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A atriz e jornalista baiana Maíra Azevedo, conhecida como "Tia Má", chegou ao Recife neste sábado (18) para comandar o painel da 2ª edição da Expo Preta, exposição autoral voltada ao afroempreendedorismo e empoderamento de pessoas negras. O evento, que acontece no mês em que a Consciência Negra é celebrada, é sediado no shopping RioMar, na Zona Sul da capital pernambucana. A programação é gratuita e se encerra neste domingo (19), às 21h.

Em entrevista ao LeiaJá, Tia Má celebrou a chegada ao Recife e disse estar ansiosa para conhecer o também jornalista e ativista negro Pedro Lins, que dividirá com ela o painel de exposições culturais e artísticas. 

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“Já conheço Recife e adoro o Recife. Sou apaixonada pelo Nordeste brasileiro. Sempre digo que sou muito bairrista, tenho orgulho de ser baiana e nordestina, e acho que a gente tem a melhor região. Conheço Pedro das redes sociais, e a gente sempre troca carinhos virtuais, mas é a primeira vez que a gente vai se encontrar pessoalmente. A ideia do painel é exatamente fortalecer essas pessoas, é um painel de exposição. Às vezes a gente esquece a importância de expor, de mostrar o trabalho da gente. Sempre falo, como comunicadora, que não basta ter o empreendimento, é preciso comunicá-lo. Anuncie a mercadoria, diga o que está vendendo. A comunicação é fundamental para quem empreende", disse a artista.

Para Maíra, empreender "é natural para gente preta". Formada em jornalismo e também atuante no teatro, Maíra Azevedo passou a receber destaque nacional após investir na criação de vídeos para as redes sociais. O que surgiu como uma atividade de lazer, para matar o tempo em que passava no trânsito, acabou se tornando uma ponte para trocar experiências com outras pessoas, dar conselhos e oferecer ajuda. O público da atriz é majoritariamente feminino e, em especial, formado por mulheres pretas. Assim, para ela, empreender tornou-se também sobre vender ideias e saber "se jogar" enquanto profissional e pessoa pública.

“Fui entendendo que eu não falava só do que me atingia; quando eu falo de violência contra a mulher, de combate ao racismo, de combate às diversas formas de opressão, não falo só de mim, falo de milhares de pessoas. No início, eu tinha muita resistência, levava sempre como uma brincadeira. A gente sabe que, antigamente, trabalhar com rede social por muito tempo era visto como algo ruim, pejorativo, "blogueirinha". Eu não queria ser uma blogueirinha, até entender o impacto e a força desse trabalho. É importante comunicar para além dos meios tradicionais. Poder falar com mulheres pretas, com a cara parecida com a minha, que elas não devem se sujeitar a qualquer coisa, pra mim, é um grande trabalho de comunicação", acrescentou a comunicadora.

Expo Preta RioMar

A segunda edição da Expo Preta começou nessa sexta-feira (17) e vai até o domingo (19), no Shopping RioMar Recife. O evento vai reunir mais de 50 afroempreendedores de várias partes da Região Metropolitana e uma rica programação cultural, contando este ano com a presença da rapper Negra Li, Tia Má e a grife Negra Rosa. A curadoria do evento é do Futuro Black. Como novidade na programação deste ano haverá um desfile de moda, comandado pelo estilista senegalês Lassana Mangassouba. 

Confira a programação completa 

Dia 17/11 (Sexta-feira)

13h, 14h e 15h – Oficinas de Afrobetização – Jogos de leitura e contação de histórias, com Gláucio Ramos   

16h – Apresentação de Jason MC 

16h30 – Apresentação de Alaka MC  

17h – Apresentação de Bione  

17h30 – Painel “Protagonismo feminino na arte”, com Tássia Seaba e Nathê Ferreira. Mediação de Rafaella Gomes. 

19h – Abertura oficial da Expo Preta RioMar, com show de Negra Li e apresentação de Pedro Lins 

19h às 21h – DJ Rainha do Recife 

Dia 18/11 (Sábado)

13h – Apresentação da Twerk Recife  

14h – Painel “Histórias que inspiram”, com Edna Dantas e Jarda Araújo. Mediação de Julio Pascoal.  

