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A nova subvariante da Ômicron, a XBB.1.5, está se expandindo pelos Estados Unidos e já representa cerca de 40% dos casos de Covid-19 no país, ante 20% na semana passada. Em regiões como Nova York, já é responsável por 75% das infecções. Os Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) alertam que a subvariante "pode ser mais transmissível do que outras variantes", mas ainda não sabem se ela tem efeitos "mais graves".

Especialistas americanos apontam também que a XBB.1.5 pode ser mais difícil de neutralizar por anticorpos. Com todas essas características, ela ganhou o apelido de Kraken (monstro marinho da mitologia escandinava).

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Os hospitais dos EUA têm registrado um aumento nas internações no último mês no país, embora a área noroeste do país, que tem altos números para essa subvariante, não tenha visto elevação desproporcional nas internações em comparação com outras regiões.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu na quarta-feira (4) sobre o aumento de casos da XBB.1.5 na Europa e nos Estados Unidos. "A XBB.1.5, uma recombinação das sublinhagens BA.2, está aumentando na Europa e nos Estados Unidos, foi identificada em mais de 25 países e a OMS está monitorando de perto", disse o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Professor da Universidade Feevale, o virologista Fernando Spilki disse ao Estadão que a variante "mãe" da XBB.1.5, a XBB, surgiu muito provavelmente na Ásia, onde causou recrudescimento de casos no outono. Ela tem, diz ele, uma mutação que proporciona maior escape imune tanto da vacina quanto de infecções anteriores.

Flávio Guimarães da Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) e professor do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conta que a XBB, no entanto, era "menos infecciosa", pois havia perdido um pouco da capacidade de se ligar às células. "A XBB.1.5 é uma correção desse defeito, porque ela sofreu mutação em um outro ponto que voltou a deixar esse vírus capaz de infectar com muita eficiência as células durante uma infecção."

Spilki acrescenta que a expansão dos casos nos EUA tem também um componente social, com festas de final de ano e o comportamento no inverno (de as pessoas se reunirem em locais fechados).

"Vamos avaliar o risco da subvariante e agir em conformidade", comentou Tedros Adhanom, da OMS. Ele também alertou que nas últimas semanas houve aumento das internações e da pressão hospitalar no Hemisfério Norte, não apenas por causa da Covid-19, mas também por outras doenças respiratórias, incluindo a gripe.

O aumento de casos, no entanto, é significativamente menor do que há um ano, no início do avanço da Ômicron "original", quando quase 25 milhões de diagnósticos positivos semanais foram registrados globalmente, sete vezes mais do que os níveis atuais (embora agora menos testes estão sendo realizados devido à predominância de casos leves).

O surgimento da Kraken coincide com o relaxamento da política de "covid zero" na China, o que tem feito a quantidade de infecções explodir no país asiático. A escalada de casos é explicada pelo baixo contato prévio dos chineses com a doença, as lacunas na cobertura das doses de reforço e ainda a não aplicação de vacinas de outras tecnologias, como a de RNA, presente nos produtos das farmacêuticas Pfizer e Moderna.

Especialistas afirmam, porém, que há grande subnotificação de casos na China, o que dificulta saber com clareza o ritmo de avanço da doença. As autoridades chinesas declaram que as cepas BA.5.2 e BF.7 são as variantes dominantes na China e representam mais de 80% dos casos na gigante asiática.

Kraken deve chegar ao Brasil e pode causar nova onda, dizem cientistas

Fernando Spilki destaca que é "quase impossível" que a nova subvariante não chegue ao País. "A gente já teve a circulação de XBB, e vamos encontrar esse processo (de circulação da XXB.1.5) mais adiante. Os efeitos são o que mais nos importa", diz. Flávio Guimarães da Fonseca acrescenta que não é uma questão de "se", mas sim se "quando" vai chegar.

Nesse sentido, o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, comenta que o Brasil não tem feito nada que impeça a variante de chegar no País. Ele pondera que ela pode sim causar uma nova onda de casos, mas destaca que não há clareza sobre as dimensões que pode tomar.

Nos EUA, conta, desde a chegada da Kraken, o número de internações em UTI por covid dobraram e os óbitos estão em curva ascendente, mas os casos não parecem crescer na mesma medida. "É um sinal de que as pessoas não estão se testando".

Pelo histórico da covid no País, Spilki comenta que uma nova onda no Brasil já estava no horizonte, mesmo sem o surgimento da XBB.1.5. Ele comenta que, em geral, após as festas de fim de ano, no período de verão e de retomada de atividades entre fevereiro e março, ocorre um dos principais volume de casos do ano. "A XBB, em especial a XXB.1.5, pode influenciar (essa nova onda), especialmente se ela conseguir se disseminar bem em populações nas quais previamente circulavam linhagens anteriores, especialmente a BQ.1 (que causou onda de casos no Brasil em novembro)."

É difícil anteciparmos o tamanho de uma possível nova onda, dizem os especialistas. "Se criarmos oportunidades para o vírus circular, pode ter certeza que ele vai aproveitá-las, e podemos nos encontrar em situações mais complicadas", pondera Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e professora da escola de saúde da Unisinos.

