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Cada vez mais os estados e municípios estão desenvolvendo projetos que visam a preservação do meio ambiente. Seja por preocupações socioambientais, questões referentes as relações entre turismo e biodiversidade, cobrança da população ou até mesmo pelo desejo de alcançarem o reconhecimento de famosas premiações, as gestões públicas têm trabalhado para se tornarem referências no assunto. Sendo assim, o LeiaJá conversou com uma engenheira ambiental para saber quais os impactos dessas iniciativas, além disso, listou medidas que governos estaduais e municipais estão promovendo sobre a temática.

Desafios

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“Ao mesmo tempo que fico esperançosa sobre os avanços dos projetos que são dedicados à proteção ambiental, fico triste em presenciar a falta de ações que conscientizem todos os membros da sociedade sobre a manutenção desses projetos. Não adianta criar um plano e esquecer que ele precisa de continuidade”. Foram com essas palavras que a engenheira Pollyana França respondeu a reportagem do LeiaJá ao ser questionada sobre os impactos das medidas que visam a preservação do meio ambiente.

Em entrevista, a estudiosa afirmou que “os dados divulgados por organizações ambientais sobre os índices do desmatamento no país e poluição de solos e rios, devem servir como um alerta para os seres humanos” em suas ações.

“Remoção da vegetação, queimadas, destruição dos manguezais, poluição dos rios, entre tantas outras ações humanas que contribuem diretamente com o desequilíbrio climático e vários desastres ambientais. Porém, esse problema deve ser visto por dois pontos de vistas. O primeiro é o que culpabiliza o governo pela permanência dessas ações dos cidadãos. O outro é o que pede que o cidadão cobre um posicionamento da prefeitura da sua cidade ou do governo do estado”, explicou.

De acordo com dados do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pela MapBiomas no ano passado, a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga são os biomas com as maiores perdas no país. Juntos, responderam por 96,2% das perdas em 2021, seguidos pela Mata Atlântica que registrou 30.155 hectares desmatados no mesmo ano. Já quando o assunto é poluição hídrica, o país tem apenas 6,5% dos seus rios com uma boa qualidade da água, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica.

Pensando nas ações que podem reverter dados como esses, selecionamos seis exemplos de gestões, entre elas municipais e estaduais, que adotam políticas de sustentabilidade. Confira:

1- Poço de Caldas, em Minas Gerais

A Prefeitura do município mineiro de Poço de Caldas sancionou, em julho deste ano, a Lei do Zoneamento Ecológico que viabiliza a implantação de planos e obras para qualidade ambiental. Isso inclui a regulação do uso de recursos hídricos e do solo, bem como a conservação da biodiversidade, garantindo um desenvolvimento sustentável para a cidade.

O projeto é de autoria da vereadora Regina Cioffi (PP-MG), que em sua justificativa na elaboração do texto, colocou como foco a proteção ambiental pautada na organização territorial, de modo a conciliar com o avanço econômico e atender as expectativas da sociedade.

2- Manaus, no Amazonas

Em outubro deste ano, a Prefeitura da capital amazonense deu início aos trabalhos de arborização do parque Amazonino Mendes, localizado na zona leste da cidade. A novidade da ação é que o local vem recebendo mudas de espécies nativas da região. Além disso, também estão sendo plantadas espécies frutíferas, consideradas atrativas para a fauna da região.

Foto: Clóvis Miranda/Secom

3- Sobral, no Ceará

Acostumada a ser reconhecida como um bom exemplo quando o assunto é meio ambiente, a cidade de Sobral, no estado do Ceará, vem recebendo alguns prêmios de organizações ambientais nos últimos meses. Como por exemplo, o certificado recebido em dezembro do ano passado, quando o município conquistou o 1° lugar no 9° Prêmio Melhores Práticas de Sustentabilidade, na categoria “Combate à poluição nas águas”, com o projeto “Soluções baseadas na natureza: tratamento de águas servidas por jardins biofiltrantes”.

Esses jardins, situados no Riacho Pajeú e no Parque da Cidade, tratam as águas servidas utilizando o Sistemas de Alagados Construídos (SACs) e Sistemas de Alagados Naturais (SANs). Por meio de tanques de areias, os sistemas são preenchidos com plantas aquáticas específicas para retirar a matéria orgânica e os poluentes pela filtração da água e aplicação da biofitorremediação, que propiciam o tratamento dos efluentes proveniente de pias e chuveiros na despoluição dos corpos hídricos.