15h – Apresentação do “Maracatu Encanto do Pina” 

15h30 – Painel “Letramento Racial”, com Manoela Alves e Diogo Ramos. Mediação de Dayse Rodrigues  

16h30 – Apresentação do Afrobaile B2B Baile Charme, com DJ Boneka  e Phino  

17h10 – Desfile de moda africana com o estilista Lassana Mangassouba 

18h – Painel com Tia Má e mediação de Pedro Lins   

19h – Painel: “Educação Financeira”, com Viviane Silva 

20h às  21h – Apresentação do DJ Makeda 

Dia 19/11 (Domingo)

12h – Painel “Saúde Mental e Saúde Integrativa”, com Maria Beatriz e Andreza dos Anjos 

12h30 às 14h – Apresentação da DJ VIBRA 

13h30 – Desfile Moda Mangue  

14h – Apresentação “Toda Música tem história pra contar”, com Kemla Baptista 

15h – Painel “Comunicação antirracista”, com Sharon Baptista e Lenne Ferreira. Mediação de Thiago Augustto.    

16h – Painel ”Religiões de matrizes africanas”, com Neto de Osa e Janielly Azevedo. Mediação de Jamesson Vieira.  

17h – Apresentação das Sereias Teimosas 

17h30 – Pocket do Espetáculo “Território de Passos e Sonhos” do Balé Deveras 

18h – Pocket Show de Gabi do Carmo  

20h – Apresentação de Afromaica

Dentro do Mês de Consciência Negra, a Christal Galeria de Artes, no Pina, em parceria com a Futuro Black, realiza neste sábado (26) algo inédito: aposta na pauta antirracista e abre as portas de seu espaço para o protagonismo do afroempreendedorismo que trará desfile de moda africana, contação de história para as crianças e música com programação para toda a família.

A proposta é ressignificar o papel e a importância dos ancestrais negros na formação da sociedade brasileira. No espaço também será possível visitar a exposição Reflorestar, em cartaz no salão principal da galeria com os trabalhos de 11 artistas mulheres de Pernambuco e de mais quatro estados.

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Na feira multicultural, que acontece das 10h às 19h, o público vai encontrar acessórios, roupas, bolsas e outros itens com a temática afrodescendente. O espaço ainda vai ter das 14h às 15h, contação de histórias com Gláucio Ramos, que é doutor na área de linguagem e cultura e autor de literatura infantil, com vários prêmios em educação. A partir das 15h30, teremos no espaço da Christal, o desfile da Lassana Moda Africana.

Estilista e costureiro de origem senegalesa, Lassana costura desde os 15 anos de idade e seu primeiro ateliê surgiu ainda na sua cidade de origem, em Dakar. Em 2015, ele veio para o Brasil e acabou fixando moradia no Recife. Na pandemia se reinventou, a partir da produção de máscaras, jalecos e toucas. "Procuro sempre apresentar a história dos tecidos e a modelagem original da África, assim, consigo dá valor ao meu produto. E ainda tem os momentos de interação e de troca com os clientes", explicou.

Ainda dentro da programação, às 17h, a cantora recifense Isadora Melo, que coleciona shows por vários lugares do Brasil e exterior, e integra o projeto A Diva Curva, juntamente com outras nove mulheres de Pernambuco, apresenta o seu novo show Anagrama, segundo disco da carreira lançado este ano com temas autorais e músicas de Juliana Holanda e Martins.

Entre 2018 e 2020, Isadora fez parte do show de volta do Cordel do Fogo Encantado, Viagem ao Coração do Sol. Já como atriz, em 2015, participou da série Amorteamo, dirigida por Flávia Lacerda, na Rede Globo. Em 2016, integrou o elenco de Gabriela, um musical, adaptado e dirigido por João Falcão, com quem também realizou o espetáculo musical Dorinha, Meu Amor, em 2017. Neste ano, lançou o seu segundo discturo Black - o, Anagrama com temas autoriais e músicas de Juliano Holanda e Martins.

O evento que marca o mês da Consciência Negra na Christal Galeria de Artes, foi construído em parceria com a Futuro Black, empresa social que impulsiona vidas negras. A FB é um banco de talentos e de fontes profissionais formado por pessoas pretas e que promove eventos, cursos e consultorias como ferramentas de nao não reprodução de preconceitos e estereótipos com relação à população negra dentro e fora do mercado de trabalho.

