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Um estudo da Fiocruz Pernambuco investigou a contaminação por norovírus em moluscos, coletados em 17 praias do litoral pernambucano durante todas as estações do ano. E trouxe uma boa notícia para quem os consome nessas localidades: todas as amostras se revelaram livres do vírus.

Os norovírus são os principais agentes virais causadores da gastroenterite aguda no mundo inteiro. Todos os anos causam cerca de 200 mil mortes e 685 milhões de casos, e crianças são a parte da população mais afetada. Esses vírus se espalham facilmente pelo contato pessoa a pessoa, mas uma parte significativa dos surtos acontecem por transmissão alimentar: 14% do total de casos em países desenvolvidos - uma proporção que pode ser maior em países de condições sociais mais vulneráveis. 

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Os moluscos bivalves - nos quais se incluem a ostra e o sururu - são os alimentos mais implicados nessa transmissão, pois, esses animais possuem hábito alimentar filtrador e podem bioacumular microorganismos presentes nas águas circundantes.

Trata-se da primeira pesquisa do Nordeste a fazer esse tipo de mapeamento, enriquecendo a literatura disponível e o conhecimento sobre a epidemiologia desse vírus em alimentos que costumam ser consumidos frequentemente pela população. Até essa publicação, os estudos brasileiros sobre contaminação de moluscos por norovírus estavam concentrados nas regiões Sul e Sudeste.

Em âmbito mundial, essas investigações vêm sendo feitas, em sua maioria, em países de clima temperado. Assim, essa iniciativa tem outro aspecto de relevância, que é agregar conhecimento em condições de clima tropical.

Para essa análise foram coletados 380 moluscos, sendo 260 ostras (Crassostrea rhizophorae) e 120 sururus (Mytella guyanensis). Os moluscos (in natura) vieram de pescadores (250), de vendedores das praias (110) ou foram coletados direto de áreas de mangue pela equipe da pesquisa (20), entre fevereiro e agosto de 2017.

Um total de 17 praias foram visitadas: Atapuz; Barra de Catuama; Tejucupapo; Itapissuma; Itamaracá; Pilar; Barra de Sirinhaém; Boa Viagem; Brasília Teimosa; Ilha de Deus; Gaibu; Maria Farinha; Pau Amarelo; Porto de Galinhas e Tamandaré. Durante a coleta, foram registrados fatores como a temperatura da água e do ambiente; além da fonte da água consumida pela população desses locais.

“Processamos esses animais e não detectamos o norovírus. Isso é muito bom para o turismo gastronômico do estado e para os catadores, porque sinaliza que os animais são seguros para consumo”, explica o pesquisador da Fiocruz PE Lindomar Pena. Ele foi o coordenador da pesquisa, desenvolvida no Programa de Biociências e Biotecnologia em Saúde da Fiocruz PE pela doutoranda Klarissa Guarines e pela mestranda Renata Mendes.

O estudo teve a colaboração das pesquisadoras Laura Gil e Marli Tenório, que, assim como Lindomar, atuam no Departamento de Virologia e Terapia Experimental da instituição. Foram parceiros no projeto o Laboratório de Virologia Comparativa e Ambiental da Fundacão Oswaldo Cruz (RJ) e o Laboratório de Doenças Infecciosas do National Institutes of Health (EUA).

O artigo com esses resultados, intitulado “Absence of norovirus contamination in shellfish harvested and commercialized in the Northeast coast of Brazil”, foi publicado no dia 18/09 no Brazilian Journal of Medical and Biological Research. 

O orientado do trabalho e pesquisador da Fiocruz PE, Lindomar Pena, lembra que o norovírus é o principal causador de surtos em locais como creches, instituições de longa permanência para idosos e em navios de cruzeiro, onde leva à quarentena de passageiros e tripulantes. Pode ser transmitido de pessoa para pessoa (por contato direto e pelo ar), pelo consumo de água ou alimentos com o vírus e por contato com superfícies contaminadas.  

Para se ter uma ideia da facilidade de transmissão, o pesquisador informa que a norovirose é mais contagiosa que a gripe. “O H1N1, por exemplo, precisa de 10 milhões de vírus para iniciar uma infecção. Já o norovírus necessita de apenas 18”, compara. No período da infecção, são expelidos de um a dez milhões de norovírus por grama de fezes ou vômitos. Se tudo isso já não fosse o bastante, esse microrganismo também é muito resistente ao ambiente. Enquanto o vírus da gripe não sobrevive muito tempo ao ar livre, o norovírus permanece ativo por semanas em maçanetas, corrimões e outros objetos. Os cuidados preventivos, que valem para outras viroses, incluem a lavagem frequente das mãos, em especial após usar o banheiro. A recomendação é que a pessoa com gastroenterite não prepare alimentos, para não contaminar outras pessoas e gerar novos surtos. 

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