A operação dos jardins é feita pela Agência Municipal do Meio Ambiente (AMA) de forma sistemática, juntamente com os serviços de poda, plantios, limpeza e manutenção mensalmente, além de coletas e amostras de água, que, respectivamente, são realizadas e submetidas para análise laboratorial.

4- João Pessoa, na Paraíba

Desde 2021, a Prefeitura de João Pessoa, na Paraíba, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Semam), vem plantando centenas de mudas de coqueiros nos 24 quilômetros da sua orla. Todo o processo é monitorado pelos engenheiros agrônomos da Divisão de Arborização e Reflorestamento da Semam.

A plantação tem uma função que vai além das palhas que são utilizadas no artesanato local. A gestão municipal defende que o plantio na orla é uma ação da política ambiental. Os coqueiros têm a função de agirem como fixadores de duna, impedindo que a areia se espalhe pelas ruas e avenidas da orla.

5- Governo do Pará

Na última segunda-feira (30), a Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc) realizou um encontro com representantes do Unicef, Unesco, Porticus, Instituto Iungo, Banco Mundial, BNDES e TCM-PA para apresentar o plano de ação da Política Pública de Educação para o Meio Ambiente, Sustentabilidade e Clima, lançada no primeiro semestre deste ano.

Idealizada pela Seduc, a política de sustentabilidade promove a preservação e a coexistência ambiental por meio da educação. A iniciativa integra as ações da gestão estadual desenvolvidas para a proteção da Floresta Amazônica, que inclusive servirá de referência para o mundo em 2025 ao sediar a COP 30. Com o Encontro Global de Jovens e Meio Ambiente, em 2024, o Pará amplia sua atuação e reforça a importância dos jovens e da educação na preservação da flora da região.

A Seduc oferecerá o componente de Educação Ambiental, Sustentabilidade e Clima para toda a educação básica, de forma obrigatória na rede estadual e, por adesão, pelas redes municipais. Um total de 1,5 milhão de estudantes da rede pública poderão ser beneficiados, sendo 550 mil, obrigatórios, na rede estadual e, por adesão das redes municipais, 618 mil estudantes dos anos iniciais (1º ao 5º ano) e mais 461 mil dos anos finais (6º ao 9º ano).

6- Governo da Bahia

Com o apoio de braços da Organização das Nações Unidas (ONU), o Governo da Bahia lançou, em junho, o programa Bahia + Verde. O objetivo do governador Jerônimo Rodrigues (PT-BA) é de impulsionar a economia através da sustentabilidade e de criar modelos de gestão e governança participativa, com avanços das políticas de sustentabilidade.

São previstas ações de proteção e recuperação do patrimônio natural e ecoturismo, uso de tecnologia no combate ao desmatamento ilegal, e modernização de sistemas para ampliar o acesso a água encanada. Além disso, o programa prevê a criação de projetos de energia limpa, ampliação do uso de diesel e hidrogênio verde e redução da emissão de gases do efeito estufa.

Foto: Joá Souza/GOVBA

A área ocupada por florestas naturais no Brasil caiu 15%, em 38 anos, com uma aceleração entre 2018 e 2022. O total passou de 581,6 milhões de hectares, em 1985, para 494,1 milhões de hectares, no ano passado, de acordo com dados do MapBiomas, plataforma que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia, obtidos a partir do monitoramento por satélites.

Dos 87,5 milhões de hectares suprimidos nesse período, 11% foram registrados nos últimos cinco anos (2018-2022) - o equivalente a pouco mais do que o tamanho do Estado de Santa Catarina (9,54 milhões de hectares ou 95,4 mil km²).

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As florestas naturais são formadas por diversos tipos de cobertura, como restingas, savanas e mangues, além das formações florestais encontradas na Amazônia e Mata Atlântica. Esses ecossistemas ocupam 58% do território brasileiro.

A área que essas florestas ocupavam foi quase totalmente (95%) convertida para a ocupação das atividades agropecuárias, pastagens ou cultivos. O governo federal lançou neste ano duas ações com foco para diminuir a destruição da Amazônia e do Cerrado.

A floresta amazônica passa por uma das maiores secas de sua história. E, como o Estadão mostrou, a estiagem em grande escala é a quarta deste século na região e deve causar um efeito dominó que aumentará os estragos.

Os biomas que mais perderam florestas naturais entre 1985 e 2022 foram o Cerrado (27%) e a Amazônia (13%), que ainda tem a maior proporção desse tipo de vegetação (78%), seguido pela Caatinga (54%).

As chamadas formações florestais - áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo - correspondem a dois terços do total desmatado entre 1985 e 2022 (58 milhões de hectares), uma redução de 14% em 38 anos.

