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Quarenta dias após proibir a comercialização de qualquer tipo de pomada modeladora de cabelos, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), liberou, nesta segunda-feira (20), a venda de 930 produtos do tipo. Mais de 1.500 permanecem irregulares.

A volta dessas marcas ao mercado ocorre depois que a agência reguladora investigou uma série de ocorrências em usuários das pomadas, utilizadas para trançar, modelar ou fixar cabelos. Foram registrados casos graves de lesões nos olhos, devido à intoxicação por um dos componentes dos produtos. Houve aumento de procura pelas emergências oftalmológicas devido à alta intoxicação no olhos, que chegou a levar à cegueira temporária, em alguns casos. Em contato com os olhos, o produto pode provocar queimaduras na córnea.

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A lista completa das marcas liberadas nesta segunda está disponível no site da Anvisa, na internet. As que não forem citadas continuam com a venda interditada porque mostraram concentração da substância causadora das irritações oculares, acima de 20%.

Durante toda a investigação da Anvisa, sobre os diversos casos de irritações nos olhos, mais de 600 processos de regularização de pomadas do tipo foram cancelados. Foram analisadas cerca de 2.500 marcas de modeladoras. Segundo a reguladora sanitária, já foram canceladas mais de 630 autorizações de venda dessas pomadas, desde o início do ano, por diversas irregularidades, como conterem ingredientes proibidos, acima do limite.

O ano era 2015. Cansado de ter o seu potencial desacreditado e cheio de força de vontade para dar a volta por cima, Eduardo Oliveira, 25 anos, decidiu que havia chegado a hora de empreender. Com talento, mas sem recursos, conseguiu convencer o seu namorado Isaias Santana, 22 anos, a investir o pouco dinheiro que tinha no seu negócio. 

Na época, foi o suficiente para que o casal comprasse alguns cabelos sintéticos para atender a demanda que chegava. Na cozinha de uma casa bastante simples, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, eles começaram a dar forma ao “Negros Trançados”. 

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Como não poderia ser diferente, enfrentaram muita dificuldade para fazer o negócio decolar. Além dos poucos recursos, tiveram que bater de frente com o racismo das pessoas. Quando a gente começou, o pessoal falava: ‘olha, aqueles meninos que trabalham com o cabelo de boneca’. Era um preconceito que a gente passava junto com o pessoal que usava [o cabelo sintético]”, lembra Eduardo. 

Isaías também recorda que durante bom tempo, alguns clientes pediam para não ficar “parecendo com uma ‘nega maluca’, associando o cabelo crespo dela a algo que foi imposto no passado”, diz.

Dois anos de persistência e superação foram suficientes para que o casal afroempreendedor transformasse o Negros Trançados em algo maior. Em 2017, conseguiram sair da cozinha e alugar uma loja no local mais movimentado da comunidade. No entanto, mantendo os pés no chão e buscando novidades para os seus clientes, queriam investir em algo maior. Não queriam só fazer tranças na Bomba do Hemetério, o sonho agora era se tornar referência na venda - em atacado e varejo - de cabelos sintéticos, naturais, orgânicos e perucas. 

“Nós trouxemos uma diversidade para melhorar a visão que tinham sobre os apliques de descendência afro. Isso proporcionou o nosso crescimento”, garante Eduardo. 

E conseguiram. 2019 foi o ano em que os afroempreendedores alçaram novos voos e  tiveram como direção a área central da capital pernambucana. Quem começou com poucos pacotes de cabelos num salão improvisado, hoje conta com três lojas, sendo uma para a venda dos produtos, um salão de beleza e uma loja que serve apenas para estocar as mercadorias. 

Tudo isso para atender cerca de 100 clientes que passam pela loja e salão todos os dias. Para dar conta de tudo e oferecer a maior variedade possível, o casal acredita ter disponível cerca de cinco toneladas dos mais diversos tipos de cabelos. ”A vontade é crescer ainda mais”, garantem.

Saiba mais sobre Eduardo, Isaias e o seu Negro Trançados

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Preto que cresce, não cresce sozinho

Segundo último levantamento do SEBRAE, 10% dos afroempreendedores do Brasil são responsáveis por empregar entre 6 a 19 pessoas. Isaías e Eduardo fazem parte desse grupo seleto, já que 8 pessoas pretas trabalham no Negros Trançados atualmente. Três delas com a Carteira de Trabalho assinada e as outras cinco colaborando como pessoas jurídicas.

O casal está possibilitando mais trabalho que 7% dos empreendedores brancos do país. 

“Isso também agrega para que o nosso crescimento seja voltado ao público periférico e jovens que a gente dá muita oportunidade”, destaca Isaias Santana. 

“Eu olho para trás e vejo todo o percurso que a gente percorreu, com estoque pequeno e apenas uma pessoa trabalhando. Hoje, a gente tem uma equipe. Ver todo esse crescimento é muito emocionante e todo meu esforço foi válido”.

