Após o massacre que deixou 10 mortos na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, na última quarta-feira (13), o uso de jogos violentos por crianças e adolescentes despertou a atenção dos pais pela possível influência negativa.
Os atiradores Guilherme Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos, eram ex-alunos da escola e entraram na unidade armados com revólver, armas medievais e machados. Monteiro estava fantasiado de um personagem do jogo "Free Fire", e dentro do veículo usado pela dupla para chegar até a escola foram encontrados um caderno com anotações de táticas de combate em jogos, além de desenhos de armas e máscaras.
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De acordo com a psicóloga especialista em psicologia escolar e professora da Univeritas/UNG, Maria Lucia Marques, os pais devem acompanhar de perto não somente os jogos virtuais, mas tudo o que os filhos fazem na internet, visto que a relação de crianças e adolescentes com o universo online pode resultar em mudanças de comportamento.
"Hoje em dia, é muito comum observar os jovens entretidos com seus celulares, tabletes e computadores, que são ferramentas tecnológicas que emitem mensagens subjetivas na construção do universo psicológico, de modo que transcende os espaços virtuais para a percepção do que é real e do que deve ser mantido apenas na esfera da imaginação", afirma.
Maria Lucia explica que ao notar diferenças no comportamento dos filhos, os pais devem ser os primeiros a ajudá-los a se conscientizar sobre o uso dos games. Segundo a especialista, se os pais tiverem dificuldades nesse assunto é importante buscar ajuda profissional de psicólogos ou orientadores pedagógicos das escolas e não apenas se limitar a restringir o acesso à internet. "Essa é mais uma ação coercitiva de controle do que a real conscientização do próprio usuário. Dependendo da idade, essa é uma conduta que pode trazer alguns resultados, mas para adolescentes não representa uma alternativa com grande probabilidade de sucesso, pois existem meios de 'burlar' esses controles", orienta.
Para a psicóloga, outro ponto importante quando se trata da discussão sobre a política de jogos virtuais é o fato de as novas gerações terem cada mais dificuldade para distinguir realidade e ficção.
"As crianças e adolescentes se interessam por jogos perigosos exatamente pela dificuldade de compreender o que é o mundo real e o que é o universo tecnológico. Essa distinção é fundamental na concepção e preparação do jovem para a vida adulta", pondera a especialista, que acrescenta que os jovens sempre foram vulneráveis às influências de seus colegas.
"Existem muitas variáveis que devem ser consideradas antes de falar que eles estão tomando decisões negativas. Acredito que são decisões imaturas e típicas de quem ainda não consegue diferenciar aquilo que chamamos, anteriormente, de mundo real e mundo virtual, pois ainda estão em processo de formação de identidade", conclui.