A área que essas florestas ocupavam foi quase totalmente (95%) convertida para a ocupação das atividades agropecuárias, pastagens ou cultivos.

De acordo com o levantamento do MapBiomas, nas décadas de 1980 e 1990, observa-se um aumento da perda florestal. A partir de 2006, houve um período de redução da área desmatada. Entre 2018 e 2022, porém, houve um aumento da perda de florestas, chegando a quase 10 milhões de hectares.

De acordo com a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, as florestas são importantes para manter o equilíbrio climático e protegem os serviços ecossistêmicos vitais. "A perda contínua das florestas representa uma ameaça direta para a biodiversidade, a qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática", afirma.

Cerrado puxa alta do desmatamento

As chamadas formações savânicas cobrem 12% do território brasileiro (104,5 milhões de hectares), o que equivale a três vezes o Estado de Goiás. Elas se caracterizam pela distribuição esparsa de espécies arbóreas em meio à vegetação herbácea-arbustiva contínua. Essa formação é a segunda classe de floresta natural mais representativa em área no País e proporcionalmente a que teve o maior desmatamento.

Entre 1985 e 2022, a perda de formação savânica foi de 29 milhões de hectares, redução de 22% na formação. Segundo o levantamento, de cada cinco hectares desmatados, mais de quatro (83%) foram suprimidos no Cerrado. Na Caatinga, a perda foi de 10% (4,7 milhões de hectares).

"Em biomas como no Cerrado e na Caatinga, que já perderam parte significativa de sua vegetação nativa, o ritmo do desmatamento das savanas é alarmante, principalmente na região do Matopiba, que ainda apresenta grandes remanescentes deste ecossistema, mas que estão sendo convertidos para a expansão da agropecuária", diz a pesquisadora da equipe do Cerrado no MapBiomas, Barbara Costa.

O estudo permite identificar as florestas secundárias, aquelas que voltaram a crescer em áreas desmatadas. Em 2021, elas ocupavam 41 milhões de hectares, o equivalente a 8% das florestas naturais do País.

Os biomas com maior proporção de florestas secundárias são a Mata Atlântica e a Caatinga, com 27% cada (8,1 milhões de hectares e 12,5 milhões de hectares, respectivamente), seguidos pelo Cerrado (12% do bioma, ou 10 milhões de hectares), Pantanal (8% do bioma, ou 100 mil hectares), Amazônia (3% do bioma, ou 9,8 milhões de hectares) e Pampa (2% do bioma, ou 300 mil hectares).

Amazônia sofre com a seca

A seca que castiga os Estados amazônicos fez com que a superfície da cobertura de água no Estado do Amazonas atingisse sua menor extensão desde 2018. De acordo com uma nota técnica do MapBiomas, em setembro foram registrados 3,56 milhões de hectares, uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares de setembro de 2022.

Ao todo, 25 municípios do Estado tiveram redução na superfície de água superior a 10 mil hectares. Barcelos, no centro do Amazonas, teve a maior perda: 69 mil hectares entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Na sequência estão Codajás (47 mil hectares), Beruri (43 mil hectares) e Coari (40 mil hectares) - todos com perdas superiores a 40 mil hectares de água.

Imagens de satélite mostram que lagos inteiros secaram. Além do Lago Tefé, onde morreram mais de 100 botos, a seca também atinge o Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o funcionamento das escolas. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos, mostra a nota técnica do MapBiomas.

Os efeitos da atual falta de chuva, impulsionados pelo fenômeno El Niño, ainda vão permanecer na Floresta Amazônica por muito tempo. Em Manaus, o Rio Negro, um dos principais rios amazônicos, continua baixando e atingiu seu nível mais baixo em 121 anos, desde que o monitoramento começou a ser feito.

O ar de Manaus, na semana passada, foi considerado um dos piores lugares do mundo para se respirar devido à fumaça das queimadas. Segundo o monitoramento de qualidade internacional World's Air Polution, a classificação atingiu o nível de "perigo" antes de melhorar nesta semana.

O desmatamento na Amazônia registrou queda de 7,4% de agosto de 2022 a julho deste ano, firmando a tendência de queda no desmate da floresta. Enquanto no período anterior, de 2021 a 2022, foram 8.590 km² desmatados, no período mais recente foram 7.592 km².

Por outro lado, a destruição no Cerrado bateu recorde no período histórico registrado. De agosto do ano passado a julho de 2023, a destruição do bioma alcançou 6.359 km², a maior área desde o biênio 2016-2017, o mais antigo da série histórica. Em relação ao período anterior (2021-2022), a alta foi de 16,5%.