Embora não acreditem que a possível nova onda atinja as proporções vistas com a Ômicron original, no ano passado, os especialistas destacam que a alta circulação nunca é isenta de riscos. O aumento de casos, comentam, é acompanhado pela expansão de óbitos e internações. Além disso, alertam que a taxa de vacinação de reforço em jovens e adultos está baixa.

Com esse cenário, destacam que é preciso avançar na vacinação, principalmente nas doses de reforço. O uso da das injeções atualizadas (bivalentes) também ganha ainda mais importância. "Dados iniciais sugerem que os anticorpos neutralizantes induzidos pelas vacinas atualizadas bivalentes são capazes de oferecer proteção maior contra essas versões circulantes da Ômicron, mesmo considerando que essas variantes tenham um grande escape parcial das defesas", diz Mellanie, acrescentando que "os reforços de vacinas não atualizadas (também) seguem conferindo boa proteção contra a doença".

Os especialistas destacam também que está na hora de se criar uma "cultura da higiene respiratória" no Brasil, com uso de máscara em locais fechados e em aglomerações. O mesmo vale para aqueles que apresentem qualquer sintoma respiratório. Pessoas com comorbidade, idosos e não vacinados precisam redobrar cuidados.

Spilki faz um apelo para que as pessoas com sintomas, mesmo que brandos, busquem a testagem. "Não basta vacinar, não basta tomar outros cuidados. A gente tem de testar, saber quando precisa se isolar."

(Com agências)

A variante XBB.1.5 do coronavírus, conhecida como Kraken, foi detectada pela primeira vez no Brasil nesta quinta-feira (5). A paciente é uma mulher de 54 anos moradora do município de Indaiatuba, interior de São Paulo. Nesta quarta-feira (4), a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia feito um alerta sobre o aumento de casos da XBB.1.5 na Europa e nos Estados Unidos e afirmado que a subvariante derivada da Ômicron é a versão mais transmissível da Covid-19 identificada até o momento.

A identificação no Brasil foi feita pela rede de saúde integrada, Dasa. O virologista José Eduardo Levi, responsável pelo projeto científico Genov, que faz a vigilância genômica das variantes da Covid-19 na empresa, explica que a amostra da paciente veio junto com uma sequência de 1.332 amostras positivas de coronavírus da variante Ômicron, sendo 33 da subvariante XBB, que já existia no País. Não foram divulgadas informações sobre o estado de saúde da mulher.

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"Aqui as características são de não ter uma nova onda. A gente tem visto a proporção de XBB aumentar em um cenário de queda do número de casos e incidência. É claro que o efeito réveillon começa a aparecer daqui a algumas semanas. Hoje é muito precoce falar disso, mas se tivesse uma onda de Natal a gente estaria vendo agora, então não houve", avalia.

De acordo com o pesquisador, dentro de uma análise em larga escala nas amostras, ou seja, sem sequenciamento genético, é possível ver que houve diminuição da variante que dominava o Brasil, a BA.5, e suas derivadas.

Em contramão, houve um aumento de outra variante ainda desconhecida, mas que possui características de XBB. "Eu estimo que hoje nós estamos entre 20 a 30% de XBB. Se é a XBB.1.5 ou se vai virar a gente ainda não sabe, apenas o sequenciamento poderia dizer", afirma.

Qual a diferença entre a subvariante XBB e a XBB.1.5 ?

As variantes mudam de nome de acordo com as alterações adicionais que vão desenvolvendo, como a transmissibilidade, ou mudanças em pontos-chaves que fazem com que o vírus escape da resposta imunológica ou do uso de anticorpos no tratamento. A Organização Mundial da Saúde afirmou por meio do diretor geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que a XBB.1.5 já foi encontrada em mais de 25 países.

"A XBB.1.5, uma recombinação das sublinhagens BA.2, está aumentando na Europa e nos Estados Unidos, foi identificada em mais de 25 países e a OMS está monitorando de perto", disse Tedros.

O Brasil, segundo o virologista, ainda tem um número alto de casos para dar brecha para as "evoluções" do vírus. "Quanto mais vacinada a população, quanto mais imunizada naturalmente, você vai fechando o gargalo para o coronavírus até o momento que ele não consegue ter mutações", afirma.

No que diz respeito aos sintomas, não há mudanças significativas com a nova subvariante, segundo o virologista. Ele explica que vírus se adaptou para ficar no trato respiratório alto, e não no pulmão, que leva à pneumonia, como era o caso da versão anterior à Ômicron. "O medo é que surja uma nova variante que seja 'muito boa' de transmitir e também desça para o trato respiratório com facilidade. Isso ainda não aconteceu", afirma.

No mês de novembro, o Brasil negociou com a Pfizer 34 milhões de vacinas bivalentes contra covid-19 que protegem contra a cepa original e contra as variantes BA.1, BA.4 e BA.5. As remessas finais devem chegar até o fim de janeiro.

De acordo com José Eduardo Levi, a atualização das vacinas não acompanha as variações, o que causa um "atraso", mas ainda sim imunizantes disponíveis conseguem proteger contra as novas versões. "No final, todas elas que têm Ômicron no esqueleto são melhores do que o que a gente tinha", explica.

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