Tópicos | Mackenzie Foy

Poucos diretores ganharam tanto respeito tão rápido quanto Christopher Nolan. A carreira do britânico tem sido praticamente perfeita, com blockbusters de qualidade como a trilogia Cavaleiro das Trevas e suspenses incrivelmente bem construídos como O Grande Truque e seu candidato ao Oscar de 2011, A Origem. Interestelar é o filme mais ambicioso do cineasta, levando a audiência para uma jornada espacial com alguns dos visuais mais impressionantes desde 2001: Uma Odisseia no Espaço.

O filme mostra uma Terra escassa, na qual a humanidade perdeu qualquer ambição que um dia teve. Pragas estão acabando com qualquer tipo de alimento e a única colheita que ainda dá frutos é a de milho. Crianças são incentivadas a se tornarem fazendeiros, não a irem para a universidade, e escolas não ensinam nada que possa tirar a atenção dos alunos de seu próprio planeta. As missões Apollo, por exemplo, são apresentadas como propaganda dos EUA para induzir a União Soviética a gastar dinheiro com missões inúteis para o espaço.

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É nesta situação que encontramos a família de Cooper (Matthew McConaughey), um engenheiro e piloto da NASA cujos conhecimentos são aplicados apenas em tratores. Sua filha, Murph (Mackenzie Foy), compartilha da mesma curiosidade e sede por aventuras. Os dois são o coração do filme. Não se engane, a viagem espacial e os conceitos científicos apresentados são gigantescos e estão sempre presentes, mas Interestelar é sobre humanos, o que os motiva e o que os dá força para lutar. Sem a relação de pai e filha no centro do longa, o resultado seria tão frio quanto o espaço.

O roteiro evita transformar a relação entre os dois em algo melodramático, o que provavelmente aconteceria se os protagonistas fossem um par romântico. Parte disto vem do espetacular trabalho de McConaughey, que merece mais uma indicação ao Oscar, e da jovem Foy, revelação do filme. As cenas com os dois juntos levam a lágrimas, mas não por se tratar de um drama familiar, e sim porque são extremamente pessoais e íntimas. Interestelar é a prova que Nolan não é o cineasta frio que alguns suspeitam. Jessica Chastain, cujo personagem deve permanecer um segredo para os que não viram o filme, também faz um belíssimo trabalho.

Uma série de acontecimentos faz com que Cooper descubra a última tentativa da humanidade de sobreviver: uma missão para outra galáxia. Entrar em detalhes do enredo de Interestelar diminuiria a graça, já que este é um daqueles filmes que pedem para ser vistos sem nenhum conhecimento prévio. Ele se junta a Dra. Brand (Anne Hathaway) e parte em direção a um buraco de minhoca – algo que dobra o tempo e espaço permitindo viajar distâncias que levariam milhares de anos-luz em alguns instantes – e o que acontece depois é de cair o queixo.

Dizer que Interestelar é o filme mais bonito, falando puramente dos visuais, desta década, não é exagero. Em A Origem imagens como a cidade se dobrando ou o sonho entrando em colapso já impressionavam, mas Nolan se supera aqui. A atmosfera que ele cria é aquela de quando se é criança, e há um enorme fascínio com o desconhecido, com o espaço, planetas, galáxias. Nolan exibe um dos mais fortes sentimentos da vida humana, a curiosidade.

Interestelar prega contra o conformismo, no qual não existe motivação de buscar aquilo que está além do alcance. As paisagens espaciais encontradas por Cooper e sua equipe, assim como as naves utilizadas na viagem, são grandiosas. Um filme para ser assistido no cinema, de preferência na maior tela possível. Há visuais que são, literalmente, de outro mundo, e eles são acompanhados de conceitos científicos com complexidade suficiente pra quebrar a mente de qualquer pessoa.

Mas Nolan explica tudo muito bem. Bem até demais. O maior problema de Interestelar é a enorme quantidade de diálogos expositivos presentes durante suas 2h40. Há momentos em que, literalmente, um cientista explica o que vai acontecer para que a audiência não se confunda. Nolan é um mestre em explicar, algo que ficou extremamente claro em O Grande Truque, mas desta vez, ele tropeça, explicando demais, e de maneira nada sutil.

Tudo é cercado pela fenomenal trilha sonora de Hans Zimmer. O compositor está trabalhando com Nolan da mesma forma que John Williams trabalhou com Spielberg ou George Lucas. Aqui, ele sai de seu tradicional estilo cheio de percussão e usa sons de órgão. O resultado é de arrepiar, dando uma característica quase espiritual a Interestelar. Aqui, o espaço é a catedral.

Este não é o melhor filme do Nolan, posição ainda ocupada por A Origem, mas não é também a primeira mancha na carreira do diretor. Interestelar é uma carta de amor ao Espaço e filmes como 2001, reacendendo a chama de admiração e reverência ao gigantesco universo. Pura ficção científica.

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