Governo lança planos para o Cerrado e a Amazônia

Compromisso de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo federal lançou neste ano duas ações com foco para diminuir a destruição da Amazônia e do Cerrado. Em junho foi lançada a nova versão do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), e em setembro a reedição, atualizada, do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Bioma Cerrado (PPCerrado).

O plano para a Amazônia chegou a sua quinta edição. Lançado em 2004, o PPCDam foi um dos principais instrumentos para a queda do desmatamento. O plano para o Cerrado foi levado à consulta pública. A proposta traz quatro eixos de atuação que incluem medidas como criação de unidades de conservação, incentivos para bioeconomia, regulamentação do mercado de carbono, monitoramento da degradação das terras, entre outros pontos.

As contribuições foram até o dia 12 de outubro. Somente na versão final serão incluídas metas e prazos para a redução da destruição no bioma.

Áreas ambientais protegidas pela União sofreram com o aumento exponencial da atuação do garimpo ilegal entre 2019 e 2022, sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Em apenas um ano - 2022 -, a área ocupada por essa atividade no país aumentou em 35 mil hectares, que representa o tamanho de uma cidade como Curitiba. A Amazônia concentra a maior parte desses assentamentos (92%). As informações constam no novo levantamento do MapBiomas. 

A concentração do garimpo ocorre em áreas protegidas restritas a esta atividade, como nos Parques Nacionais do Jamanxin, do Rio Novo e da Amazônia, no Pará; na Estação Ecológica  Juami Japurá, no Amazonas, e na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima. As imagens de satélite mostram que as três primeiras são garimpadas há mais de 20 anos, porém tiveram um crescimento substancial nos últimos 10 anos. 

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Toda a área garimpada na Esec Juami Japurá, por sua vez, tem menos de cinco anos. No caso da TI Yanomami, a expansão exponencialmente se deu de 10 anos para cá. O interesse dos garimpeiros é a extração do ouro; 85,4% dos 263 mil hectares garimpados no Brasil são para este fim. 

“O tamanho desses garimpos sobressai nos mapas, sendo facilmente identificável até por leigos. Surpreende que ano após ano ainda subsistam. Sua existência e seu crescimento são evidências de apoio econômico e político à atividade, sem os quais não sobreviveriam, uma vez que estão em áreas onde o garimpo é proibido”, destaca César Diniz, coordenador técnico do mapeamento de mineração do MapBiomas.  

Em 2022, a área ocupada nesses territórios foi 190% maior do que há cinco anos: quase 50 mil hectares foram incorporados ao garimpo no período. Em 2022, mais de 25 mil hectares em terras indígenas e de 78 mil hectares em Unidades de Conservação (UCs) eram ocupados pelo garimpo. Em 2018, eram 9,5 mil e 44,7 mil hectares, respectivamente. Em 2022, 39% da área garimpada no Brasil estava dentro de uma TI ou UC.  

Quase metade (43%) da área garimpada em UCs foi aberta nos últimos cinco anos. As mais invadidas por garimpeiros são a APA do Tapajós (51,6 mil hectares), a Flona do Amaná (7,9 mil hectares), Esec Juami Japurá (2,6 mil hectares), Flona do Crepori (2,3 mil hectares) e Parna do Rio Novo (2,3 mil hectares). 

 

Relatório divulgado nesta segunda-feira (18), aponta que o desmatamento no Brasil cresceu 20,1% em 2021, atingindo 16,5 mil km² em todos os biomas. Em três anos, o Brasil perdeu uma área verde próxima à do Estado do Rio de Janeiro. Na Amazônia, a estimativa é de que sejam derrubadas 18 árvores por segundo. E apenas 27% das áreas desmatadas são alvo de alguma fiscalização.

Os dados são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima realizada por uma rede de universidades, ONGs e empresas de tecnologia. "Indicam que há um problema crônico e se agravando em todas as regiões do Brasil", diz Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

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Segundo o estudo, 77% da área total desmatada ficava em um imóvel registrado no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. "Em ao menos três quartos dos desmatamentos, é possível encontrar um dono ou responsável", diz. Para ele, é preciso fortalecer ações, como embargar terras com desmate ilegal (o que dificulta o acesso a financiamento), impedir regularização fundiária em áreas com desmate irregular e banir produtos de origem irregular do mercado.

Em dados brutos, a Amazônia é o bioma com maior território afetado: 59% do total. Depois vêm Cerrado (cerca de 30%), Caatinga (7%), Mata Atlântica (1,8%), Pantanal (1,7%) e Pampa (0,1%). Proporcionalmente, tiveram maior alta em um ano a Caatinga (89%) e o Pampa (92%), mas os resultados sobre o primeiro bioma derivam também de melhora na captação de dados.

