A maior parte da produção é vendida em grandes feiras populares, que reúnem desde os fabricantes até representantes de pequenas confecções que apenas finalizam partes das peças ou revendem os produtos acabados.

O melhor dia para as vendas é a segunda-feira, justamente quando a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou as feiras. No Moda Center, o que mais se viam eram rodinhas de lojistas batendo papo. "Agora fica assim direto", diz a lojista Danielle Santos, mostrando os corredores vazios. "Hoje só vendi no ‘pingado’, para um ou outro, não veio nenhum lojista."

Danielle comercializa especialmente jeans. Negocia e fecha pessoalmente o pedido de cada item e manda para os ateliês de costuras montarem.

Ela sentiu o aumento no preço dos aviamentos que importa dos chineses, o impacto do custo do jeans, que precisa ser lavado com água de carro-pipa, pois a região, está sob racionamento, agora se preocupa com o sumiço dos clientes e vai se adequando. Hoje, tem quatro boxes no Moda Center e uma loja em Surubim, cidade próxima: "Tinha outra loja em Toritama, mas fechei; os pedidos não venciam."

"As pessoas não têm dinheiro", diz Maria Helena Lima. Dona de um ônibus, ela ganha a vida transportando sacoleiros de Manaus para feiras no Nordeste. "Viajava toda semana e o ônibus lotava de tal maneira que tinha gente que pagava para ir no corredor", diz ela. "Agora é uma viagem por mês e, nesse ônibus que estamos, apenas 12 dos 48 lugares têm passageiro."

Nos espaços vagos, ela empilha sacos de mercadoria que lojistas encomendam por telefone. "Cobro R$ 1,70 o quilo transportado, é o que salva", diz.

Na vizinha Caruaru, a situação parece mais preocupante ainda. No parque de exposição local ocorre a Sulanca, a feira mais tradicional do setor, que deu origem a todas as outras. A falta de gente é tamanha que os carregadores e comerciantes não esperam os clientes sentados, como diz o dito popular: esperam deitados.

"A queda dos clientes é grande e a gente não tem o que fazer", diz Nadja Lopes, espichada sobre a barraca que divide com a mãe, Maria de Lourdes Lopes. "Eu vendo aventais, uma coisa baratinha, mas até nisso as pessoas estão segurando", diz Maria de Lourdes.

Nem os artesãos, com seus tradicionais produtos em barro, palha e madeira, saem ilesos. "Estou tendo queda nas vendas até no Sudeste, onde tenho clientes em Embu das Artes e litoral paulista. Lá a queda foi feia, de uns 40% do ano passado para cá", diz o empresário e artesão Wesley Oliveira.

O que mais preocupa quem acompanha de perto a crise local é que os dados com o desempenho da economia não param de piorar. "O ano passado já não tinha sido bom, mas as quedas retratadas nos indicadores que estamos vendo agora são tão acentuadas que já acho que vamos ter saudades de 2015", diz o economista Tobias Silva, da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe).

Quando recebeu os dados do IBGE sobre Pernambuco neste mês de abril, Silva ficou tão espantado com a retração que chegou a perguntar ao funcionário responsável pela coleta dos dados se os números estavam corretos. "No mês anterior eu já tinha ficado assustado e os números continuaram caindo."

Uma das maiores preocupações de Silva é entender por que estão em franca queda dois setores básicos da economia local, alimentos e bebidas. No Estado onde o verão dura quase o ano interior e as praias atraem turistas do mundo, a produção de cerveja e chope vem caindo há 13 meses.

A indústria de alimentos, por sua vez, teve retração de 44% em fevereiro, o último dado disponível. "É uma queda muito forte, que não se explica apenas pelo açúcar e precisa ser investigada melhor para entendermos o que está acontecendo", diz Silva.

Boa parte da queda é puxada pelo setor de açúcar, mas Silva teme que esteja havendo uma retração generalizada no consumo da classe C em todo o Nordeste. "Pernambuco é uma espécie de ‘hub’ da produção de alimentos para a baixa renda, abastecendo vários Estados da região - se a produção está despencando aqui, pode ser que esteja sendo arrastada por uma retração regional mais forte do que imaginamos", diz Silva. É esperar para ver. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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