Por muito tempo, ser negro e fazer sucesso para Allefy Gonçalves, de 28 anos, eram realidades que não andavam juntas. Nascido e criado no bairro do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, foi preciso vivenciar a dor do racismo para que o jovem começasse a enxergar as possibilidades que se desenhavam em sua frente.
Em 2015, aos 15 anos de idade, uma de suas irmãs - que alisava o cabelo desde os 7 anos -, teve que passar por um corte químico. Ela acabou se vendo encurralada por racistas que não enxergavam beleza numa preta em fase de transição.
##RECOMENDA##Todas as ofensas sofridas por ela acarretaram na tristeza e no choro diário por vergonha de si mesma. “A gente percebeu que ela estava sofrendo bastante com isso e eu queria, de certa forma, tentar inibir essa situação que estava sendo muito ruim para ela que nem conseguia sair de casa e sofria muito bullying na escola”, detalha Allefy.
Na busca de alternativas que ajudassem a mudar essa realidade, o rapaz começou a estudar o que poderia fazer para ajudar a sua irmã e encontrou uma gama de processos que poderiam, ao menos, diminuir o sofrimento da pequena. Mas até neste momento, o preconceito se fez presente.
Uma das possibilidades mais viáveis eram as tranças, mas a irmã não queria fazer, tinha vergonha: temia ser, ainda mais, o motivo de chacota para as pessoas, já que as tranças, na época, eram mais comumente usadas em pessoas que integravam as religiões de matriz africana.
Pollyanna Gonçalves, 25 anos, uma das irmãs de Allefy, trabalha com ele no Maria Cacheada
“Tinha muito preconceito na comunidade. Mas eu entendi que trança é um cuidado, um tratamento. Então eu comecei a conscientizá-la e falei que se ela não gostasse tiraria na mesma hora. Ela se transformou em uma outra pessoa, completamente empoderada e começou até a ser mais notada pelos outros”, detalha Allefy.
Com um espelho quebrado e uma cadeira de segunda mão, o jovem montou um salão de beleza e decidiu mudar, literalmente, a cabeça de diversas meninas de sua comunidade que poderiam estar passando pelo mesmo problema. Foi no primeiro passo dado junto com sua irmã que ele encontrou a oportunidade de se tornar um afroempreendedor de destaque, fazendo tomar forma o “Maria Cacheada”.
Não demorou muito para que Allefy conseguisse crescer dentro da sua comunidade. Com o dinheiro entrando em caixa, ele pôde comprar novos espelhos e cadeiras. Em 2017, a demanda foi tamanha que ele decidiu voar: alugou um ponto nas proximidades do Sítio Trindade, no bairro de Casa Amarela, e já estava empregando outras cinco pessoas pretas.
Mas veio a pandemia da Covid-19 no início de 2020 e mudou a realidade de todos os brasileiros. Como de costume, foi na dificuldade que Allefy encontrou a possibilidade de se reinventar. Em 2021, no auge dos casos do novo coronavírus, com um pouco mais de R$ 2 mil, começou a investir no que se tornaria a MC Cosméticos, uma linha de produtos para os cabelos crespos e cacheados.
Segundo o empresário, foi essa linha de produtos, fabricados no Espírito Santo, que segurou as pontas e manteve tanto os colaboradores, como a família Gonçalves.
Conheça mais no vídeo a seguir
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Atualmente o Maria Cacheada está localizado na Rua Conselheiro Portela, 665, bairro do Espinheiro. Todos os produtos mostrados no vídeo podem ser adquiridos por meio das redes sociais da MC Cosméticos.