Para fechar o calendário de exposições da Christal Galeria de Artes, pode ser conferida até o dia 23 de janeiro, a exposição Reflorestar, composta por obras como desenho, pintura, arte têxtil, fotografia, vídeo, gravura e lambe-lambe, a partir do recorte proposto em torno das vulnerabilidades dos processos de desertificação que a população está vivendo, em todas as esferas da vida contemporânea. Reflorestar traz 38 trabalhos de onze artistas, todas mulheres, de Pernambuco e mais quatro estados brasileiros.

Serviço

Feira de afroempreendedorismo, moda, música e arte

26 de novembro (sábado) | 10h às 19h

Christal Galeria de Artes - Rua Estudante Jeremias Bastos, 266, Pina

Entrada gratuita

O ano era 2015. Cansado de ter o seu potencial desacreditado e cheio de força de vontade para dar a volta por cima, Eduardo Oliveira, 25 anos, decidiu que havia chegado a hora de empreender. Com talento, mas sem recursos, conseguiu convencer o seu namorado Isaias Santana, 22 anos, a investir o pouco dinheiro que tinha no seu negócio. 

Na época, foi o suficiente para que o casal comprasse alguns cabelos sintéticos para atender a demanda que chegava. Na cozinha de uma casa bastante simples, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, eles começaram a dar forma ao “Negros Trançados”. 

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Como não poderia ser diferente, enfrentaram muita dificuldade para fazer o negócio decolar. Além dos poucos recursos, tiveram que bater de frente com o racismo das pessoas. Quando a gente começou, o pessoal falava: ‘olha, aqueles meninos que trabalham com o cabelo de boneca’. Era um preconceito que a gente passava junto com o pessoal que usava [o cabelo sintético]”, lembra Eduardo. 

Isaías também recorda que durante bom tempo, alguns clientes pediam para não ficar “parecendo com uma ‘nega maluca’, associando o cabelo crespo dela a algo que foi imposto no passado”, diz.

Dois anos de persistência e superação foram suficientes para que o casal afroempreendedor transformasse o Negros Trançados em algo maior. Em 2017, conseguiram sair da cozinha e alugar uma loja no local mais movimentado da comunidade. No entanto, mantendo os pés no chão e buscando novidades para os seus clientes, queriam investir em algo maior. Não queriam só fazer tranças na Bomba do Hemetério, o sonho agora era se tornar referência na venda - em atacado e varejo - de cabelos sintéticos, naturais, orgânicos e perucas. 

“Nós trouxemos uma diversidade para melhorar a visão que tinham sobre os apliques de descendência afro. Isso proporcionou o nosso crescimento”, garante Eduardo. 

E conseguiram. 2019 foi o ano em que os afroempreendedores alçaram novos voos e  tiveram como direção a área central da capital pernambucana. Quem começou com poucos pacotes de cabelos num salão improvisado, hoje conta com três lojas, sendo uma para a venda dos produtos, um salão de beleza e uma loja que serve apenas para estocar as mercadorias. 

Tudo isso para atender cerca de 100 clientes que passam pela loja e salão todos os dias. Para dar conta de tudo e oferecer a maior variedade possível, o casal acredita ter disponível cerca de cinco toneladas dos mais diversos tipos de cabelos. ”A vontade é crescer ainda mais”, garantem.

Saiba mais sobre Eduardo, Isaias e o seu Negro Trançados

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Preto que cresce, não cresce sozinho

Segundo último levantamento do SEBRAE, 10% dos afroempreendedores do Brasil são responsáveis por empregar entre 6 a 19 pessoas. Isaías e Eduardo fazem parte desse grupo seleto, já que 8 pessoas pretas trabalham no Negros Trançados atualmente. Três delas com a Carteira de Trabalho assinada e as outras cinco colaborando como pessoas jurídicas.

O casal está possibilitando mais trabalho que 7% dos empreendedores brancos do país. 

“Isso também agrega para que o nosso crescimento seja voltado ao público periférico e jovens que a gente dá muita oportunidade”, destaca Isaias Santana. 

“Eu olho para trás e vejo todo o percurso que a gente percorreu, com estoque pequeno e apenas uma pessoa trabalhando. Hoje, a gente tem uma equipe. Ver todo esse crescimento é muito emocionante e todo meu esforço foi válido”.

Negros trançados possibilitou oportunidades para Francielly. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Francielly Carvalho, 21 anos, foi a primeira funcionária trancista do Negros Trançados. Para a jovem, fazer parte da equipe colaborou na autoaceitação. Mas nem sempre foi assim. Francielly lembra que a primeira vez que teve o cabelo alisado com produtos químicos foi aos 10 anos e durou por boa parte de sua adolescência. 