Negros trançados possibilitou oportunidades para Francielly. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Francielly Carvalho, 21 anos, foi a primeira funcionária trancista do Negros Trançados. Para a jovem, fazer parte da equipe colaborou na autoaceitação. Mas nem sempre foi assim. Francielly lembra que a primeira vez que teve o cabelo alisado com produtos químicos foi aos 10 anos e durou por boa parte de sua adolescência. 

Tanto alisamento resultou na queda dos seus cabelos. A partir daí veio a transição. "Eu tinha muita vergonha. Eduardo sempre dizia para eu colocar o cabelo, mas eu tinha muita vergonha do que iriam achar", destaca.

A parceria com o Negros Trançados facilitou que a trancista não só entendesse e aceitasse os seus traços, como a colocou em uma situação de destaque, sendo uma das responsáveis por auxiliar que outras garotas se enxerguem e contemplem a própria beleza negra. 

"É muito satisfatório trabalhar nessa área. Chega muita gente triste, com muito desânimo. Mas a gente está aqui para auxiliar. É um prazer imenso trabalhar aqui", pontua.

Onde encontrar?

O Negros Trançados está localizado na rua do Riachuelo, 105, Edif. Círculo Católico, loja 7. 

Trançar o cabelo é uma técnica antiga. Deusas, sacerdotisas gregas, europeias da Idade Média e mulheres africanas já adotavam o estilo em épocas passadas. No século XXI, no Brasil, as tranças são sinônimo de versatilidade, praticidade e elegância e se popularizaram no período de São João. As tradicionais trancinhas de matuta, fáceis de fazer, têm seu público feminino cativo.

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Mas foi pensando em fugir do trivial que o LeiaJá propõe um passeio pelo universo das tranças, explorando diferentes possibilidades e estilos. É possível variar, bagunçar, juntar várias tranças em uma só, embutir e criar novas maneiras de experimentar as tranças mais convencionais.

Ítalo Leandro Tavares, 19, é estudante de moda, mas trabalha com penteado há quatro anos. Ele costuma atender de 10 a 15 clientes por dia querendo fazer tranças no período de São João. “A maioria delas chega aqui no salão querendo a trança mais convencional, a de matuta ou a de raiz. Aí eu as convenço a variar, fazer algo diferente”, afirma Ítalo.

As possibilidades de trança são inúmeras: tranças de raiz, também chamada de embutida, espinha ou escama de peixe, afro, francesa, xale, coque envolvido com trança. A trança também pode ser feita só em uma parte do cabelo, deixando ele meio solto, em forma de tiara e também de forma mais simples, soltinha, dando aquele ar de “arrumado desarrumado”.

A estudante Renatta Maciel, 22, vê a trança como uma alternativa para deixar o cabelo diferente, fugindo do estilo “solto de todo dia”. “Não tem jeito de ficar feio. Trança embeleza o cabelo de todo jeito”, afirma. Renatta é adepta dos estilos embutida invertida e espinha de peixe. Segundo ela, a primeira opção deixa a trança mais elevada, se sobressaindo do cabelo. “E a vantagem da espinha de peixe é que ela é uma das poucas que dá um estilo diferente na trança, deixa ela mais fininha e delicada”, comentou.

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A aparência da trança embutida é semelhante a da trança comum. Porém, ela sai do alto da cabeça e tem os fios entrelaçados mecha a mecha. Uma variação deste estilo é a trança embutida invertida, feita lateralmente. Ela foi usada pela vice-primeira dama Marcela Temer, durante a posse da Presidente Dilma Roussef. A espinha de peixe também dá pra variar entre a trança atrás da cabeça ou de lado. Este estilo causa um efeito diferente, pois é trançada com duas mechas iniciais. Confira o passo a passo que o LeiaJá preparou, ensinando como fazer os dois estilos de trança:



Cuidados

Os cuidados com o cabelo na hora de decidir fazer uma trança são fundamentais. Não adianta montar o penteado e sair na rua sem tomar as devidas precauções. Segundo Leandro Tavares, o cabelo deve estar limpo e bem escovado, não muito liso ou chapado, pois dificulta o movimento do cabelo na hora de fazer a trança, comprometendo a união dos fios. É importante não abusar dos cremes para não deixar os fios oleosos e pesados. O cabelo deve estar balanceado. Se o cabelo for crespo, há a necessidade de fazer chapinha, dependendo do tipo de trança.

Alguns materiais são necessários para garantir um bom resultado: uma escova ou pente de dentes largos e um elástico de cabelo. Os grampos, presilhas ou fitas de cabelo são opcionais. O spray também fica a cargo da pessoa. Leandro aconselha a pomada para unir os fios ou um laquê seco que deixa o cabelo mais natural ao invés de muito duro.

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