A agropecuária é o principal vetor de pressão (96,6%) para o desmate. Também há perdas ligadas a garimpo, mineração, expansão urbana e usinas de energias solar e eólica.

Os eventos de maior porte, em mais de 100 hectares (um km²), cresceram 37,8% em um ano. A fins de comparação, o Parque do Ibirapuera tem 1,6 km². "Quando se torna maior, é sinal que a impunidade está perdurando, porque a área maior é mais fácil de detectar e fazer uma ação", diz Azevedo.

Houve desmate irregular em 2,1% das propriedades rurais (134.318 mil). "Os outros 98% não desmatam irregularmente, mas sofrem consequências do mercado, chuva, aumento de preços da energia (causados pelo dano ambiental)", aponta.

Do total desmatado, 5,3% estavam em áreas protegidas, 3,6% em unidades de conservação e 1,7% em terras indígenas. A Área de Proteção Ambiental do Triunfo do Xingu e a Floresta Nacional do Jamanxim, ambas no Pará, são as mais atingidas. Das terras indígenas, 40,5% tiveram ao menos um registro de desmate.

SEM PUNIÇÃO

O estudo diz ainda que a maioria dos casos não tem fiscalização e punição: embargos e autuações federais só em 10,5% da área desmatada, entre 2019 e 2021. A gestão Jair Bolsonaro é alvo de críticas no Brasil e no exterior por enfraquecer órgãos de fiscalização ambiental. Procurado ontem, o Ministério do Meio Ambiente não comentou até 19h30.

Os números são mais positivos se somados ao crescimento de ações em parte dos Estados e Ministérios Públicos, chegando a 27,1% da área desmatada. "Se tem algo de positivo em relatório tão dramático é que ampliaram as ações em Estados, seja porque foram mais transparentes, com mais informações disponíveis, seja por efetivamente começarem a aplicar mais em ações de fiscalização", destaca Azevedo.

Todo ano, uma área maior que a Inglaterra pega fogo no Brasil. Nos últimos 36 anos, 150,9 mil km², em média, foram tragados pelo fogo. Se somada a área queimada desde 1985, o acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional. Foram 1.672.142 km² de vegetação queimada, o equivalente a 19,6% do Brasil.

Os dados inéditos fazem parte de um estudo inédito do Mapbiomas, projeto integrado de universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia. Com recursos de inteligência artificial, foram sobrepostas imagens detalhadas de queimadas em todos os tipos de uso e cobertura da terra. Ao todo, houve 108 terabytes de imagens processadas, revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo. O resultado permite agora identificar a área queimada em cada mês, durante todo o período avaliado, além do tipo de uso e de cobertura do solo queimado.

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O levantamento revela que quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa, sendo que os biomas Cerrado e Amazônia concentram 85% de toda a área queimada pelo menos uma vez no País. No caso do Cerrado, a área queimada por ano, desde 1985, equivale a 45 vezes o Município de São Paulo. Outro dado preocupante aponta que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não são eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou mais de uma vez no período, e 48% mais de três.

Pantanal

A análise revela que o Pantanal foi o bioma que mais queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi incendiado pelo menos uma vez, uma área de 86.403 km². No Cerrado, a área atingida chegou a 36% (733.851 km²), enquanto na Amazônia o fogo foi identificado em 16,4% (690.028 km²).

"A informação de que 20% da área do Brasil já foi queimada não é pouca coisa. A Amazônia, por exemplo, que é metade deste País, teoricamente não deveria queimar. É uma floresta úmida, o fogo não faz parte de seu regime natural, mas temos visto isso, puxado por fatores como o avanço de áreas pastagem", diz Ane Alencar, coordenadora do Mapbiomas Fogo. "Esse cenário mostra que o fogo tem de ser trabalhado com ações de combate como política pública. É um cenário muito preocupante, que tem se agravado nestes últimos anos."

Vera Arruda, pesquisadora da equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Cerrado, afirma que a região é dona de uma vegetação nativa em que o fogo faz parte de seu regime, mas não na dimensão que tem ocorrido. "A extensão e frequência da área queimada no Cerrado nas últimas quase quatro décadas revela que algo está errado com o regime de fogo no bioma", comenta.

Os Estados com maior ocorrência de fogo no período analisado foram Mato Grosso, Pará e Tocantins. Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos afetados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010 e 2017), altas taxas de desmatamento - principalmente aquelas ocorridas na Amazônia depois de 2019 - tiveram alto impacto no aumento da área queimada. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de queimadas e incêndios florestais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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