Tanto alisamento resultou na queda dos seus cabelos. A partir daí veio a transição. "Eu tinha muita vergonha. Eduardo sempre dizia para eu colocar o cabelo, mas eu tinha muita vergonha do que iriam achar", destaca.

A parceria com o Negros Trançados facilitou que a trancista não só entendesse e aceitasse os seus traços, como a colocou em uma situação de destaque, sendo uma das responsáveis por auxiliar que outras garotas se enxerguem e contemplem a própria beleza negra. 

"É muito satisfatório trabalhar nessa área. Chega muita gente triste, com muito desânimo. Mas a gente está aqui para auxiliar. É um prazer imenso trabalhar aqui", pontua.

Onde encontrar?

O Negros Trançados está localizado na rua do Riachuelo, 105, Edif. Círculo Católico, loja 7. 

Por muito tempo, ser negro e fazer sucesso para Allefy Gonçalves, de 28 anos, eram realidades que não andavam juntas. Nascido e criado no bairro do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, foi preciso vivenciar a dor do racismo para que o jovem começasse a enxergar as possibilidades que se desenhavam em sua frente.

Em 2015, aos 15 anos de idade, uma de suas irmãs - que alisava o cabelo desde os 7 anos -, teve que passar por um corte químico. Ela acabou se vendo encurralada por racistas que não enxergavam beleza numa preta em fase de transição. 

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Todas as ofensas sofridas por ela acarretaram na tristeza e no choro diário por vergonha de si mesma. “A gente percebeu que ela estava sofrendo bastante com isso e eu queria, de certa forma, tentar inibir essa situação que estava sendo muito ruim para ela que nem conseguia sair de casa e sofria muito bullying na escola”, detalha Allefy.

Na busca de alternativas que ajudassem a mudar essa realidade, o rapaz começou a estudar o que poderia fazer para ajudar a sua irmã e encontrou uma gama de processos que poderiam, ao menos, diminuir o sofrimento da pequena. Mas até neste momento, o preconceito se fez presente. 

Uma das possibilidades mais viáveis eram as tranças, mas a irmã não queria fazer, tinha vergonha: temia ser, ainda mais, o motivo de chacota para as pessoas, já que as tranças, na época, eram mais comumente usadas em pessoas que integravam as religiões de matriz africana. 

Pollyanna Gonçalves, 25 anos, uma das irmãs de Allefy, trabalha com ele no Maria Cacheada

“Tinha muito preconceito na comunidade. Mas eu entendi que trança é um cuidado, um tratamento. Então eu comecei a conscientizá-la e falei que se ela não gostasse tiraria na mesma hora. Ela se transformou em uma outra pessoa, completamente empoderada e começou até a ser mais notada pelos outros”, detalha Allefy.

Com um espelho quebrado e uma cadeira de segunda mão, o jovem montou um salão de beleza e decidiu mudar, literalmente, a cabeça de diversas meninas de sua comunidade que poderiam estar passando pelo mesmo problema. Foi no primeiro passo dado junto com sua irmã que ele encontrou a oportunidade de se tornar um afroempreendedor de destaque, fazendo tomar forma o “Maria Cacheada”.

Não demorou muito para que Allefy conseguisse crescer dentro da sua comunidade. Com o dinheiro entrando em caixa, ele pôde comprar novos espelhos e cadeiras. Em 2017, a demanda foi tamanha que ele decidiu voar: alugou um ponto nas proximidades do Sítio Trindade, no bairro de Casa Amarela, e já estava empregando outras cinco pessoas pretas.

Mas veio a pandemia da Covid-19 no início de 2020 e mudou a realidade de todos os brasileiros. Como de costume, foi na dificuldade que Allefy encontrou a possibilidade de se reinventar. Em 2021, no auge dos casos do novo coronavírus, com um pouco mais de R$ 2 mil, começou a investir no que se tornaria a MC Cosméticos, uma linha de produtos para os cabelos crespos e cacheados. 

Segundo o empresário, foi essa linha de produtos, fabricados no Espírito Santo, que segurou as pontas e manteve tanto os colaboradores, como a família Gonçalves.

Conheça mais no vídeo a seguir

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Atualmente o Maria Cacheada está localizado na Rua Conselheiro Portela, 665, bairro do Espinheiro. Todos os produtos mostrados no vídeo podem ser adquiridos por meio das redes sociais da MC Cosméticos.

