Em ano eleitoral, evento com potencial para atrair 1 milhão de pessoas, como a Lavagem do Bonfim, em Salvador, é artigo de luxo para postulantes a cargos públicos. Em especial se, na ocasião, os políticos têm a oportunidade de conversar com os potenciais eleitores e colher deles impressões sobre sua própria imagem. "A Lavagem do Bonfim é um banho de povo, uma oportunidade para (os políticos) testarem sua popularidade", diz o historiador Ubiratan Castro de Araújo, membro da Academia Baiana de Letras.
No cortejo de oito quilômetros entre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e a Basílica de Senhor do Bonfim, hoje em Salvador, as agremiações políticas desfilam em blocos, como os de carnaval, entre a multidão que se aglomera nas ruas da Cidade Baixa.
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Grosso modo, os blocos dividem-se, ao longo do trajeto, de acordo com a afinidade política. Tradicionalmente, abre o cortejo, logo após a ala das baianas - com suas 300 integrantes -, o bloco do partido do governador, seguido pelos blocos das legendas da base aliada. Mais atrás, aparece o bloco do partido do prefeito, com seus apoiadores, e depois, os demais blocos partidários, de oposição.
Este ano, porém, o prefeito João Henrique Carneiro (PP), optou por não participar da festa. Mal avaliado pela população, preferiu não interromper as férias nos Estados Unidos. O vice-prefeito, Edvaldo Brito (PTB), o representou, mas integrou a comitiva do governador Jaques Wagner (PT).
O bloco governista, aliás, estava concorrido. Praticamente todos os secretários de Wagner, pertencentes ou não ao PT, e deputados federais e estaduais e lideranças petistas acompanhavam o grupo, seguido por centenas de pessoas. Entre os mais animados estavam o pré-candidato do partido à prefeitura de Salvador, Nelson Pelegrino, e os dois mais cotados para a sucessão de Wagner: o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o deputado Rui Costa, recém-empossado secretário da Casa Civil do governo baiano. O bloco do PP, aliado dos petistas no governo do Estado, partiu logo depois, com o secretário da Casa Civil - e pré-candidato à sucessão de João Henrique -, João Leão, à frente. Os pepistas foram embalados por uma banda de sopro por todo o trajeto.
Um pouco atrás, os três maiores partidos de oposição do governo da Bahia, DEM, PMDB e PSDB, que tentam articular uma candidatura única ao Palácio Thomé de Souza, iniciaram o cortejo juntos, mas mostraram que ainda não chegaram a uma sintonia no discurso. Dos nomes apontados pelas legendas para a disputa eleitoral, apenas um, o deputado ACM Neto (DEM), compareceu ao evento. O radialista Mário Kertész (PMDB) e o deputado Antonio Imbassahy (PSDB) faltaram. "Mário vai desfilar no ano que vem, como prefeito", disse o cacique peemedebista na Bahia, Geddel Vieira Lima. ACM Neto negou que haja um consenso para que Kertész seja o candidato das oposições e descartou abrir mão da candidatura. "Vamos definir o candidato em março", afirmou.
"Em todo ano eleitoral, o clima (do evento) esquenta um pouquinho", observa o governador. "O bom é saber que estamos todos sob o guarda-chuva do Senhor do Bonfim."