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A Secretaria de Defesa Social (SDS) publicou, em boletim desta terça-feira (12), o resultado da sindicância que investigava a atuação dos policiais militares no caso do atropelamento na comunidade do Entra Apulso, Zona Sul do Recife, em agosto de 2016, que resultou em dois jovens mortos. O secretário da SDS, Antônio de Pádua, decidiu arquivar o caso com relação aos policiais militares, ou seja, eles não serão punidos, mas determinou que seja aberto um procedimento para investigar o comportamento dos policiais civis.

O mistério do caso girava em torno do empresário Pedro Henrique Machado Villacorta, que conduzia o veículo envolvido na tragédia. Ao invés de ser conduzido para a delegacia, como de praxe em um caso do tipo, ele foi liberado na Unidade de Pronto Atendimento da Imbiribeira (UPA), para onde foi levado após o fato.

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A portaria da SDS com o resultado da sindicância traz novas informações sobre o que teria ocorrido naquela noite de 13 de agosto. Conforme o texto, a primeira viatura da Polícia Militar (PM) a comparecer ao local, na Avenida Desembargador José Neves, foi uma Patrulha do Bairro, com os militares Felipe Aguiar e Silva, motorista, e Thiago Henrique Costa dos Santos, comandante. Quando a viatura chegou, já estavam presentes Corpo de Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

O empresário Villacorta foi imobilizado e socorrido à UPA da Imbiribeira, sendo acompanhado pelo efetivo da Patrulha do Bairro. Segundo a portaria, o comandante Thiago dos Santos percebeu que Pedro Henrique apresentava sinais de embriaguez e, por isso, solicitou ao Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods) que enviasse uma viatura de trânsito equipada com bafômetro.

Pedro Henrique se recusou a fazer o teste de alcoolemia, mas sua embriaguez foi registrada na ficha de atendimento médico da UPA. De acordo com a SDS, há outros registros nos autos atestando o alcoolismo do acusado. 

Por volta das 3h do dia 14 de agosto, o comandante manteve contato telefônico com o despachante policial militar do Ciods, o sargento José Ricardo do Nascimento Marques, que informou que a viatura deveria liberar o suspeito do crime, deixar a UPA da Imbiribeira e entregar o boletim de ocorrência na Delegacia de Boa Viagem.  Conforme o secretário, foi neste momento que o soldado Thiago Henrique teria alertado que o suspeito apresentava sinais de embriaguez e que o homicídio caracterizava dolo eventual. O despachante, o sargento José Ricardo, informara, entretanto, que a orientação teria partido do comissário Manoel Matias dos Santos. 

O comandante teria ficado inconformado, tendo mantido contato direto com o comissário Manoel, que reforçou a orientação, inclusive fornecendo sua matrícula para colocar no registro do Boletim de Ocorrência. A SDS informa que todos esses fatos estão devidamente registros pelo sistema Ciods. 

Delegado ausente

Os depoimentos de todas as testemunhas, policiais civis e militares indicam que o delegado de plantão da Delegacia de Boa Viagem na data do fato, Vicktor de Araújo Melo, em nenhum momento compareceu ao local do crime ou à UPA da Imbiribeira. Não há sequer confirmação de que o delegado tenha comparecido ao seu plantão naquela data, por isso será instaurado um Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE) em desfavor de toda sua equipe, inclusive os despachantes policiais civis do Ciods. Para o secretário da SDS, o comportamento dos policiais civis pode se caracterizar como ato de improbidade administrativa.

Os familiares da vítima realizaram várias manifestações à época. Eles acusavam os policiais de terem agido de forma grosseira, dado atenção apenas ao empresário e aos seus amigos que estavam no veículo. Há vídeos de policiais gritando com os populares. Os familiares também suspeitam que Villacorta tenha parentesco com políticos do Estado e que por isso tenha sido liberado.

Entenda quais são os personagens dessa história:

 

Adriano Francisco da Silva: vítima fatal do atropelamento. 

 

Isabela Cristina de Lima: vítima fatal do atropelamento.

 

Pedro Henrique Machado Villacorta: conduzia o veículo que atropelou as vítimas e foi liberado sem passar pela delegacia.

 

Thiago Henrique Costa dos Santos: soldado comandante da operação. Teria informado que o suspeito apresentava indícios de embriaguez. 

 

Felipe Aguiar e Silva: soldado da Polícia Militar. Dirigia a viatura da Patrulha do Bairro. 

 

Olavo Rosa de Melo Neto: capitão da Polícia Militar que também foi investigado pela sindicância. 

 

Cézar Júnior Gomes da Silva: capitão da Polícia Militar que também foi investigado pela sindicância.

 

José Ricardo do Nascimento Marques: 2º sargento da Polícia Militar. Despachante no Ciods. Foi quem primeiro informou que os policiais deveriam liberar o suspeito.

 

Sérgio Amador da Silva: 2º sargento do 19º Batalhão da Polícia Militar. Também foi investigado pela sindicância.

 

Rogério José de Oliveira: soldado do 19º Batalhão da Polícia Militar. Também foi investigado pela sindicância.

 

Deyvson Geovani Trindade da Silva: soldado do 19º Batalhão da Polícia Militar. Também foi investigado pela sindicância.

 

Emerson Henrique da Silva: soldado do 19º Batalhão da Polícia Militar. Também foi investigado pela sindicância.

 

Vicktor de Araújo Melo: delegado que estava de plantão na delegacia de Boa Viagem, mas não compareceu ao local do crime ou à Upa da Imbiribeira. SDS investiga se ele compareceu ao seu plantão. Será investigado através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

 

Manoel Matias dos Santos: comissário Especial. Despachante da Polícia Civil no Ciods. Foi quem orientou que liberassem o suspeito. Será investigado através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

Os seguintes são policiais civis da equipe do delegado ou despachantes do Ciods.

Marcelo Ferreira de Barros: comissário especial. Será investigado através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

Paulo Roberto Medeiros Viana: agente. Será investigado através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

Ana Carulina Gusmão Genu de Freitas: agente. Será investigada através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

Angela Maria Marques dos Santos: agente. Será investigada através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

Kácyo Antônio Silva Alves: escrivão.  Será investigado através de Processo Administrativo Disciplinar Especial (PADE).

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