Maioria da população do Brasil, negros e negras representam 56% dos brasileiros. No empreendedorismo, de acordo com um estudo realizado pela plataforma Movimento Black Money, aponta que 51% dos empreendedores são negros. Mesmo assim, devido ao racismo estrutural, esses trabalhadores são colocados em um lugar de pouco protagonismo e, muitas vezes, de invisibilidade.

Na tentativa de ocupar cada vez mais espaços, não apenas no empreendedorismo, a Futuro Black, iniciada em 2021, funciona como banco de talentos, assim como, de fontes profissionais negras. A iniciativa reúne cursos, palestras e consultorias destinada a pessoas negras e tem como principal premissa "não naturalize nossas ausências".

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Em entrevista ao LeiaJá, a Co-fundadora da Futuro Black, Dayse Rodrigues, explica que o banco de talentos, atualmente, contabiliza mais de 400 cadastros com profissionais de diversas áreas. “O banco de talentos não conta apenas com empreendedores. Temos também médicos, tatuadores, fotógrafos, entre outros”.

Após participação de empreendedores cadastrados na Fenahall, no início deste ano, a Futuro Black promove a 1ª feira de afroempreendedorismo de Pernambuco nos dias 7, 8 e 9 de abril. O evento é realizado na Casa Estação da Luz, localizada em Olinda, Região Metropolitana do Recife, e reúne 10 afronegócios, conta com rodas de conversa, lançamento de livro e atrações artísticas. A entrada é gratuita.

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Expositora na feira, Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. "No início da pandemia, eu trabalhava como auxiliar de farmácia, mas fui demitida e passei um tempo trabalhando, ajudando minha mãe. Comecei com os vasos, muita gente começou a cultivar plantas nesse tempo. Comecei com pouco e , de repente, estava com um estoque", conta Fernanda que descobriu também, no final de 2021, o talento para pintura.

Integrante da Futuro Black desde o início deste ano, Fernanda fala com orgulho sobre a iniciativa. "Aqui é um ajudando o outro. Graças a Deus, é um dando apoio ao outro. A palavra que resume minha participação na Futuro Black é 'gratidão'. É bem gratificante fazer parte desse espaço e estar junto com todos aqui", ressalta.

Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

A maternidade foi a responsável pela a entrada no empreendedorismo de Ana Paula, dona da marca Afromatrena, e Maria de Jesus, do Ateliê Mãos de Fada. Apostando em itens que trazem a essência da negritude, ela também passaram a fazer parte do banco de talentos no início do ano e já sentem a diferença em seus negócios. 

“É um reconhecimento sem igual em todos os sentidos, de quem nos conhece e de quem passa a nos conhecer. Porque até então tudo é para os brancos, tudo só os brancos podem, tudo só nos brancos ficam bonito. E só o que nos resta é, como se diz, é o que os brancos não querem. Isso está mudando e está mudando radicalmente. Estamos tendo espaço, estamos tendo voz e a feira já é uma resposta”, expõe Maria de Jesus à reportagem.

Maria de Jesus (à esquerda) e Ana Paula (direita).  Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

 

A partir desta sexta-feira (18), o Grupo de Estudos de Pesquisa e Autobiografia, Racismo e Antirracismo (Gepar), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), realizará a Feira Umba de Pretos e Negócios. O evento serguirá até o dia 20 deste mês, das 10h às 20h, durante os três dias de evento. 

Devido a restrição de circulação de pessoas na UFPE, em razão da pandemia da Covid-19, excepcionalmente, nesta edição, o evento será realizado no Palácio Yemanjá, localizado no Alto da Sé, Olinda, Região Metropolitana do Recife. Na feira, o público terá acesso a itens da moda afro, culinária e artesanato. 

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“A feira tem como objetivo apontar possibilidades para os alunos cotistas de superação das dificuldades financeiras a partir da produção e vendas de produtos que poderiam ser feitos por eles e seus familiares”, diz nota à imprensa. Em 2020, o evento conta com a parceria da Feira das Mulheres Pretas/Mulheres de Passarinho.

Dados obtidos através de pesquisas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) junto à Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao longo da pandemia de Covid-19, mostram que os empreendedores negros têm mais dificuldade que os brancos para conseguir crédito junto aos bancos. Da metade de maio ao final de agosto, segundo o estudo, a taxa de sucesso nas solicitações de empréstimos foi de 5% para 8%, no caso dos negros; no caso dos brancos, foi de 7% para 14%.

Os números também mostram um crescimento do número de empreendedores, tanto brancos quanto negros, que solicitaram crédito aos bancos conforme a pandemia avançava e persistia. Em maio, 39% dos empresários brancos pediram empréstimos, passando a 51% em agosto. No caso dos negros, foram 38% em maio e 50% em agosto. 

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Comparando o número de solicitações e aprovações, nota-se que os negros estão atrás: brancos tiveram 17% dos pedidos de crédito aprovados em maio e 27% em agosto, demonstrando um crescimento expressivo de 10%. Entre os empreendedores negros, o mês de maio mostrou aprovação de 14% das solicitações, enquanto no mês de agosto somente 16% dos que tentaram conseguiram crédito, um crescimento de 2%. Olhando isoladamente o mês de agosto, 65% dos empreendedores negros que solicitaram empréstimos tiveram o crédito negado. Brancos foram 58%.   

Contas vencidas

As pesquisas apontaram para uma redução das dívidas em atraso tanto para brancos (38% em maio, 30% em agosto) quanto para negros (46% em maio, 37% em agosto). A utilização de recursos do governo como suspensão de contrato de trabalho, redução de jornada/salários e férias coletivas, segundo o estudo, é mais alta entre empresários brancos. 

Desemprego como motor

Outra pesquisa, a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2019, mostrou que 88% dos "Empreendedores Iniciais" começaram um empreendimento devido à "escassez de empregos". Para o Sebrae, esse número deverá aumentar, em especial entre jovens, mulheres e negros. 

No caso do último grupo, os dados mostram que negros têm negócios menores, mais recentes, com menos infraestrutura e recursos. A escolaridade é outro ponto de desvantagem para negros: 47% dos negros têm superior incompleto/completo contra 66% dos brancos.

Taxa de desocupação no 2ª trimestre de 2020

Por raça ou cor

* Pretos e pardos - 15,8%

* Brancos - 10,4%

Por sexo

* Mulheres - 14.9%

* Homens - 12%

Redes sociais e permanência em casa

A pesquisa mostrou queda na diferença entre os dois perfis no uso das redes sociais como ferramenta de negócio. Já no que diz respeito a trabalhar de casa devido à Covid-19, a lógica se inverte. Os empreendedores negros trabalhando em casa são 34% contra 30% dos brancos. O otimismo sobre a duração da pandemia é também maior entre os negros, que estimam um retorno à normalidade em cerca de 10,9 meses, contra 11,7 para os empresários brancos.

Em função do contexto histórico da escravidão, a população negra teve menos acesso à educação e renda, ocasionando percentuais elevados de subemprego e de desemprego, fazendo também com que essas pessoas empreendessem principalmente motivadas pela necessidade, comenta Adriana Moreira, criadora da Feira Preta, evento que reúne empreendedores e consumidores majoritariamente negros.

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No Brasil, o 20 de novembro, aniversário de Zumbi dos Palmares, marca o Dia da Consciência Negra, data em que se levantam discussões a respeito dos impactos do racismo na sociedade brasileira, altamente marcada pela escravidão negra. Nesse contexto, o afroempreendedorismo, nome dado ao empreendedorismo de pessoas negras, vem crescendo nos últimos anos junto a outras formas de ativismo antirracista. 

De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro da qualidade e produtividade (IBQP), Sebrae e GEM 2019, a taxa total de empreendedores (TTE) no Brasil entre pretos ou pardos é maior do que a de brancos: há 39% de empreendedores totais, 23,1% de empreendedores iniciais, 15,7% de novos empreendedores, 8,1% de nascentes e 16,5% de empreendedores estabelecidos pardos ou pretos. Quando se trata de empreendedores brancos, os mesmos índices são de, respectivamente, 37,8%, 23,6%, 16,1%, 7,9% e 15,2%.

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Apesar disso, 27,1% dos empreendedores negros começam um negócio movidos pelo desemprego. Há ainda uma parcela de 1,3% que afirma empreender para “fazer a diferença no mundo”. No que diz respeito à renda, 20% dos pretos ou pardos ganham mais de 2 até 3 salários mínimos, 22% recebem mais de 3 até 6 salários mínimos e 8% ganham mais de 6 salários.

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